(*) Taciano Medrado
A escolha de um Papa com idade avançada tem se tornado uma prática recorrente nos conclaves recentes, levantando sérias reflexões sobre as consequências práticas e simbólicas dessa decisão para a Igreja Católica. Ainda que a idade não deva ser, por si só, um fator excludente, é inegável que ela implica limitações físicas, cognitivas e administrativas que podem comprometer a longevidade e a eficácia de um pontificado. Assim, eleger um Papa idoso pode significar, na prática, um mandato curto, instável e oneroso para o Vaticano.
Historicamente, os conclaves sempre consideraram a idade dos cardeais como um critério importante, ainda que não oficial. No entanto, a tendência moderna de buscar figuras experientes e conciliadoras muitas vezes conduz à eleição de líderes já avançados em idade. Isso foi evidente com a eleição de Bento XVI, que renunciou após oito anos de papado por motivos de saúde, e também com o Papa Francisco, que foi eleito aos 76 anos e já apresentava sinais de fragilidade física.
Essa escolha traz implicações administrativas sérias. Um mandato curto não permite a consolidação de reformas nem a implementação plena de projetos estruturais dentro da Igreja.
Além disso, a sucessão papal frequente causa instabilidade e exige mobilizações logísticas e financeiras onerosas, desde o funeral até a organização de um novo conclave — eventos que demandam recursos, atenção da mídia e desgaste interno da Cúria Romana.
Do ponto de vista simbólico, a eleição de um Papa idoso também pode ser interpretada como uma resistência à renovação. Em um momento em que a Igreja enfrenta desafios relacionados à modernidade, à perda de fiéis e a escândalos institucionais, uma liderança envelhecida pode parecer desconectada das demandas contemporâneas. A juventude não é sinônimo de competência, mas o dinamismo e a energia que ela traz poderiam representar um impulso renovador necessário.
Portanto, a escolha de um Papa em idade avançada, embora compreensível sob certos aspectos pastorais e diplomáticos, revela-se cada vez mais uma decisão de alto custo institucional. Se a Igreja busca estabilidade, renovação e maior protagonismo no mundo contemporâneo, talvez seja hora de repensar o perfil ideal de seu líder máximo, priorizando não apenas sabedoria e tradição, mas também vitalidade e visão de futuro.
É difícil entender como, em pleno século XXI, com tantos desafios urgentes à frente da Igreja Católica, o colégio de cardeais ainda insiste em eleger Papas com idade avançada.
A prática parece, cada vez mais, um gesto de apego ao passado e de aversão à renovação. Não se trata de desrespeitar a experiência ou a sabedoria dos mais velhos — isso seria absurdo — mas de encarar a realidade: um Papa idoso, por melhor que seja sua intenção, tende a ter um pontificado curto, limitado e oneroso para os cofres e para a governança do Vaticano.
Além disso, um papado breve não permite continuidade nem aprofundamento de reformas. Pior: cada novo conclave movimenta uma estrutura pesada, cara e muitas vezes envolta em disputas internas, mais políticas do que espirituais. Quem paga essa conta? O Vaticano. E, por tabela, todos os fiéis que esperam uma Igreja mais transparente e menos burocrática.
Há também um aspecto simbólico que não pode ser ignorado. Num tempo em que a juventude se distancia da religião organizada, um líder mais jovem, ou pelo menos mais ativo e moderno, poderia significar aproximação, diálogo, renovação. Eleger sempre os mais velhos transmite uma imagem de instituição parada no tempo, resistente à mudança e à escuta.
A Igreja precisa de pastores com coragem e energia para andar com o povo, e não apenas de administradores respeitáveis que encarnam a tradição. Se os cardeais quiserem de fato olhar para o futuro com esperança, terão de parar de olhar apenas para o passado com reverência. Um novo Papa deve ser símbolo de horizonte e não apenas de despedida.
(*) Professor, Psicopedagogo e redator- chefe
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