(*) Valter Bernat
O
interessante do programa é que “quase” todo mundo sabia que a luta entre eles
era teatro, mas, mesmo assim, a plateia presente torcia e se mostrava sempre
animada.
Datena
e Marçal me fizeram lembrar daquele programa. Marçal atacando, Datena se
defendendo como podia, até que entornou o caldo.
Foi
chocante, deprimente e uma cena vexatória de Datena, que arremessou uma cadeira
contra Pablo Marçal, o que só vem a desgastar ainda mais a péssima imagem do
político neste país ou de quem pretende sê-lo. Para quem ainda não viu, o vídeo
segue abaixo.
O
mais curioso dessa triste história é, o truculento Marçal, afirmar que vai
entrar com uma ação para suspender os direitos políticos do seu agressor
quando, na realidade, é o TSE quem deveria suspender os direitos políticos de
ambos, pois, pelo visto, nenhum dos dois reúne a mínima condição para exercer
uma função política.
A
ministra Cármen Lúcia, atual presidente do TSE, tem que mostrar a conduta firme
do “cala boca já morreu”… Que sejam punidos, com urgência, todos os infratores
das normas de civilidade e decoro.
Depois
de ser chamado de estuprador e provando que fora inocentado, Marçal voltou a
atacar Datena:
“Você
é um arregão. Atravessou o debate esses dias para me dar um tapa e falou que
queria ter feito. Você não é homem nem para fazer isso”. Como que para se
provar “ser homem” fosse preciso agredir alguém.
Isso
foi a gota d´água. Datena, de pavio sabidamente curto, mordeu a isca, não
arregou e proporcionou a Marçal a tão almejada foto de vítima.
Só
que antes de ser mostrado no hospital – com pulseira verde que significa baixa
gravidade – fez um teatro enorme na ambulância, de olhos fechados e com a
máscara de oxigênio, para tentar mostrar que seu estado era grave. Era tudo o
que ele queria, mídia!
Tudo
bem que não precisava ser uma cadeirada. Desconfio que o ex-coach, produtivo
como é, aproveitou a noite que passou internado e, enquanto contabilizava novos
seguidores em suas redes sociais, escreveu mais um livro.
Pelo
caminho que estamos indo, talvez o melhor seria que os debates fossem com
almofadas, para maior segurança. A Rede TV, que promoveu na 3a feira outro
debate entre os mesmos candidatos (incrível, né?), mas, por precaução, mandou
parafusar as cadeiras de seu estúdio… não é piada, é sério!
No
debate, transmitido pela Rede TV/UOL, começou no mesmo nível em que o anterior
terminou: com os participantes trocando acusações, xingamentos e sem nenhuma
discussão de propostas. O resultado foi uma chuva de pedidos de direitos de
resposta no primeiro bloco, com pelo menos nove solicitações, além de bate-boca
entre os candidatos.
No
entanto, depois do início tenso, como era de se esperar, dominado por ataques
pessoais, o debate, conseguiu dar mais espaço às propostas dos candidatos,
sobretudo nos blocos finais, com planos sobre a saúde.
Aliás,
vale uma reflexão quanto aos organizadores dos debates, pois enquanto um
candidato tinha a palavra, o “perguntado” fazia com as mãos a inicial de seu
nome, nitidamente, buscando desviar a atenção do espectador e desconsiderando o
discurso do adversário.
Os
responsáveis pelo programa deixaram acontecer essas transgressões ao limite da
isonomia e da ética. Mantiveram as duas imagens, em tela dividida, sem anunciar
restrição à molecagem. O respeito à democracia precisa que, não apenas os
candidatos, mas que todos os envolvidos façam observar limites nos diferentes
graus da escala de sua competência, assim como o direito do eleitor de fazer
suas escolhas com base em critérios de igualdade e racionalidade.
Entretanto,
um dos “diálogos” do debate merece destaque:
Com
a mão direita enfaixada, cuidadosamente para deixar de fora seus três dedos que
formam o “M”. Marçal trocou ofensas com Datena já no primeiro bloco. O
influenciador repetiu sua fala do debate anterior, dizendo que o tucano “não
é homem, e sim um agressor”, e comparou o adversário a um orangotango.
Datena
respondeu: “Não bato em covarde duas vezes. Me arrependo desse ato, mas
muitos juristas já consideraram como legítima defesa da honra pelo que você fez
contra mim. Você vai falar comigo na Justiça”.
Bem,
todos os candidatos disputam uma cadeira municipal, mas Marçal já recebeu a sua
na noite de domingo. Ele, que adora cortes, agora tem um na cabeça e outro na
mão.
Acho
que Marçal se esqueceu do principal: seus adversários diretos são Nunes e
Boulos, que estão, tecnicamente empatados com ele nas últimas pesquisas, e não
Datena, que ainda derrapa nas pesquisas.
Mesmo
nas pesquisas pós-debates, a disputa está apenas entre Nunes, Boulos e Marçal…
Datena e os demais têm pontuações ínfimas, não os ameaçando.
É
uma tristeza que isso aconteça num debate para a prefeitura da cidade mais rica
e importante da América Latina. A estrela deveria ser o eleitor e não o
candidato!
Definitivamente,
os candidatos não temem a lei, e, para muitos, almejar um mandato está mais
possível de alcançar do que passar num concurso de nível médio, onde se exigem
conhecimentos básicos e idoneidade moral. Eu diria que o nível médio é muito
mais difícil.
Fico
pensando que cidades maravilhosas teríamos se homens de bem de nossa sociedade
tivessem a audácia de se candidatar, ou seja, tivessem a audácia desses caras
de pau!
(*)
Advogado, analista de TI e editor do site.
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