(*) Valter Bernat
Esta
frase dita, repetidamente, pelo jornalista Ricardo Boechat, representa muito
bem o que veremos a seguir.
Não
dá pra acreditar que o Estado brasileiro trabalhe a nosso favor. E não estou
falando aqui do atual governo, nem do anterior, mas de todos os que sempre
passaram a impressão de que o Estado brasileiro trabalha para o Estado
brasileiro, ou seja, para ele mesmo.
Trabalha
com um único propósito: existir! Cada vez mais inchado, mais rico e mais
“gastão”.
O
Estado brasileiro dá Bolsa atleta e dá Bolsa família, além de outros
benefícios, mas… o que o Estado brasileiro não faz, ou o que ele faz para sua
própria existência, a sua própria gula, sua ganância, sua vontade de existir
cada vez mais gorducho? Isso não tem resposta. É inacreditável!
Isto
não é filosofia, é a realidade!
Nosso
Poder Judiciário, sempre que se manifesta, cobra transparência dos demais
poderes. Recentemente, o ministro Flavio Dino determinou “maior transparência
nos gastos federais com as emendas parlamentares. Boa providência, embora vazia
e passível de interpretação. O que significa “maior transparência”? Um pouco
mais do que a atual? Sim, mas quanto mais? Precisamos de total transparência.
Em
nosso Poder Legislativo: é preciso discriminar quais tipos de emendas
parlamentares. Existem emendas para deputados e senadores: impositivas ou não.
Há emendas para líderes e emendas partidárias, além de outras. Para melhor
esclarecer, as comissões permanentes do Senado e da Câmara podem apresentar entre
quatro e oito emendas, dependendo de suas especificidades com relação às áreas
temáticas do orçamento. No caso do Senado, nove do total de 11 comissões,
incluindo a Mesa Diretora, podem apresentar até oito emendas.
Senhor
ministro, quais estão neste seu despacho? No entanto, usando aquela habitual
prepotência dos ministros, com toda a arrogância possível, ele disse que: “é
necessária a total rastreabilidade das emendas. As regras têm que valer para
tudo e todos, afinal o STF está zelando por um país cada vez mais
transparente…”.
Acontece
que muita gente acha que isso é verdade, ou seja, que eles trabalham para o
Brasil, que o único problema eram as emendas parlamentares.
Longe
de mim, acreditar que as emendas parlamentares devam existir. Pra mim, nunca deveriam
estar no orçamento. Em primeiro lugar, saúde, depois, educação, segurança,
habitação, etc… se sobrar alguma grana, vai para as emendas, priorizando as que
beneficiarem o maior número de pessoas, sem considerar partido ou liderança e
muito menos Comissões.
No
entanto, a gente vê que o STJ – instância criada na “Constituição Cidadã” de
1988 – temos 33 ministros!!! Neste tribunal é onde vão parar as demandas da
sociedade em última instância, quando não for questão constitucional. Esta é a
última instância para o cidadão comum.
No
STJ, assim como no STF, os ministros não precisam informar os gastos, que são
ilimitados, em viagens internacionais e, muito menos, o motivo de suas viagens.
Sem citar nomes, há ministro que foi à Alemanha, por 9 dias, fazer o quê? Não
sabemos, já que a lei não os obriga a declarar o motivo da viagem.
Qualquer
questionamento sobre isso é respondido, formalmente: “tudo está dentro do
normativo xxx da Resolução STJ xxx“, ou seja: eles criam a regulação que lhes
convêm. Tudo é 100% legal. Antiético e imoral? Com certeza!
Óbvio
que, não há nenhum ministro de qualquer corte superior que esteja recebendo
algo ilegal, só que eles é que decidem o que é legal ou ilegal. Simples assim.
Eles
cobram transparência dos demais poderes, mas a gente não sabe qual a ordem dos
julgamentos, ou como a folha de pagamentos ultrapassa o teto constitucional. Há
ministros, desembargadores e juízes recebendo mais de 100mil reais/mês. Fazem
palestras e recebem cachê. Não sabemos quanto e onde.
O
sistema de informação só funciona para os outros poderes. Se alguma informação
for omitida por algum poder, que não o Judiciário, eles vão em cima. O Poder
Judiciário não quer prestar contas. Um poder, que custa o triplo do que seus
semelhantes custam nos países europeus. Não aceita prestar contas!
O
Portal de transparência do STF saiu do ar pra fazer uma atualização e quando
voltou não mostrava mais os dados sobre as viagens internacionais dos
ministros.
Imagina se o Congresso Nacional fizesse o mesmo? Certamente o STF iria determinar que os dados voltassem à base de dados, mas como é do seu próprio umbigo.
Enfim,
o Estado brasileiro é livre. Faz o que quer, e quando a gente vai ao Poder
Judiciário que deveria ser o que nos protegeria do Estado, a gente vê que lá
eles fazem pior do que os outros.
O
PGR estabeleceu um sigilo de 5 anos sobre passagens e diárias do Poder
Judiciário. Por quê? Não há um poder a quem possamos recorrer pra perguntar o
porquê. Quando questionados, eles dizem que seguem as leis, os regulamentos e
regulamentações. Tá bom…
Nosso
Estado faliu completamente. O governo arrebenta o orçamento do jeito que quer.
O Congresso arrebenta com as emendas e o Poder Judiciário gasta o nosso
dinheiro do jeito que quer.
Coitado
do cidadão brasileiro que cada vez paga mais impostos e recebe menos em troca.
Boechat
tinha razão: “O Estado é o nosso maior inimigo”!
(*) Advogado, analista de TI e
editor do site O Boletim
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