Foto TMNews do Vale
(*) Taciano Medrado
Há uma verdade silenciosa que paira sobre todos nós: ninguém é um livro completamente aberto. Por mais que tentemos demonstrar transparência, por mais que proclamemos sinceridade, há sempre um canto da alma que se mantém trancado, uma lembrança não contada, uma dor não revelada, um desejo escondido entre os pensamentos.
"Todos têm sempre algo a esconder" — essa frase não fala apenas de segredos vergonhosos ou culpas profundas. Às vezes, o que escondemos são fragilidades. Em um mundo que valoriza força, performance e sucesso, mostrar-se vulnerável parece um risco. Então, escondemos. Sorrimos quando queremos chorar. Dizemos “está tudo bem” quando o caos mora dentro de nós. Disfarçamos o medo com arrogância, a insegurança com silêncio, e o amor... quantas vezes escondemos o amor por medo da rejeição?
Talvez esconder seja uma forma de proteção. Protegemos o que sentimos mais precioso ou mais frágil. Às vezes, guardamos uma memória boa só para nós, como se dividi-la pudesse diminuí-la. Em outras, mantemos calado um erro do passado que já perdoamos em nós mesmos, mas tememos que o mundo não perdoe.
Mas também há sombras. Há quem esconda intenções, mentiras, máscaras bem construídas. E por isso desconfiamos tanto uns dos outros. Porque sabemos — mesmo que inconscientemente — que todos têm algo a esconder, inclusive nós. E essa consciência nos torna humanos, limitados, complexos.
Contudo, esconder não é sempre sinônimo de falsidade. Em muitos casos, é um ato de sobrevivência emocional. É preciso sabedoria para perceber quando estamos escondendo algo para nos proteger, e quando estamos nos escondendo de nós mesmos. A diferença é sutil, mas fundamental.
Talvez a reflexão mais importante seja: o que temos escondido de nós mesmos? Que parte de nossa história deixamos de olhar com honestidade? Que sentimentos ignoramos por medo do que eles possam nos dizer? Que sonhos engavetamos, que vontades sufocamos, que voz interior silenciamos?
Aceitar que temos coisas a esconder pode ser o primeiro passo para lidar com elas. Não é preciso contar tudo a todos, mas talvez devêssemos começar a contar a verdade, pelo menos, para nós mesmos.
No fim, ser humano é isso: carregar mistérios, memórias e segredos — uns leves, outros pesados — mas nunca deixar de se perguntar por que os carregamos. O autoconhecimento não exige que você revele tudo ao mundo, mas que aprenda a não se esconder de si.
(*) Professor e Psicopedagogo
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