(*) Taciano Medrado
Parece exagero, né? Mas respira fundo e vem comigo, porque essa história é real… e talvez até um pouco assustadora.
Quantas vezes por dia você desbloqueia o celular? Abre o Instagram? Faz uma pesquisa no Google? Curte um post, comenta, manda um emoji no WhatsApp, ou só rola a tela no TikTok sem pensar muito? Agora segura essa: cada movimento seu, por menor que pareça, está sendo registrado. Armazenado. Estudado. Vendido.
É isso mesmo. Enquanto você vive sua vida digital tranquilamente, empresas de tecnologia estão te observando em silêncio — e montando um quebra-cabeça ultra detalhado sobre você. Sobre seus gostos, suas rotinas, suas crises existenciais. E o mais louco? Elas sabem de coisas que talvez nem você tenha percebido ainda.
Como assim?
Vou te dar um exemplo simples: você começa a pesquisar sobre “exercícios para emagrecer”, depois assiste uns vídeos de alimentação saudável no YouTube. No outro dia, aparece propaganda de academia, suplementos e até consulta com nutricionista. Coincidência? Não. Isso se chama perfilamento de comportamento.
E não para por aí. Se você começa a dormir mais tarde, usar apps de meditação, procurar sobre ansiedade... os algoritmos não apenas sabem disso — eles antecipam que você está entrando num momento mais sensível. E o que eles fazem? Oferecem soluções? Nem sempre. Às vezes só jogam mais estímulos, mais conteúdo, mais gatilhos.
Eles nos conhecem melhor do que nós mesmos.
Sabe aquele dia que você acorda com um peso estranho, meio sem saber por quê? As plataformas sabem. Talvez porque ontem à noite você ficou 40 minutos vendo vídeos tristes, ou porque tem evitado mensagens de uma certa pessoa, ou porque seu padrão de uso mudou.
Os dados falam. E eles falam alto.
Google, Meta, Amazon, TikTok… todas essas gigantes da tecnologia possuem verdadeiros dossiês sobre você. Sabem seu nome, e-mail, localização, os lugares que você frequenta, seus amigos mais próximos, sua rotina, sua voz, sua fisionomia, o que você assiste, o que você pensa, o que você deseja. E não é só pra “melhorar sua experiência” — é pra te vender mais, te manter mais tempo conectado, te influenciar mais profundamente.
Mas eu não tenho nada a esconder…
Esse é o argumento mais perigoso de todos. A questão não é o que você tem a esconder — é o que você está disposto a expor. Sua vida inteira está sendo empacotada em dados. Seus desejos, seus medos, suas opiniões políticas, seus hábitos mais íntimos. E tudo isso está nas mãos de empresas que têm um único objetivo: lucro.
Privacidade hoje não é mais só uma escolha individual. É uma questão coletiva. Se aceitarmos passivamente esse monitoramento constante, abrimos caminho para um mundo onde somos manipulados sem perceber, onde nossa liberdade é negociada em troca de um pouco mais de conforto digital.
A ilusão da liberdade digital
Você se sente livre na internet? Acha que decide o que quer ver, com quem quer falar, sobre o que quer refletir? Talvez. Mas na prática, os algoritmos estão conduzindo esse jogo. Eles decidem o que aparece no seu feed, quais vídeos são “recomendados”, que tipo de conteúdo é mostrado primeiro.
Você acha que escolheu ver aquilo. Mas, muitas vezes, foi escolhido por aquilo.
E aí vem a pergunta crucial: se nossas decisões estão sendo influenciadas o tempo todo, será que ainda somos livres?
A nova forma de controle
Antes, o poder era exercido com armas, censura e imposição direta. Hoje, ele vem disfarçado de notificações, termos de uso, personalização de anúncios. É sutil, quase invisível. Mas muito mais eficiente.
George Orwell falou de um “Big Brother” que nos vigiaria 24h por dia. Ele errou em parte. O “Big Brother” não é um governo autoritário com uma câmera no seu quarto. É o seu celular. E você o leva para todo canto, voluntariamente.
E agora? O que fazer?
Não se trata de virar um paranoico da privacidade, nem de abandonar a tecnologia. Mas sim de acordar. De entender o jogo. De usar a tecnologia com consciência, e não ser usado por ela.
Leia os termos de uso (ou pelo menos tente).
Ajuste suas configurações de privacidade.
Questione os anúncios que aparecem.
Use navegadores mais seguros.
Reflita antes de clicar.
Diminua o tempo de exposição sem propósito.
Acima de tudo: recupere o controle. Reaprenda a pensar por si mesmo, a questionar os algoritmos, a proteger aquilo que ainda é seu: sua identidade, sua mente, sua liberdade.
No fim das contas…
O maior perigo não é as empresas de tecnologia saberem tanto sobre nós.
O maior perigo é a gente não saber o quanto estamos sendo moldados por elas.
(*) Professor da disciplina Novas Tecnologia da Informação (NTI)
Não
deixe de curtir nossa página Facebook e também Instagram para
acompanhar mais notícias do TMNews do Vale (Blog do professor TM)
AVISO:
Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião
do TMNews do Vale (Blog do professor TM) Qualquer reclamação ou reparação é de
inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que
violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não
respeitem os critérios serão excluídos sem prévio aviso.
Postar um comentário