(*)
Percival Puginna
Assim como o botão da flor é a
própria flor em botão, assim também toda vida no útero materno é humana em
diferentes e progressivos estágios de desenvolvimento. Alterações de forma não
alteram a natureza, como qualquer idoso constata ao olhar a própria fotografia
quando bebê, tão diferente na forma que só saberá ser sua aquela imagem se
alguém de confiança lhe houver, um dia, informado isso. Um recém-nascido é mais
semelhante ao feto que era do que com o idoso que será aos 90 anos.
Com graves consequências na
vida social, a moralidade contemporânea se ajoelha em adoração perante as
conveniências. A genuflexão da moral frutifica. Nasce a corrupção e explodem
escândalos que se desfazem em fumaça tão rapidamente quanto as provas. Nasce o
comércio clandestino das drogas e a restrição ao trabalho policial. Nascem o
servidor público militante político e o professor redutor de cérebros. Nascem
as narrativas e suas sequelas. Nascem a sexualização precoce, a gravidez das
adolescentes e nasce o aborto como “direito da mulher”. Dessa genuflexão nasce
até a vigarice que chama o projeto de Lei do Aborto de “Lei do Estupro”.
Os legisladores que
despenalizaram o aborto em três casos, entre eles o de estupro, não fixaram o
número de semanas a partir do qual o procedimento seria vedado. Entendo a
dificuldade: a partir de quantas semanas se torna “humana” uma vida que é
humana desde a concepção? Para evitar o pior, uma regra subsidiada pelo caso
Amillia Taylor (bebê norte-americano nascido em 2006 com 21 semanas e seis dias
de gestação) limitava a 22 semanas o tempo a partir do qual o feto tinha
possibilidades de viver fora do útero materno. Matar um bebê que poderia viver
fora do útero materno ficava parecido demais com homicídio.
Embora se saiba que mesmo
antes disso, o procedimento abortivo causa sofrimento ao feto, o Conselho
Federal de Medicina, com a autoridade que lhe confere a lei, proibiu o aborto
após a 22ª semana de gestação. Contra isso se insurgiu o PSOL, alegando que a
lei que autoriza o aborto em caso de estupro não estabelece “marco temporal”
(em relação às terras indígenas, a Constituição estabelece o marco temporal,
mas esse não convém aos partidos de esquerda). Os princípios andam de mãos
dadas com a conveniência, ou, no dizer do comediante Grouxo Marx: “Esses são
meus princípios, mas se não lhe servirem, tenho outros”.
A prefeitura de São Paulo
informou recentemente ao ministro Alexandre de Moraes que seus hospitais
realizaram 68 abortos em 2024, sendo três em bebês com 22 semanas e um com 30
semanas de gestação. Sete meses! Ao que noticiou O Globo, houve um caso, no
hospital municipal de Campo Limpo, onde uma mulher, por duas vezes, teve negado
o atendimento por estar com 24 semanas de gestação, serviço “não oferecido pelo
hospital”. Está formado o rolo.
Atenção, senhores e senhoras congressistas cuja moralidade não se curva às conveniências! De uma vez por todas, votem lei impondo limites a essa barbárie sustentada por quem se compraz com atender conveniências mediante lixeiras hospitalares recheadas de pedaços de pequenos seres humanos. Ponham um freio nessa loucura sinistra!
(*) Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e em outros websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma centena de jornais.
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