Áustria: vitória da extrema direita nas legislativas, sem governo à vista

 



A extrema-direita do FPÖ chegou à frente nas legislativas deste domingo, tendo obtido 29% dos votos, enquanto os conservadores do ÖVP no poder chegam apenas aos 26,3% e os sociais-democratas do SPÖ 21%. Na ausência de maioria absoluta, começaram as negociações com vista a formar uma coligação capaz de governar.


Apesar da sua vitória ser histórica e apesar de ter fez melhor do que Jörg Haider e Heinz-Christian Strache, os seus antecessores na chefia da extrema-direita austríaca, Herbert Kickl, líder do FPÖ, não conseguiu alcançar a maioria absoluta.


No estrangeiro, as restantes formações de extrema-direita não deixaram contudo de saudar esta vitória. "Os tempos estão a mudar", congratulou-se Geert Wilders após o anúncio dos resultados. Na vizinha Hungria, o líder Viktor Orban também saudou uma "nova vitória para os patriotas". Na Itália, o líder da Liga, Matteo Salvini falou de um "dia histórico para a mudança", sendo que em França, Marine Le Pen falou de "uma tendência de fundo".


Com uma agenda iliberal, anti-europeia e avessa às sanções contra a Rússia, o político de 55 anos que pretende ser chamado de Volkskanzler, o "chanceler do povo" - como Hitler, é considerado um radical. 

Daí que segundo analistas, ele não tem garantias de se tornar primeiro-ministro, podendo enfrentar o mesmo destino que Geert Wilders nos Países Baixos, que teve de renunciar às suas ambições de primeiro-ministro, ou que o Rassemblement national (RN) francês [União nacional], afastado pela frente republicana.


Tendo em conta que as negociações duram em média 62 dias, tendo chegado inclusivamente a demorar uns 124 dias em 1999-2000, as negociações com vista à formação de um governo que terá obrigatoriamente de ser o fruto de uma coligação, prometem ser renhidas.


O Presidente da República, Alexander Van der Bellen, um ambientalista, não esconde as suas reticências em relação a Herbert Kickl e alertou que o governo deve obter o apoio de uma maioria de 92 deputados, e não questionar os fundamentos da democracia nem os compromissos da Áustria no exterior.


Perante a possíveis veleidades de o chefe de Estado optar por indigitar os conservadores para formar o governo, apesar de terem sofrido a sua mais pesada derrota em vários anos, o líder do partido fundado por antigos nazis, começou já a denunciar uma "negação da democracia".


Observadores consideram que deste cenário conturbado poderia resultar uma fórmula inédita, "uma coligação tripartida" juntando o ÖVP, os social-democratas do SPÖ (21,1%) e o pequeno partido liberal Neos (9,2%). Apesar das suas grandes diferenças, estima-se que os conservadores e os sociais-democratas poderiam encontrar entendimentos no sentido de cortar o acesso da extrema-direita à chefia do executivo.


Nuno Maulide, professor catedrático em Viena, alegou, em entrevista a Miguel Martins, que o xadrez político neste momento está, de facto, fragmentado entre três blocos: o FPÖ, de extrema direita, os sociais democratas do SPO e os conservadores do ÖVP.


Nesta paisagem austríaca eu parece-me que há aqui uns 60% do eleitorado que se distribuem mais ou menos 20, 20 e 20 entre os sociais democratas, o ÖVP e o FPÖ.


E depois, dependendo de quem tem mais carisma e menos carisma, quem tem uma mensagem mais forte, menos forte, quem tem um concurso de popularidade para ganhar há ali os 10 a 15% a mais, que depois se alinham mais para um lado ou mais para o outro consoante a coisa vai caindo. 


Pessoas como Marine Le Pen, Herbert Kikl... porque tem que ter um concurso de qualidade. Não pode ser um líder aborrecido que diz coisas que fazem as pessoas adormecer, que é capaz de largar estas bocas sobre imigrantes. 


Que está a receber parabéns de muitos homólogos, de Marine Le Pen, por exemplo, mas está completamente isolado no xadrez político austríaco ! 


Vamos ver. Porque não seria a primeira vez que entrariam no governo como parceiro auxiliar. Eu penso que ele não tem muitas esperanças de vir a ser chanceler. O resto, se o partido dele entrará numa possível solução de governo em que aceite ser um parceiro júnior, apesar de ter sido o partido mais votado... Se essa construção agradar a todas as partes, não vejo que seja impossível. Não me adiantaria muito, até porque, como disse, coligações a três são coisas muito complicadas. E como são inéditas, das duas uma: ou avança e funciona tipo geringonça em Portugal, ou as negociações mostram que é melhor procurar outro tipo de soluções. Outro tipo soluções tem sempre que incluir o FPÖ. 


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