Conforme envelhecemos, começamos a acreditar apenas no que queremos

 


(*) Taciano Medrado

Com o passar do tempo, nossos olhos já viram mais do que gostariam, nossos ouvidos já ouviram mais do que suportam, e nosso coração já sentiu mais do que gostaria de lembrar. Envelhecer não é apenas uma mudança física. É, sobretudo, um processo silencioso de filtragem: de ideias, pessoas, certezas e ilusões. E, nesse processo, algo curioso acontece — começamos a acreditar apenas no que queremos.

Na juventude, somos esponjas. Absorvemos tudo: opiniões, verdades alheias, dogmas familiares, ideologias herdadas, conceitos que nunca testamos. Estamos em construção, e tudo parece matéria-prima útil. Somos moldados pelas experiências, mas principalmente pela necessidade de pertencimento. Queremos entender o mundo — e ser aceitos por ele.

Mas o tempo... ah, o tempo não tem pressa. Ele ensina devagar. E uma das maiores lições que ele nos dá é que nem tudo que ouvimos é verdade, nem toda verdade serve para nós, e nem toda certeza vale a paz que ela nos rouba. Então, aos poucos, vamos escolhendo o que permanece. Vamos nos dando o direito — e o alívio — de duvidar, de recusar, de simplesmente dizer: “isso não me serve mais.”

Conforme envelhecemos, não é que deixamos de aprender. Mas aprendemos a escolher o que vale a pena acreditar. Nos tornamos mais seletivos, menos impressionáveis. Já caímos em muitas armadilhas, já fomos enganados por discursos bonitos, já acreditamos em promessas vazias — e já sobrevivemos a todas elas. Por isso, passamos a ouvir com um certo filtro invisível. Não é ceticismo puro. É maturidade.

Começamos a acreditar no que nos faz bem. No que faz sentido dentro da nossa história. Às vezes, isso significa fechar os olhos para uma realidade cruel, escolher um lado emocional em vez do racional, ou sustentar uma esperança contra toda lógica. E tudo bem. Não se trata de ignorância, mas de sobrevivência emocional.

É por isso que tantas vezes vemos pessoas mais velhas insistindo em certas crenças, mesmo diante de provas em contrário. Não é teimosia pura, como muitos pensam. É que, depois de certo ponto, o que você acredita já não serve para convencer os outros — serve para te manter de pé. É o que resta quando o mundo se mostra caótico demais.

Acreditar apenas no que queremos pode parecer uma ilusão egoísta. Mas talvez seja, na verdade, uma forma de manter a sanidade. Um gesto íntimo de proteção. Afinal, viver plenamente não é sobre carregar todas as verdades do mundo, mas sobre saber quais verdades cabem dentro de nós sem nos despedaçar.

Envelhecer é, em última instância, o direito conquistado de escolher os próprios limites — inclusive os da crença. E talvez essa seja uma das maiores liberdades que a idade traz.

(*) Professor e Psicopedagogo

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