(*) Taciano Medrado
Ja é uma obra de arte digna do surrealismo político brasileiro, uma Câmara com 513 deputados, onde quantidade parece ser sinônimo de eficiência — ou ao menos é isso que querem nos convencer. Afinal, quanto mais cadeiras ocupadas, mais democracia, certo? Errado!.
A matemática aqui é outra: quanto mais gente, mais discursos vazios, mais palmas para si mesmos, mais homenagens, mais projetos irrelevantes e, claro, mais gastos públicos.
E como se já não bastasse a superpopulação de parlamentares, vem aí uma ampliação digna de Black Friday legislativa: após as eleições de 2026, a Câmara dos Deputados terá 531 deputados federais, 18 a mais que os atuais 513. É o que determina o projeto de lei complementar aprovado pelos senadores no Plenário, nesta quarta-feira (25), com 41 votos favoráveis e 33 contrários (PLP 177/2023).
Ah, mas calma! Antes que alguém se irrite com esse inchaço institucional, um detalhe técnico acalma os corações sensíveis ao orçamento: a criação e a manutenção dos novos mandatos não poderão aumentar as despesas totais da Câmara entre 2027 e 2030. Que milagre econômico! Mais gente, mais estrutura, mais assessores, mais cafézinho — tudo pelo mesmo precinho. Alguém avisa ao FMI que o Brasil inventou a multiplicação legislativa sem custo adicional.
Não importa se o deputado mal sabe articular uma ideia com sujeito, verbo e predicado. O importante é estar ali, ocupando espaço, batendo ponto (quando bate) e postando vídeos motivacionais nas redes sociais, como se isso substituísse legislar. E que maravilha: temos representantes para todos os sotaques, todas as crenças e todos os interesses — desde que sejam os deles, é claro.
E como ignorar os debates? Um espetáculo de retórica improvisada, recheado de frases de efeito, gritos histéricos e, por vezes, uma ou outra confusão digna de programa de auditório. O Brasil inteiro pagando para ver um reality show ao vivo e sem roteirista. E ainda tem quem reclame da programação da TV aberta...
Ah, mas justiça seja feita: temos leis aprovadas! Sim, como o Dia do Influencer, o mês da Consciência do Amigo do Trânsito ou a Semana Nacional do Ovo Cozido. Porque, como todos sabemos, o país precisa urgentemente de mais homenagens e menos reforma tributária.
Enquanto isso, os que realmente se preparam, estudam, elaboram projetos consistentes e pensam no bem comum, são muitas vezes ignorados — afogados em meio à multidão barulhenta e inócua que domina o plenário. Afinal, quem precisa de qualidade quando se tem um batalhão de deputados com discursos prontos e consciência ausente?
No fim das contas, a Câmara dos Deputados é o retrato fiel do nosso paradoxo político: muita voz, pouca escuta; muita gente, pouco conteúdo; muito custo (mesmo que neguem), pouco retorno.
Um verdadeiro show de quantidade… e um vexame de qualidade.
(*) Professor e analista político


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