(*) Teobaldo Pedro
A tecnologia, outrora extensão da genialidade humana, caminha agora para se tornar seu possível substituto. Após levar o homem ao espaço, penetrar os abismos dos oceanos e decifrar o genoma humano, agora, com o advento da inteligência artificial (IA), ela passa a pensar por nós. O que parecia ser a maior das nossas conquistas tornou-se dilema. Bill Gates afirmou que, muito em breve, professores e médicos serão substituídos por agentes de IA. Elon Musk, embora seja um visionário, já alertou que os riscos de uma superinteligência fora de controle podem ser mais perigosos do que uma guerra nuclear. Steve Jobs, com toda a sua genialidade, não poderia prever o quanto sua busca por ferramentas intuitivas poderia resultar em máquinas capazes de interpretar nossas emoções até com mais precisão do que muitos pais e amigos. Há nisso um sinal silencioso, quase imperceptível, de que essa nova tecnologia já não apenas serve ao homem, mas ela já começa a moldá-lo, a reduzi-lo, reinterpretá-lo no mundo.
O trabalho humano está em xeque. Não se trata apenas de estatísticas de desemprego ou de mudanças de carreira. O que está em risco é a identidade que construímos a partir do fazer, do criar, do servir. Ser professor é mais do que transmitir dados; é transformar almas. Ser médico é mais do que apenas prescrever tratamentos; é cuidar do invisível. Augusto Cury já escreveu que a emoção é como argamassa que sustenta a mente humana. Como poderá uma máquina tocar esse terreno sagrado da emoção sem, ao mesmo tempo, produzir sua distorção? O algoritmo, por mais sofisticado que seja, não sofre, não ama, não perdoa. E quando nós transferimos para a tecnologia funções que exigem alma, damos a ela um poder que não lhe pertence e, sem perceber, abrimos mão do que temos de mais humano: nossa autonomia!
Há, então, uma ameaça oculta. E se nós aceitarmos passivamente essa migração do humano para o artificial, corremos o risco de não apenas perder empregos, mas perder a nós mesmos. A lógica da eficiência começa a dominar a cultura, as relações e até a fé. Hoje já não se valoriza tanto a presença, o tempo, o silêncio, a escuta. Tudo precisa ser rápido, limpo, controlado. Mas o ser humano é feito de imperfeições, e nelas é que reside a beleza da existência. Uma sociedade que seja guiada por máquinas poderá até funcionar melhor, mas será que viverá melhor? A pressa pela perfeição técnica poderá até nos empurrar para um tipo de miséria afetiva e espiritual. A totalidade da humanidade, então, se verá diante dessa nova encruzilhada: continuar dominando essas ferramentas ou ser dominada por elas, de uma forma dependente.
É hora de uma grande lucidez. Não se trata mais de se negar os avanços ou demonizar a ciência. A tecnologia tem o potencial de exponenciar o conhecimento e sua aplicação na vida humana, precisa continuar sendo sua aliada. Isso, desde que o homem permaneça no centro da criação. Mas quando deixarmos que ela se torne o critério para o certo e o errado e nós começarmos a confiar mais nos dados do que na sabedoria, estaremos aos poucos silenciando a nossa consciência e senso crítico. E nenhuma inteligência, por mais artificial e evoluída que ela seja, será capaz de substituir o valor de uma lágrima sentida, de uma oração sincera ou de um abraço verdadeiro. Reumanizar o futuro é urgente. E estabelecer limites bioéticos, além de espirituais, é responsabilidade de todos nós. E isso deve partir dos líderes, passando pelos educadores, cientistas, até chegar aos pais. Afinal, como disse Jesus: “O homem poderá até conquistar o mundo inteiro, mas se perder a si mesmo, de que isso lhe valerá?”
(*) É pastor evangélico há 30 anos e tem forte atuação na área social do Vale do São Francisco, desenvolvendo diversas ações nesse segmento há três décadas, tendo sido parceiro na criação de vários projetos de inclusão em Juazeiro e região. Ele tem formação em Teologia, Psicanálise Clínica, Educação Religiosa e Filosofia. Fez especialização em Radialismo, atuando por vários anos na área. É também professor e escritor. Em 2013, ganhou o título de Dr. Honoris Causa pela Genesis University. Colunista do TMNews do Vale (Blog do professor Taciano Medrado)
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