(*) Taciano Medrado
Nesse final de semana, como habitualmente faço, assistia a um filme no Canal Prime Vídeo (Sou cinéfilo rsrsrs)), e uma frase dita por um dos protagonista da série, "Covil de ladrões", me chamou a atenção: "Os tigres nunca mudam suas listras", então resolvi fazer esse editorial contextualizando com os políticos da Bahia, do Brasil e do Mundo.
Dizem que na natureza existem algumas verdades absolutas. Uma delas é que tigres têm listras — e essas listras são permanentes. Não importa se o tigre está numa floresta na Índia ou num zoológico em Brasília, quero dizer, no cerrado brasileiro: ele continua com as mesmas marcas. Um símbolo eterno da sua identidade.
E aí, como num eco cômico e trágico da natureza, olhamos para nossos políticos e... surpresa! As listras também continuam as mesmas. Não importa o partido, a época, a promessa de renovação ou a maquiagem da propaganda eleitoral: a essência é a mesma. O apetite também.
O mais engraçado é que eles tentam. Meu Deus, como tentam! Durante as campanhas, os políticos parecem atores de novela das seis: choram em palanque, abraçam crianças suadas, acariciam cachorros abandonados e fazem churrasco com pão de alho queimado no subúrbio. Ali, naquele teatro digno de Oscar, eles juram, entre lágrimas sinceramente treinadas, que "desta vez é diferente". Que agora a listra mudou. Que agora o tigre virou... um coelhinho fofo.
Mas, ah, caro leitores e leitoras, assim como você não vê um tigre pastando capim numa fazenda orgânica, você também não verá políticos abandonando seus velhos hábitos. Assim que a última urna é fechada e o último santinho é varrido da rua, o show acaba. E o tigre volta a rugir.
E não é qualquer rugido. É um rugido cheio de sede: sede de verbas, sede de cargos, sede de privilégios, sede de poder. Não importa quantas "novas políticas" inventem — é sempre a velha fome, disfarçada com um crachá novo e uma gravata mais moderna.
Mas sejamos justos: alguns políticos realmente mudam... mudam de partido! Como tigres que trocam de jaula para ver se a comida é melhor. "Fidelidade partidária" virou piada de salão, dessas que a gente conta entre um escândalo e outro. Mudam de cor, de discurso, até de sotaque se preciso for — mas as listras, essas estão sempre lá: corrupção, promessas quebradas, autopromoção e, claro, aquela eterna "inocência" quando pegos com a boca no pote de mel.
O mais fascinante é que nós, eleitores, também somos personagens dessa tragicomédia. Somos aquele público que volta ao circo achando que, desta vez, o tigre vai fazer um truque novo. E não faz. No máximo, pula uma argola mais dourada. E nós aplaudimos, surpresos, como se fosse a oitava maravilha do mundo. Depois, quando o tigre avança, quando mostra as garras, fazemos cara de espanto. "Como pôde?", nos perguntamos, com a memória curta de quem esquece que tigres, oras, têm garras. E políticos, seus correspondentes de gravata, também.
Se fôssemos mais atentos, entenderíamos que a evolução política não é uma questão de trocar de personagens, mas de mudar o habitat. Tigres não deixam de ser predadores, mas se a floresta for bem vigiada, se houver cerca elétrica, armadilhas e, principalmente, vigilância constante, eles pensam duas vezes antes de atacar. O problema é que nossa "floresta democrática" parece mais um pasto abandonado. Sem fiscalização, sem punição. Sem consequências.
E é aí que as listras brilham com mais orgulho. O cinismo político brasileiro atingiu tal nível que hoje se discute com naturalidade, em público, questões que antes causariam vergonha: emendas secretas, privilégios acima da lei, nepotismo descarado. Alguns ainda tentam disfarçar, botam uma listra colorida, dizem que "é pela governabilidade", que "é pelo bem do povo". O povo, aliás, virou desculpa para tudo. É como se cada golpe fosse, ironicamente, um ato de amor.
Mas, convenhamos: político alegar que rouba "pelo bem do povo" é como o tigre dizer que devora um cervo "em nome da preservação ambiental". É a natureza, explicam. Só esqueceram de nos avisar que, nessa cadeia alimentar, nós somos o cervo.
Agora, não sejamos totalmente pessimistas. Existe, sim, algo que muda: o cinismo vai ficando mais sofisticado. Antes, escondiam as listras; agora, exibem com orgulho. Antigamente, a corrupção era negada até a morte; hoje, é apenas um detalhe técnico. Pega-se um político no flagra, e ele sorri para as câmeras, dizendo que "não há provas suficientes" — mesmo que esteja segurando o saco de dinheiro, no meio do cofre aberto, com a senha do banco tatuada no antebraço.
O verdadeiro talento político atual é esse: fazer com que o óbvio pareça discutível. A arte de transformar escândalos em debates. A arte de fazer o povo acreditar que, quem sabe, aquela listra que você está vendo... é só uma sombra mal interpretada.
E assim seguimos, geração após geração, reinventando a mesma tragédia. A cada eleição, prometemos que seremos mais atentos. Juramos que desta vez não seremos enganados. Mas, diante do rugido de um tigre vestido de cordeiro, acabamos sempre fascinados — e devorados logo depois.
Por fim, tigres não mudam suas listras. Políticos também não. A diferença é que, enquanto os tigres fazem isso por instinto, os políticos fazem por escolha.
E nós, meros espectadores dessa selva sem lei, continuamos achando que, na próxima vez, talvez, só talvez... o tigre venha de bolinhas.
E pra finalizar: Você político, que se sentiu ofendido com esse meu artigo opinativo, sinto muito, escolheu a profissão errada, mas ainda dá tempo de mudar.
(*) Professor e Analista político
Não
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