O problema não está nos favores, mas no preço que se paga por eles


(*) Taciano Medrado

Vivemos em uma sociedade onde a troca de favores é, muitas vezes, disfarçada de generosidade. À primeira vista, aceitar ajuda pode parecer algo positivo, fruto da empatia e da solidariedade. No entanto, nem sempre os favores são tão inocentes quanto aparentam. 

O verdadeiro problema raramente está no ato de ajudar, mas sim no que se espera em troca – o preço invisível, porém muitas vezes alto, que se paga por aceitar tais “presentes”.

Favores podem vir carregados de intenções ocultas: dívidas morais, submissão emocional, manipulação ou mesmo controle social. Quando uma ajuda vem acompanhada de um sentimento de obrigação, ela deixa de ser um gesto altruísta e passa a ser uma moeda de troca. Em certos contextos, especialmente na política, no ambiente corporativo ou até nas relações familiares, o favor torna-se uma armadilha sutil. Aceita-se um "simples" benefício, mas depois se é cobrado com silêncio, fidelidade ou submissão.

Além disso, o problema se intensifica quando o favor cria dependência. Ajudas recorrentes podem enfraquecer a autonomia de quem recebe, tornando-o refém do outro. Essa dependência emocional ou prática constrói relações assimétricas, onde quem “ajuda” se coloca numa posição de superioridade, e quem é ajudado, numa constante sensação de dívida impagável.

Portanto, é fundamental refletir sobre os favores que se recebe e, sobretudo, os que se aceita. Nem toda ajuda é benéfica, e nem todo gesto de aparente bondade é desinteressado. Saber dizer “não” também é um ato de liberdade. Afinal, o verdadeiro problema não está no favor em si, mas no alto preço que, muitas vezes, se esconde nas entrelinhas do “estou fazendo isso por você”.

Tem coisa que a gente aprende na marra: nem todo favor é de graça. Tem gente que oferece ajuda com um sorriso no rosto, mas já está fazendo as contas do que vai cobrar depois. E aí, quando a conta chega, a gente percebe que o problema nunca foi o favor em si, mas o preço que vem junto com ele.

Às vezes, você aceita uma carona, uma indicação, um “jeitinho” pra resolver alguma coisa, e nem percebe que já entrou num tipo de dívida. Não é uma dívida de dinheiro, é pior: é aquela cobrança velada, aquele “lembra do que eu fiz por você?”, que aparece nos momentos mais inconvenientes. E tem quem use isso como forma de controle, como se você tivesse que pagar com lealdade cega, silêncio ou favores de volta, mesmo sem querer.

O pior é quando o favor vira rotina e a pessoa passa a te lembrar, o tempo todo, que você só está onde está por causa dela. Isso enfraquece a gente, tira a autonomia, e coloca a outra pessoa num pedestal que ela nem merece. E aí, pronto: você vira refém de uma ajuda que nem pediu direito.

Então, antes de aceitar qualquer “quebra-galho”, é bom pensar duas vezes. Tem favor que vale a pena, claro, mas tem outros que saem caro demais. Às vezes, dizer “não, obrigado” é o que salva a sua liberdade e a sua paz.

(*) Professor e psicopedagogo

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