Ensino de matemática: o problema pode estar na formação dos professores

 


O ensino de matemática no Brasil continua a ser um desafio, com um número expressivo de estudantes aquém do esperado. Dados recentes do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de 2023 revelam que 73% dos alunos brasileiros ficaram abaixo do nível mínimo em matemática, contrastando com a média de 31% dos países da OCDE. Essa realidade, longe de ser exclusiva do Brasil, aponta para uma necessidade urgente de repensar tanto a didática da disciplina quanto a formação de pedagogos e licenciados.

Muitas vezes tida como uma das matérias menos favoritas, a matemática tem suas dificuldades enraizadas não na disciplina em si, mas na metodologia adotada historicamente. 

Antonio Miguel, professor da Unicamp, argumenta que o fracasso reiterado na aprendizagem da matemática se deve ao fato de que, de fato, não se ensina “matemática” nas escolas, mas sim “filosofias da matemática”. Ele exemplifica que reduzir a geometria à simples identificação de formas ou a matemática à mera contagem limita a compreensão de uma prática cultural vasta, profundamente ligada à resolução de problemas cotidianos e históricos, desde a agricultura ao comércio.

O diagnóstico: raízes da dificuldade

A lacuna na aprendizagem é escandalosa: em 2021, o Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) indicou que apenas 37% dos alunos do 5º ano atingem o nível esperado em matemática, um número que despenca para meros 5% ao final do ensino médio. Miguel Ribeiro, coordenador do CIEspMat, destaca que essa dificuldade é transversal no país, independentemente do contexto, e tem como cerne a falta de uma discussão efetiva e reflexiva sobre a matemática com os alunos. Ele observa que a prática pedagógica frequentemente se centra no “saber fazer” e na busca pela resposta correta, negligenciando o “porquê”.

Um dos maiores entraves, que persiste há mais de um século, é a “dupla descontinuidade”, termo cunhado pelo matemático alemão Félix Klein, em 1908. Essa desconexão entre a matemática ensinada nas licenciaturas, o que os futuros professores viram na educação básica e sua futura prática profissional, permanece um cenário atual. Etienne Lautenschlager, professora da UFRN, e Letícia Rangel, do CAP-UFRJ, concordam que a formação docente é o coração dessa mudança. Há um consenso de que os currículos de pedagogia oferecem pouco espaço para a matemática, enquanto as licenciaturas na área frequentemente negligenciam a didática. Como ressalta Letícia Rangel, é crucial que o professor possua um conhecimento matemático específico para a docência, distinto daquele necessário para engenheiros ou matemáticos, focando em como aplicar os conceitos e atribuir-lhes significado.

O caminho para a transformação

Para tornar a matemática interessante e significativa, educadores propõem uma revolução na abordagem. Miguel Ribeiro defende a integração de experiências sociais e culturais como ponto de partida para o debate em sala de aula, incentivando o pensamento crítico e a compreensão de como a matemática pode intervir e transformar o contexto social. A disciplina, embora complexa, não precisa ser chata; é fundamental atribuir significado aos conceitos e estimular a reflexão, indo além da mera execução de operações.

A chave para superar essas barreiras está na formação contínua dos professores. Letícia Rangel e Miguel são enfáticos ao afirmar que os quatro anos de graduação não são suficientes para preparar um educador para todos os desafios da educação básica, sendo a prática diária em sala de aula fundamental para a consolidação de suas habilidades. Eles sugerem que programas de aprimoramento são essenciais para capacitar os docentes a inovar e a superar seus próprios “traumas” com a disciplina.

Em 2023, o governo federal lançou o Compromisso Nacional Toda Matemática, buscando dar à disciplina o mesmo protagonismo alcançado pela alfabetização. Iniciativas do MEC, como webinários, o Clube de Letramento Matemático, e uma escuta nacional de professores realizada em março de 2024, visam colher percepções e experiências dos educadores para fundamentar a criação de políticas públicas eficazes. A mudança, como aponta Kátia Schweickardt, secretária de educação básica do MEC, precisa ser construída a partir da voz e da vivência dos profissionais que atuam em sala de aula. A transformação do ensino de matemática é um ciclo que exige conscientização da comunidade científica, valorização da prática docente e um investimento constante na capacitação dos formadores.

Fonte: O Antagonista

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