Pão, circo e milhões em cachê: o São João da contradição

 

Foto produzida pelo TMNews do Vale com auxilio da ferramenta I. A
(*) Taciano Medrado


Pão, circo e milhões em cachê: o São João da contradição


Em pleno século XXI, a política do “pão e circo” segue mais viva do que nunca em terras baianas. Mas com uma diferença: agora o pão anda escasso, enquanto o circo virou um espetáculo de milhões. Literalmente.


É o que se observa em diversas cidades da Bahia, que, mesmo sob decretos oficiais de emergência — por seca, estiagem, colapso nos serviços públicos — resolveram soltar fogos, acender balões e torrar cifras astronômicas com shows de São João. Artistas do cenário nacional recebem cachês milionários enquanto os postos de saúde padecem, as escolas funcionam aos trancos e a zona rural implora por água potável.

Segundo dados do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sinpdec), realizado pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, três cidades baianas que estão entre as 15 que mais gastaram dinheiro com cachês em 2025 possuem decretos de emergência ativos por estiagem:
  • Senhor do Bonfim, no norte do estado, torrou R$ 5,33 milhões;

  • Quijingue, com R$ 5,25 milhões;

  • Tucano, com R$ 4,29 milhões.


A cidade de Juazeiro, no norte da Bahia, que também enfrenta problemas estruturais, ainda não divulgou oficialmente os valores, mas é possível acompanhar os gastos no painel de monitoramento do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), que exibe os investimentos em festas juninas em todos os municípios do estado. Uma verdadeira farra fiscal com trilha sonora e trio elétrico.

É a velha e surrada “política do pão e circo”, só que agora reformulada: sem o pão, mas com muito circo. Afinal, como esperar sensatez de quem vê na festa uma oportunidade de “lavar a alma” — e, quem sabe, mais alguma coisa?

Enquanto isso, os hospitais municipais seguem funcionando com insumos vencidos, o matadouro da cidade está fechado por falta de estrutura e as estradas vicinais têm mais buraco que as promessas de campanha. Mas, segundo os gestores, tudo vale a pena “porque aquece a economia local”. Claro, especialmente a economia dos escritórios de empresários de artistas sertanejos e forrozeiros.

A cereja do bolo (ou seria a espiga do milho?) é a justificativa oficial: “Estamos promovendo cultura e turismo.” Interessante como a cultura só parece torrrar em junho, e o turismo se resume a selfies com o cantor famoso enquanto os serviços públicos se afogam no descaso.

Como bem diz o bordão: “Em terra onde falta o feijão, sobra Safadão.” E assim seguimos, com gestores que acham que governar é contratar banda e fazer selfie no camarote, enquanto os problemas reais — que não dançam nem fazem trio — seguem no esquecimento.

Que o povo acorde antes da ressaca.

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(*) Professor e analista político

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