Enquanto o apito ecoa nos estádios da Europa, o futebol segue sua jornada como espetáculo global, e a velha máxima volta à tona: o futebol europeu ainda é um modelo para o mundo? A resposta, embora incômoda para muitos torcedores apaixonados de outras partes do planeta, especialmente da América do Sul, é sim. Mas é um “sim” que precisa ser debatido, questionado e, acima de tudo, contextualizado.
Na tarde desse domingo (29), o mundo inteiro assistiu ao confronto pelas oitavas de final da Copa do Mundo de Clubes, entre dois times com estilos de futebol diferentes. De um lado, representando o futebol sul-americano, estava o Clube de Regatas Flamengo; do outro, o Bayern de Munique, simbolizando o que há de mais refinado no futebol europeu.
Independentemente do resultado, uma coisa ficou clara e indiscutível: o futebol europeu serve de manual para todos os demais países do mundo. Por que afirmo isso?
Mesmo vencendo a partida com folga, o time alemão manteve a pressão alta, sufocando o time brasileiro. Não mudou um centímetro do seu estilo. Ao contrário dos times da América do Sul — onde, basta estar vencendo por um magro 1 x 0 e já se baixa a guarda e recua. Querem ter um exemplo? Analise os jogos do Campeonato Brasileiro: quantas partidas são decididas já nos acréscimos do árbitro, por pura falta de consistência, controle e mentalidade competitiva?
Não se trata apenas da bola rolando dentro das quatro linhas. O domínio europeu vai muito além dos gramados. Ele se sustenta em pilares que incluem organização, planejamento a longo prazo, investimentos estruturais, valorização da base, transparência administrativa (ainda que não isenta de escândalos), marketing eficiente e uma cultura esportiva que não tolera o amadorismo. Clubes como Bayern de Munique, Real Madrid, Manchester City e Paris Saint-Germain não são apenas times de futebol — são empresas globais, marcas que movimentam bilhões e moldam narrativas.
Enquanto isso, em países como o Brasil, Argentina e outros tradicionais centros do futebol, ainda nos debatemos com dirigentes que confundem futebol com política de quinta categoria, campeonatos estaduais esvaziados de sentido, calendário insano e estádios sem estrutura. O talento, que brota naturalmente, continua sendo desperdiçado por falta de estrutura e gestão. Somos celeiro de craques, mas incapazes de manter nossos talentos por mais de uma temporada — exportamos promessas e importamos frustrações.
Há quem diga que o futebol europeu sufoca o resto do mundo com seu poderio econômico. É verdade. Mas não há como ignorar que esse poder foi construído também com base em escolhas que outras regiões do planeta se recusam a fazer. O modelo europeu aposta na modernização constante, enquanto muitos clubes sul-americanos ainda vivem de glórias passadas, estádios caindo aos pedaços e discursos emocionais que não enchem cofres nem vencem jogos.
Não é à toa que o Mundial de Clubes da FIFA, mesmo ampliado, tende a ser dominado por europeus. As zebras sul-americanas já não assustam mais como antes. O que antes era batalha de gigantes virou, muitas vezes, jogo de um time só. A distância entre os dois mundos do futebol cresce, e a sensação de que “o futebol moderno não nos pertence mais” se instala no inconsciente do torcedor.
Mas nem tudo está perdido. Ainda há tempo para repensar, profissionalizar, investir e fazer diferente. O futebol europeu pode continuar sendo uma referência, mas não precisa ser uma condenação. Podemos aprender com o modelo sem abrir mão da identidade. Mas para isso, é preciso parar de romantizar o passado e começar a planejar o futuro.
Porque, enquanto continuarmos disputando clássicos em campos esburacados, com salários atrasados e dirigentes folclóricos, o futebol europeu não será apenas um modelo — será o único modelo.
TMNEWS DO VALE – Porque futebol também é política, cultura e reflexão.
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