A Verdade é a mentira mais astuta

 


(*) Taciano Medrado

A verdade, essa senhora pomposa que gosta de se exibir com cara limpa e roupa branca, é na verdade (olha só que ironia) uma mentirosa de primeira. A diferença é que, ao contrário da mentira descarada, ela aprendeu a colocar um blazer e falar em tom acadêmico. Ninguém desconfia de uma verdade bem articulada – especialmente se ela vier com gráficos, fontes confiáveis e um especialista de terno por trás.

A verdade, hoje em dia, é um produto de marketing. A embalagem vem com selo de “checado”, “verificado” ou “confirmado por especialistas”, e pronto: é só engolir. Mas cuidado, porque atrás desse rótulo bonito pode estar a mais astuta das mentiras, aquela que não precisa se esconder. Ela se apresenta com tanta confiança que você nem pensa em questionar.

Vivemos na era da pós-verdade, um nome chique pra dizer que a mentira aprendeu a dançar conforme a música. E a verdade? Ah, ela se adaptou. Agora ela faz selfies no Instagram com filtro, entra em debates políticos e sai pela tangente quando pega mal. O que importa não é mais o que é verdadeiro, mas o que parece verdadeiro o suficiente para convencer quem você quer convencer.

E cá entre nós, quem nunca contou uma “verdade conveniente”? Daquelas que a gente molda com um pouquinho de omissão aqui, um toque de dramatização ali. É quase uma arte. E quem domina essa arte vira autoridade. A mentira, coitada, ainda tenta com bigodes falsos e disfarces toscos. Já a verdade... bem, ela sorri, dá entrevista e publica livro.

No final das contas, talvez o truque mais brilhante da mentira tenha sido se disfarçar de verdade. E o mais engraçado? A gente aplaude.

E vou muito mais além. A verdade, coitada, sempre teve fama de séria, pura e inquestionável. Um verdadeiro exemplo de moralidade. Mas ninguém desconfia que por trás desse ar de santidade, ela é só uma mentirinha bem vestida, cheia de bons contatos e com habilidade em relações públicas.

Ela não precisa correr, nem se esconder — ela desfila, plena, como se fosse a dona da razão. A mentira ainda precisa se disfarçar, trocar de nome, fugir pelas beiradas. Já a verdade? A verdade senta na janelinha, de óculos escuros, tomando café com juízes, jornalistas e filósofos.

Porque o segredo da verdade é simples: ela sabe ser convincente. Basta ser repetida o suficiente, colocada num PowerPoint com fonte séria, e voilà — temos uma verdade indiscutível. Quem ousa questionar? Só os "teóricos da conspiração", que, por sinal, também têm suas “verdades”, que curiosamente se parecem com... outras mentiras astutas.

O mais bonito é que a verdade se molda aos interesses. Hoje ela é uma, amanhã pode ser outra. Depende do partido, do patrocinador, da audiência. Ela não é absoluta, é flexível — como toda boa atriz. E a gente, bobo, continua acreditando que ela é incorruptível. Acha mesmo que ela não tem um bom plano de carreira?

A verdade é tão esperta que convenceu o mundo de que ela existe. E isso, meus caros, é o maior golpe já aplicado. A verdade não liberta — ela manipula, ilude, e ainda sai aplaudida de pé.

A mentira até tenta, mas está anos-luz atrás da verdade. Afinal, para enganar alguém hoje em dia, não basta mentir — tem que falar como a verdade, se comportar como a verdade, e — o mais importante — parecer confiável. E nisso, minha gente, a verdade é profissional.

E na política?

Na política, a verdade é uma atriz premiada. Veste terno, discursa com entonação de herói nacional e jura, de mãos no peito, que está ali "pelo povo". Ah, o povo... esse figurante tão necessário na narrativa da verdade política.

A mentira, coitada, ainda usa bigode falso e entra pelos fundos. Já a verdade senta na tribuna, sorri nas propagandas e ganha eleição com 98% de promessas e 2% de maquiagem. E nem precisa disfarçar. Basta repetir três vezes no telejornal, colar num post patrocinado e pronto: temos um novo “fato incontestável”.

A verdade na política é elástica. Serve para justificar aumento de salário, cortes na saúde, privatização em nome da eficiência e até escândalo como “falha de comunicação”. O político olha nos olhos da câmera, mente com todas as letras, mas faz isso com tanta segurança que parece estar revelando um segredo divino. E o melhor: quem não acredita vira “radical”, “desinformado” ou “inimigo da democracia”.

A mentira tradicional ainda tenta: espalha boatos, cria fake news, inventa dossiês. Mas a verdade, essa sim é gênio do crime. Porque ela sabe ser institucional. Tem CPF, CNPJ, parecer jurídico, e — claro — respaldo da assessoria de imprensa.

E o eleitor? Bem... o eleitor até desconfia, mas no fundo prefere a mentira bem contada à verdade crua. Acredita em quem fala bonito, em quem promete “mudança”, mesmo que seja a quinta vez seguida. No fundo, sabe que está sendo enrolado, mas finge que acredita — e a política agradece.

No fim das contas, a mentira não venceu a verdade. Ela só se filiou a um partido, aprendeu a discursar e virou governante.

(*) Professor e psicopedagogo

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