(*) Taciano Medrado
Sempre pensei a política, na sua essência, como um instrumento de transformação, um motor para a justiça e para a construção de um futuro melhor. Mas, lamentavelmente, entre o que eu pensava, e a realidade existe uma grande diferença.
A "política" carrega em si um peso tóxico, manchada pela corrupção, pela ineficiência, e pelo constante distanciamento dos representantes em relação aos representados. O clamor "Pai! Afasta de mim a política!" não surge de um simples cansaço, mas de uma decepção profunda e reiterada.
Quantas vezes discutir política, construir inimizades, divergir de pensamentos ideológicos contrários aos meus, me expus e só tive retornos decepcionantes. E pra quê, se no final o sistema sempre vence.
Diariamente, somos bombardeados por manchetes que escancaram escândalos. Dinheiro público sendo desviado para interesses privados, promessas eleitorais abandonadas, e projetos que, ao invés de beneficiar o povo, servem a interesses escusos. Tudo isso enquanto escolas ficam sem recursos, hospitais agonizam sem equipamentos e estradas viram armadilhas fatais.
A política, que deveria ser a arte de servir, tornou-se, muitas vezes, um palco para aqueles que querem apenas se servir.
Mas será que podemos, de fato, nos afastar da política?
Esse desejo de distanciamento é compreensível, mas também perigoso. Quando dizemos “afasta de mim a política”, deixamos um vácuo. E esse espaço vazio é rapidamente ocupado por aqueles que não têm compromisso com o bem comum. A omissão, por mais que pareça confortável no curto prazo, é uma porta aberta para que o descaso e o oportunismo se consolidem.
Afastar-se da política é abdicar de nosso papel como cidadãos. É esquecer que cada decisão, cada lei, cada orçamento aprovado afeta diretamente nossas vidas. Não há como escapar: quando a política falha, o reflexo se sente na fila do hospital, no aumento do preço da comida, na insegurança das ruas. É por isso que, mesmo quando gritamos "afasta de mim a política", ela continua nos envolvendo, silenciosa e implacável.
O que nos resta, então?
Resta a indignação, mas também a ação. É preciso transformar esse desencanto em engajamento. A política não é um monstro incontrolável; ela é feita por pessoas. E se hoje ela parece falida, isso é reflexo de escolhas que, direta ou indiretamente, permitimos. Se queremos mudar o cenário, precisamos ocupar os espaços, cobrar os eleitos, e, mais do que isso, precisamos renovar a forma como enxergamos a política.
Política não é só em Brasília, nem no Congresso Nacional, é em Juazeiro, é na Bahia é no Brasil. Política é no conselho escolar, é o orçamento participativo, é a reunião da associação de bairro. É ali que podemos começar a reconstruir a confiança, plantando as sementes de uma nova forma de fazer política, mais ética, mais transparente e mais inclusiva.
Portanto, ao invés de dizer “afasta de mim a política”, que tal dizer: “Quero uma política diferente”. Uma política que não exclua, que não corrompa, que não decepcione. Isso não é utopia, mas uma tarefa árdua que exige compromisso coletivo.
O afastamento é tentador, mas o enfrentamento é necessário. Afinal, se abandonarmos a política, seremos governados por aqueles que não se importam com o horizonte de esperança que tanto desejamos.
E aí, não restará ninguém para gritar, mesmo que em desespero: "Pai! Afasta de mim a política!"
(*) Professor, engenheiro, administrador, matemático e psicopedagogo.
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