Futebol e identidade latino-americana




(*) Teobaldo Pedro

Na Copa do Mundo Interclubes da FIFA chamou atenção o fato de torcedores de diferentes países da América Latina que normalmente são rivais se unirem para apoiar seus clubes contra os europeus. Isso vai além da disputa esportiva e reflete um sentimento de identidade cultural e pertencimento continental. Torcer por um time da região diante de um adversário europeu é uma forma de afirmar o valor do futebol latino-americano especialmente num cenário em que o poder financeiro a mídia e a estrutura do futebol europeu são muito superiores. Para muitos especialistas esse apoio coletivo é também uma reação simbólica às heranças coloniais e à hegemonia econômica e cultural que ainda molda a posição dos clubes do sul global no cenário esportivo internacional.

Por outro lado essa atitude tem suas contradições. Muitos torcedores que se unem por orgulho regional durante os confrontos internacionais no dia a dia acompanham ligas europeias com entusiasmo vestem camisas de clubes estrangeiros e até torcem por seleções de fora da América Latina. Essa ambiguidade mostra que a solidariedade continental é muitas vezes pontual impulsionada por contextos específicos enquanto o fascínio pelo futebol europeu permanece como uma presença constante. A relação entre consumo cultural e identidade revela que a chamada síndrome do colonizado ainda resiste em práticas comuns do cotidiano mesmo entre aqueles que se dizem orgulhosos da cultura local.

Esse comportamento das torcidas expõe uma mistura complexa de orgulho resistência e fragilidade identitária. Ao mesmo tempo em que celebram o futebol como expressão de sua cultura muitos torcedores latino-americanos enfrentam o desafio de equilibrar a admiração por modelos estrangeiros com o reconhecimento do próprio valor. Isso se conecta a algo maior que o futebol a uma necessidade humana de pertencimento e reconhecimento. Valorizar a própria história cultura e modos de vida é essencial para a construção de autoestima coletiva e de um senso mais forte de identidade diante de um mundo cada vez mais globalizado e padronizado.

Fortalecer esse autorrespeito é um passo fundamental para que comunidades desenvolvam relações mais equilibradas com outras culturas sem abrir mão de suas raízes. Esse processo exige consciência crítica sobre o valor daquilo que é próprio e uma abertura cuidadosa para o que vem de fora sem submissão simbólica. A contradição entre torcer contra a Europa num dia e vestir sua camisa no outro é o retrato de um conflito interno que vai além do esporte e toca o modo como nos vemos no espelho da história. Valorizar o que é nosso com consciência e segurança é um convite à liberdade de ser e de se reconhecer em todas as nossas dimensões. Inclusive no futebol.

(*)  É pastor evangélico há 30 anos e tem forte atuação na área social do Vale do São Francisco, desenvolvendo diversas ações nesse segmento há três décadas, tendo sido parceiro na criação de vários projetos de inclusão em Juazeiro e região. Ele tem formação em Teologia, Psicanálise Clínica, Educação Religiosa e Filosofia. Fez especialização em Radialismo, atuando por vários anos na área. É também professor e escritor. Em 2013, ganhou o título de Dr. Honoris Causa pela Genesis University. Colunista do TMNews do Vale (Blog do professor Taciano Medrado)


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