Professor, um ser em extinção



(*) Taciano Medrado


Depois de mais de 30 anos dedicados a educação a partir de 2019, aproveitando a crise causada pela pandemia do novo Coronavírus, decidi abandonar as salas de aula na modalidade presencial. Mas esse não foi o principal motivo, mas o pretexto que esperava para cair fora.

È certo que vivemos em uma era de transformações rápidas, onde a tecnologia avança a passos largos, moldando comportamentos, profissões e até relações humanas. Um caminho sem volta. Porém, em meio a tantas mudanças, uma figura essencial para a construção de uma sociedade crítica e preparada está desaparecendo aos poucos: o professor. Sim, o professor — esse profissional que, ironicamente, ensina todas as outras profissões — corre o risco de se tornar um ser em extinção.

Mas como isso é possível? Como um pilar da educação, alguém tão necessário, pode estar desaparecendo diante de nossos olhos?

O primeiro ponto que trago para reflexão é o desvalorização crônica do professor. Não é de hoje que os educadores enfrentam salários baixos, estruturas precárias e uma carga de trabalho desumana. Muitos acumulam turnos para conseguir sobreviver, sacrificando sua saúde física e mental.

Eu mesmo sou testemunha, pois como professor REDA de educação profissional do Estado da Bahia (SECBA) de 2009 a 2017 onde deveria só ministrar aulas de disciplinas técnicas fui obrigado a lecionar a disciplina de matemática, física, química e pasmem de Educação Física (sem ter formação na área), para complementar terrível e degradante carga hora de 40 horas semanais.

Hoje, o Brasil vive uma triste realidade onde professores que passaram no mínimo quatro anos fazendo um curso de licenciatura nas universidades quando se formam ao invés de encarrarem uma sala de aula preferem trabalhar na área financeira de empresas, fator que tema afastado os jovens da carreira e faz com que muitos talentos escolham outros caminhos. Afinal, quem quer dedicar a vida ao ensino se o retorno é tão ingrato?

Além disso, a autoridade do professor está sendo constantemente questionada. Em sala de aula, muitos enfrentam alunos desmotivados, pais omissos — ou excessivamente críticos — e uma burocracia que engessa a criatividade pedagógica. O respeito, que deveria ser uma via de mão dupla entre mestre e aprendiz, muitas vezes é substituído pela desconfiança e pelo confronto. O professor passa a ser visto não como um agente de transformação, mas como alguém que deve ser vigiado, avaliado, fiscalizado a cada passo. Sem contar o aumento das violência praticada pro alunos contra professore(a)s, basta ler os jornais todos os dias.

A tecnologia digital um aliado ou um vilão?

Outro fator alarmante é a substituição do contato humano por ferramentas digitais. É inegável que a tecnologia pode — e deve — ser aliada do ensino. Mas quando se coloca um aplicativo, uma inteligência artificial ou um vídeo no lugar da interação direta com um educador, corre-se o risco de esvaziar a educação de sua dimensão mais profunda: a troca, o diálogo, o afeto. Nenhum algoritmo substitui o olhar atento de um professor que percebe quando um aluno está triste, quando precisa de ajuda, quando está prestes a desistir.

Ausência de políticas públicas voltada a valorização dos professore(a)s

E o que dizer das políticas públicas? Em muitos países, inclusive o Brasil, a educação sofre com cortes de verbas, falta de planejamento e ausência de políticas de valorização docente. A escola pública, que deveria ser um espaço de igualdade e oportunidade, está cada vez mais fragilizada. Enquanto isso, discursos prontos sobre "mérito", "modernização" e "inovação" ignoram o essencial: sem professores motivados e bem formados, não há educação de qualidade.

Diante desse cenário, é urgente perguntar: que futuro queremos? Uma sociedade que prioriza o lucro em detrimento do conhecimento? Que valoriza celebridades e influencers enquanto ignora aqueles que formam médicos, engenheiros, cientistas, artistas e cidadãos?

Precisamos resgatar a dignidade da profissão docente. Investir em formação continuada, garantir salários justos, respeitar a autonomia em sala de aula e, acima de tudo, ouvir os professores. Não se constrói um país desenvolvido sem educação — e não se faz educação sem professores.

O professor pode estar se tornando um ser em extinção, mas ainda há tempo de reverter essa realidade. Para isso, é preciso mais do que palavras bonitas em discursos oficiais: é preciso ação, vontade política e uma mudança de mentalidade coletiva. Valorizar o professor é valorizar o futuro.

Que possamos, então, lutar para que esse ser em extinção volte a florescer em cada escola, em cada sala de aula, em cada mente e coração que se abre para o conhecimento. Porque, no fim das contas, sem professores, não há humanidade.

(*) Professor e analista político

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