O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou nesta quarta-feira, 18, a
taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano. A
decisão foi unânime. Esta é a primeiro alta de juros no terceiro mandato do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um ferrenho crítico do aumento
das taxas. O último aumento da taxa havia sido em 3 de agosto de 2022.
Segundo
o comunicado do Copom, o aumento da taxa se deu por um cenário marcado por
resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, elevação das
projeções de inflação e expectativas desancoradas – ou seja, fora da meta.
O
colegiado ainda deixou a porta aberta para um possível aumento de maior
magnitude na próxima reunião. “O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a
magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de
convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da
inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à
política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do
hiato do produto e do balanço de riscos”, diz o texto.
A
alta de juros era a aposta majoritária do mercado: 53 de 61 instituições
consultadas pelo Projeções Broadcast. Seis casas previam manutenção do
juro e duas apostavam em elevação de 0,50 ponto da Selic.
O
aumento da Selic ocorre após duas reuniões em que o colegiado optou pela
manutenção da taxa. A estagnação dos juros, por sua vez, se deu após um ciclo
de sete baixas que se estendeu até maio.
Esta
é a primeira reunião do Copom desde que Galípolo foi indicado à presidência do
BC. Ele será sabatinado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado
Federal no dia 8 de outubro, logo após o primeiro turno das eleições
municipais. Caso seja aprovado na comissão e no plenário do Senado, fará a
transição do comando da autoridade monetária num cenário de elevação de juros.
Fiscal
O
Copom repetiu as mesmas considerações sobre a política fiscal que já estavam
presentes no seu comunicado anterior, de julho, quando afirmou que as contas
públicas têm impacto nos juros via ancoragem das expectativas de inflação e
prêmios de risco.
“O
comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a
sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de
inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros,
consequentemente impactando a política monetária”, afirmou o colegiado.
Os
membros do Copom reafirmaram que “monitoram com atenção” a forma como os
desenvolvimentos recentes da política fiscal afetam a política monetária e os
ativos financeiros. A percepção dos agentes sobre as contas públicas, eles
destacaram, tem afetado tanto as expectativas como os preços de ativos.
Juro
real
Com
a decisão de alta de 0,25 ponto de hoje, o juro real – descontada a inflação
prevista para os próximos 12 meses – do Brasil está em 7,33%, segundo
levantamento do site MoneyYou. O País está atrás apenas da Rússia
(9,05%).
A
média das 40 economias pesquisadas é de 0,63%. Segundo o BC, o juro neutro
brasileiro, que não acelera nem alivia a inflação, é de 4,75%.
Na
tarde de hoje, num movimento oposto ao do Brasil, o Federal
Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, cortou os juros em 0,50 ponto, para o intervalo de 4,75% a
5% ao ano – o primeiro corte em quatro anos.
Riscos
Pela
primeira vez nos últimos meses, o Copom avaliou que o balanço de riscos para
seus cenários prospectivos para a inflação está assimétrico para cima. Entre os
riscos de alta, conforme comunicado, está uma desancoragem das expectativas de
inflação por período mais prolongado.
O
colegiado também apontou como risco de alta uma maior resiliência na inflação
de serviços do que a projetada. Por fim, mencionou uma conjunção de políticas
econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário. Como exemplo,
citou a possibilidade de uma taxa de câmbio “persistentemente mais depreciada”.
Já
entre os riscos de baixa que ainda estão no horizonte, o BC ressaltou a
desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e
o fato de os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se
mostrarem mais fortes do que o esperado.
BC
sobe projeções de inflação
O
Copom informou que a projeção do Banco Central para o IPCA acumulado em 12
meses até março de 2026 passou de 3,4% para 3,5% no cenário de referência. O Copom
retirou do comunicado o cenário alternativo de inflação.
No
documento, a instituição também revelou que sua estimativa para a inflação de
2025 subiu de 3,4% para 3,7% no cenário de referência, com o IPCA superando o
centro da meta de 3%. Na reunião de 31 de julho, a mediana das projeções para o
IPCA de 2025 no relatório Focus estava em 3,96% e, no mais recente, em 3,95%.
Para 2024, a projeção do BC no cenário também de referência subiu de 4,2% para
4,3%.
O
Copom ainda atualizou a sua projeção de inflação de preços administrados, de
5,0% para 4,2% em 2024 e manteve a projeção de alta de 4% em 2025, também no
cenário de referência. O comunicado inclui ainda uma projeção para inflação de
preços administrados em quatro trimestres terminados no primeiro trimestre de
2026, de 3,9%.
Além as projeções de inflação para IPCA e preços administrados, o Copom inclui a previsão para alta dos preços livres no IPCA. A projeção para esse indicador é de inflação de 4,4% dos preços livres em 2024; 3,6% em 2025; e 3,4% no acumulado de 12 meses encerrados no primeiro trimestre de 2026. Todas essas projeções foram apresentadas no comunicado por meio de uma tabela:
O
cenário de referência usado pelo Copom considera a trajetória para a taxa de
juros extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de R$ 5,60/US$,
evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC); os preços do petróleo
conforme a curva futura por seis meses e, depois, aumentando 2% ao ano; e a
hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2024 e de 2025.
A
moeda americana negociada à vista fechou em R$ 5,65 na noite da reunião do
Copom de julho e ontem em R$ 5,48 uma redução de R$ 0,20 – que, segundo
analistas, dá alívio para a decisão de hoje, mas ainda não teria força para
mudar o quadro macroeconômico.
Cenário
externo
O
BC avalia que o cenário externo continua desafiador e demandando cautela de
países emergentes, diante das incertezas sobre o ritmo de desaceleração e
desinflação dos Estados Unidos – e, consequentemente, sobre a postura que será
adotada pelo Fed.
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