O que Matemática tem a ver com alfabetização?

 

Estadão promove ciclo de debates Reconstrução da Educação; da esquerda para a direita, a repórter especial Renata Cafardo, Anna Helena, Hylo e Katia. Foto: Taba Benedicto/Estadão

O Brasil tem alguns exemplos exitosos de alfabetização, mas, na média nacional, só 56% das crianças são alfabetizadas na idade certa, aos 7 anos de idade, segundo dado divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) em maio. No Estado de São Paulo, o índice é de 52%.

Em anos recentes, os métodos de alfabetização ainda foram alvo de polêmicas e disputas políticas. Durante o evento Reconstrução da Educação, promovido pelo Estadão, nesta segunda-feira, 18, a presidente do Conselho de Administração do Cenpec, Anna Helena Altenfelder, destacou que a alfabetização é constituída de aspectos múltiplos, e não pode ser encarada de maneira compartimentada. “A gente tem de vencer as dicotomias”, disse.Anna Helena dividiu o painel com Katia Smole, diretora executiva do Instituto Reúna, e o coordenador do Núcleo de Avaliação da Associação Bem Comum, Hylo Leal. O Reconstrução da Educação discute caminhos para uma escola pública de qualidade. O evento foi realizado no Museu do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. Também é possível acompanhar a transmissão pelo YouTube.

Leal destacou o fato de haver consenso hoje sobre a definição de uma criança alfabetizada, o que vê de forma positiva: “Hoje a gente consegue olhar para esse panorama e traçar metas para acompanhar se esse direito está sendo garantido ou não”. Apesar das diferenças e defasagens entre as avaliações estaduais existentes, ele acredita que essas análises têm funcionado para alavancar mudanças positivas.

Para Katia Smole, porém, as avaliações ainda são muito focadas na leitura, e não levam em conta a escrita e a alfabetização matemática, igualmente importantes. “Se nós tivéssemos a receita, essa questão (de como alfabetizar) não estaria sendo discutida no mundo todo”, completou.

‘Decodificar não é ler’

Um dos pontos que geram debate em torno dos métodos de alfabetização é a diferença entre decodificar as palavras e ser capaz de interpretar os textos. “É falsa a ideia de que a alfabetização está completa aos 8 anos”, disse Anna Helena Altenfelder. Ela destaca a importância da mediação ao longo da escolaridade para aprender a ler textos mais complexos e em diferentes gêneros.

Ao mesmo tempo em que reconhece a necessidade da ênfase na decodificação no início do processo de alfabetização, Hylo Leal afirma que, passada essa fase, a escola precisa colocar mais energia na construção de sentido, desafiando o aluno a desenvolver outras habilidades, sem deixar de recuperar quem ficou para trás. “Decodificar não é ler, ler é construir sentido”, declarou.

Alfabetização matemática

Os avanços realizados pelo País na alfabetização ao longo da última década em geral não se aplicam à área da Matemática, segundo os especialistas. “Redes (de ensino) com 70 e 80% de sucesso em alfabetização na língua não têm essa mesma porcentagem em Matemática”, lembrou Katia. Para ela, a alfabetização se tornou uma política de Estado, mas a aprendizagem da Matemática não tem sido priorizada da mesma forma.

Assim como o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, o aprendizado da Matemática precisa começar cedo e ser contínuo. Deixar a Matemática de lado no processo de alfabetização “cria abismos profundos de aprendizagem e recompor é infinitamente mais difícil do que em língua materna”, afirma Katia. Essa defasagem se acumula e cria a chamada “ansiedade matemática”, uma sensação de incapacidade refletida no último Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, na sigla em inglês).

Em termos de soluções, Hylo Leal levanta a possibilidade de que o aprendizado da Matemática passe a ser considerado pela definição de criança alfabetizada e que seja incluído no Compromisso Nacional Criança Alfabetizada do governo federal, aproveitando a estrutura de professores envolvidos nesse esforço.

Anna Helena Altenfelder chamou atenção para a naturalização do fracasso escolar de crianças em contextos de maior vulnerabilidade. Para ela, “é possível integrar as diferentes áreas do conhecimento” na alfabetização para garantir que essas crianças compreendam o mundo a possam intervir nele através das diferentes linguagens.

Fonte: Artigo publicado, originalmente, pelo jornal o Estadão

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