Secretário municipal de cultura x artista: Uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa

(*) Taciano Medrado

Sempre questionei o fato de um artista assumir um cargo público, e nada tenho, pessoalmente,  contra nenhum deles, seja quem for  e em  qualquer esfera, municipal, estadual e federal.  

Mas afinal todos nós sabemos o quanto a vida de um cantor, ator ou qualquer outro artista é muito atribulada,  e o exercício em um cargo público exige dedicação e foco 100%,  e não acho que uma secretária ou um ministério da cultura seja uma pasta menos  importante quanto as demais. 

No dia 01 de janeiro, o  presidente Lula nomeou a cantora baiana Margareth Menezes para o ministério da Cultura no governo Lula 3, e dizem os críticos para atender a um pedido e desejo da primeira dama Janja que declaradamente é fã da artista baiana.   

É a segunda vez que o petista nomeia um artista, o primeiro foi o também baiano Gilberto Gil no seu segundo mandato (Lula 2). Confesso que não vi nenhuma ação efetiva de Gil e até agora não enxergo nenhuma da sua conterrânea Margareth Menezes.

Fico a me perguntar que motivo leva um artista que passou a sua vida toda buscando os seus sonhos de serem reconhecidos pelo seu talento, e de repente enveredar pelo tenebroso e volátil e podre mundo da política.

Nessa sexta-feira(27) o prefeito eleito de Juazeiro, no norte da Bahia nomeou como secretário municipal de cultura o músico, cantor e premiado compositor brasileiro, famoso no Norte  e Nordeste  do país por canções juninas, forró, baião e xaxado, Targino Gondim. 

Conheço muito bem a rotina de um cantor de um forrozeiro e cantor de forró, já tive a oportunidade de acompanhar um  como produtor e sei que não é fácil conciliar com outras atividades, cumulativamente, principalmente em períodos de grande demanda, no caso do nomeado, os festejos juninos. São em média 90 dias de estrada (de maio  a julho) e no mínimo 2 shows por dia.  

Dai cabe os seguintes questionamentos:

Irá Targino Gondim, abrir mão da sua carreira de artista pelos próximos 4 anos, para se dedicar a  secretaria de cultura? e se não abrir?   quem os representará nesse período de 90 dias de ausência,  em que todos os profissionais do forró aproveitam para "engordar" as suas contas bancárias com contratos para shows?  O salário de secretário municipal irá cobrir os "ganhos" do artistas no período de turnê junino? Duvido! sei quanto eles faturam nessa época. 

Deixo aqui essa preocupação, afinal de contas não se brinca de ser detentor de um cargo público apenas  pelo bel prazer e ego pessoal que  a síndrome da política, de fato,  se apoderou do eminente músico Targino Gondim,  já que vem tentando assumir um cargo eletivo (foi candidato deputado derrotado em 2022 pelo Republicanos).

E pra finalizar,  me lembro que Gilberto Gil foi criticado até por artistas após convite de Lula em 2003 (Reveja). 

Mas desejo que o recém nomeado secretário de cultura, Targino Gondim,  tenha sucesso como secretário,  assim como tem como músico. 

(*) Professor e analista político

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