(*) Taciano Medrado
Ah, Jerônimo… mais uma vez o senhor abre a boca, e o que sai não é política – é provocação barata. Dessa vez, o alvo foi direto: os eleitores bolsonaristas. Gente que pensa diferente do senhor. Gente que vota em quem quer. Gente que, pasme, também é povo baiano. Mas aí vem o governador e solta a pérola: “Eles desejaria que todos os Bolsonarista fossem pra vala”. Sério? É com esse nível de elevação moral e institucional que o senhor pretende unir a Bahia?
Ah, Jerônimo… depois que inventaram o tal da "desculpa" todos magoam, agridem moralmente e psicologicamente, inventa que tiraram de contexto a fala e pronto! Talvez pra aliviar a sua consciência pesada pela infeliz declaração sirva de consolo, mas e para quem sofreu o ataque gratuito e leviano, será que amenizou a dor? e se fosse um eleitor bolsonarista que desejasse que o senhor fosse pra vala junto com os Lulopetistas, como o senhor se sentiria?
Porque, veja bem, não estamos falando de um desabafo qualquer de um cidadão indignado numa fila de supermercado. Estamos falando do governador do Estado da Bahia, que, ao invés de acalmar ânimos e governar para todos, resolve alimentar a fogueira da divisão. Aparentemente, na sua cabeça, o eleitor adversário não é cidadão – é inimigo. E de preferência, um inimigo que deveria ser envergonhado em público, rotulado, isolado e silenciado.
A democracia – aquela que o senhor vive dizendo defender – não funciona assim. Em uma democracia, quem vota diferente não é "do mal", nem deseja vala para ninguém. Aliás, essa fala diz muito mais sobre quem a profere do que sobre quem a ouve. Soa quase como um delírio autoritário disfarçado de indignação popular.
E quando a reação negativa veio – claro, porque até quem votou no senhor percebeu o absurdo – o que aconteceu? A velha cartilha: pedido de desculpas. Aquela desculpa ensaiada, que parece mais uma formalidade do que arrependimento genuíno. A clássica "desculpa a quem se sentiu ofendido", como se a culpa fosse do ouvido sensível e não da língua desrespeitosa.
Mas pedir desculpas não basta, Jerônimo. Porque o estrago está feito. O senhor não ofendeu apenas um grupo político – ofendeu o espírito democrático, a inteligência do eleitor e a própria noção de respeito institucional. E se engana quem pensa que só os bolsonaristas se indignaram. O que o senhor mostrou, naquele momento, é que não governa para todos. Mostrou que tem lado – e pior, que governa como se estivesse ainda num palanque, jogando para a torcida militante e zombando do resto.
O povo baiano merece mais. Merece um governador que trate os divergentes como cidadãos, não como ameaça. Que entenda que política não se faz com desprezo, mas com serviço. Que saiba que a Bahia é plural, diversa, cheia de vozes diferentes – e que todas têm direito à mesma dignidade, ao mesmo respeito, ao mesmo Estado.
Vamos lembrar, governador: quem votou no senhor também pode mudar de ideia. O eleitor não é gado, não é autômato de partido, não é boneco de palanque. Ele está vendo. Ele está ouvindo. E já está cansado dessa mania de transformar o adversário em vilão e de tratar a divergência como crime.
Respeitar o eleitor é governar com compostura. É reconhecer que o cargo que o senhor ocupa não é seu – é da Bahia. E não há espaço, nem justificativa, nem momento de tensão que autorize um governador a dizer que um grupo político deseja a morte de outro. Isso não é discurso político – é irresponsabilidade.
Então, Jerônimo, se quiser mesmo se redimir, não venha só com palavras. Venha com atitude. Baixe o tom, suba o nível. Guarde o palanque, vista o jaleco de gestor. Governe para quem votou em Lula e para quem votou em Bolsonaro. Para quem gosta do PT e para quem não suporta. Isso se chama democracia. E o senhor, como governador, deveria ser o primeiro a respeitar.
Porque pedir desculpa depois de ofender não é humildade. É cálculo. E o povo baiano, apesar de paciente, já aprendeu a fazer conta.
(*) Professor e eleitor baiano e brasileiro
Não
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