(*) Taciano Medrado
Olá, caro leitor! Vamos começar esta reflexão com um sábio conselho da vida adulta, geralmente sussurrado por avós, professores e até psicólogos de plantão: “Nunca prometa o que não pode cumprir.” Mas, ah, como esse mandamento perde força quando atravessa as portas dos palanques! Aparentemente, ele foi revogado no mundo mágico da política, onde prometer o impossível é quase um pré-requisito para o cargo.
Se você é uma pessoa comum, do tipo que promete ajudar um amigo na mudança e realmente aparece com caixa, fita adesiva e pizza no final, parabéns: você é um raro espécime em extinção. Mas, por favor, não se aventure na política. Lá, honestidade com a palavra não é uma virtude — é uma fraqueza.
Político que se preze sabe: a arte está em prometer mundos e fundos, entregar um panfleto e desaparecer no primeiro sinal de cobrança. Eles prometem hospitais onde não há sequer ambulância, escolas de tempo integral onde mal se tem giz, creches futuristas, passarelas aéreas, túneis sob o rio e, claro, empregos em abundância — desde que seja para os amigos do gabinete, claro.
E o mais fascinante é que essa habilidade não nasce com o indivíduo: ela é treinada, lapidada, aperfeiçoada. Cursos de oratória, marqueteiros, slogans geniais e jingles que grudam como chiclete vencido no sapato. Tudo para que a promessa tenha o brilho necessário para hipnotizar o eleitor médio, aquele que ainda acredita que o político "vai fazer diferente dessa vez".
Aliás, vale lembrar: prometer não custa nada. Cumprir, sim. Cumprir exige orçamento, planejamento, competência... E quem precisa disso quando se tem uma boa desculpa pronta, uma coletiva de imprensa com café e biscoito, e um culpado de estimação chamado “gestão anterior”?
No mundo real, se você promete pagar uma dívida e não paga, o nome disso é calote. Na política, é “revisão de metas do plano de governo”. Se você promete um jantar romântico e entrega um miojo, corre o risco de dormir no sofá. Já o político promete o fim da fila do SUS e entrega um mutirão com foto e faixa: “Saúde em ação!”. E ainda ganha voto.
E cá entre nós, é um talento e tanto. Não é qualquer um que consegue dizer, com a cara mais limpa do mundo, que vai resolver todos os problemas de uma cidade em quatro anos — sendo que nos últimos quatro sequer soube onde ficava o bairro mais pobre. E, o mais impressionante: dizem isso rodeados por aplausos, fogos de artifício e senhorinhas animadas abanando bandeirinhas com o rosto do candidato sorrindo.
Mas cuidado, leitor. Se você, reles mortal, ousar prometer algo e falhar, será chamado de irresponsável, mentiroso, traidor. Vai perder a confiança da sogra, dos amigos e talvez até do cachorro. Já o político, quando não cumpre, é visto como “vítima do sistema”, “engessado pela burocracia”, ou “traído pela base”. Bonito, né?
Então, meu caro e minha cara leitora... da próxima vez que alguém te cobrar por uma promessa não cumprida, respire fundo e diga com serenidade: “Deixe isso para os profissionais. Deixe para os políticos.” Afinal, eles sim sabem como prometer o céu, entregar uma nuvem e ainda sair por cima — com aplausos, selfie e hashtag.
E você? Já caiu em alguma promessa política ultimamente? Ou já pensou em se candidatar e colocar em prática o manual da promessa vazia?
Fica a dica: na política, quem promete não precisa cumprir. Só precisa convencer. E nisso, meus amigos, eles têm pós-graduação.
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(*) Professor, Psicopedagogo e Analista Político
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