O próximo Festival Edésio Santos da Canção, realizado todos os anos em Juazeiro, no norte da Bahia, terá um concorrente de peso para os habituais vencedores – a Grande Orquestra das Muriçocas Estridentes Sibilantes de Juazeiro.
O Festival Edésio Santos é um dos patrimônios da cidade baiana, que fica localizada às margens do Rio São Francisco, e vizinha da cidade pernambucana de Petrolina, separada pela ponte Presidente Dutra. São quase 30 anos de um evento que já revelou grandes compositores, e continua atraindo novos nomes da música, fomentando esse fazer artístico em nossa região e, também, a troca de experiências com artistas de outras cidades e estados, que vêm defender suas canções. É lógico que a Orquestra de Muriçocas faça parte dessa festa cultural.
Se há algo que o Festival sempre garantiu ao público de Juazeiro — além de longos discursos e performances intensas — é a emoção de ver talentos musicais despontando entre microfonias, aplausos entusiasmados e a brisa quente do São Francisco. Mas neste ano, o festival vai ganhar um concorrente à altura: a poderosa, afinadíssima e ininterrupta Grande Orquestra das Muriçocas Estridentes Sibilantes de Juazeiro.
Sim, senhoras e senhores, enquanto cantores e bandas afinam seus instrumentos no palco principal, um exército zumbidor vai tomar conta dos bastidores e plateias, apresentando seu próprio espetáculo à capela – com direito a solos de trombeta no ouvido, batuques nas pernas e um balé aéreo que mais parece um carnaval alado. Dizem os mais experientes que as muriçocas são tão inspiradas que até improvisam uma versão alternativa de “Asa Branca”, no tom menor... do desespero coletivo.
Ironia do destino ou sinfonia da natureza? Fato é que, pela primeira vez, o Edésio Santos 2025, vai presenciar um verdadeiro duelo de talentos: de um lado, vozes humanas tentando alcançar agudos emocionantes; do outro, um buzinaço biológico que lembra uma mistura de vuvuzela com motor de ventilador quebrado.
E o júri, claro, ficará na dúvida: como ignorar o desempenho técnico da Orquestra das Muriçocas, que sequer precisa de microfone para se fazer ouvir do início ao fim do evento?
Enquanto alguns artistas precisavam de três minutos para emocionar, uma só muriçoca precisará de três segundos na orelha certa pra arrancar gritos, lágrimas e até aplausos (espalmados, é claro).
No fim das contas, o Festival seguirá seu curso, e premiará talentos, homenageando os tradições vencedores de sempre e show de organização. Mas, vamos combinar: a grande campeã da noite, aquela que invadirá sem convite, improvisando com estilo e deixando todo mundo dançando sem querer, será ela — a Orquestra das Muriçocas Estridentes Sibilantes. Aplausos (e repelente) para elas!
(*) Professor e redator-chefe
Postar um comentário