(*) Percival Puggina
Circunstâncias especialíssimas empurraram Lula à presidência. “Circunstâncias?”, se espantará o leitor. Pois é, circunstâncias, entre elas as facultadas pelo transtorno psicológico delirante com que alguns protegeram o próprio poder e pela saudade que outros sentiam do dinheiro e dos negócios que a Lava Jato lhes tomara. Tudo se passou num período de tempo – você haverá de lembrar – em que a liberdade de expressão e a democracia começaram a ficar engraçadinhas no Brasil.
Havia,
também, circunstâncias relacionadas a seus dois primeiros mandatos. Ao longo
deles, Lula foi escolhido pela esquerda mundial para ser “o cara”, tipo laranja
de amostra de um bem sucedido projeto de poder da extrema-esquerda que se
apelida de progressista. Durante os 12 anos anteriores a sua primeira eleição,
com o petismo azucrinando a vida de quem sentasse na cadeira que ele
ambicionava, o Brasil fizera o duro dever de casa. Entre os fundamentos
necessários, dois eram sólidos: a moeda forte (Real), à qual Lula e os seus se
haviam oposto, e o agronegócio, cujos bons resultados nada devem à extrema
esquerda, como se sabe. Para “o cara”, ficou a colheita farta e a repentina
abundância malbaratada em seus delírios de Midas sonhando se tornar liderança
mundial. Entre os objetivos de então contavam-se: tornar o Brasil membro
permanente no Conselho de Segurança da ONU, abrir caminho para virar, um dia,
secretário-geral ou presidente do mesmo organismo e o Nobel da Paz.
Hoje,
sua tarefa mais comum, quando ocasionalmente no Brasil, é visitar algum lugar
no interiorzão, organizar ali um ato em ambiente fechado e anunciar um
presentinho qualquer – normalmente um programa de governo de pequena monta e
aplicação restrita.
Lula
vive disso e dos discursos que faz nessas ocasiões. No exterior, sua imagem
desidratou e virou farelo moído por conhecidos malfeitos internos, péssimas
companhias externas e declarações que fazem dele um Biden rouco e tagarela. No
Brasil, seu governo não consegue ocultar a irresponsabilidade fiscal que se
exibe no déficit horroroso das contas públicas (li hoje, 02/07, que liberará R$
30 bi em emendas parlamentares antes das eleições de outubro). Esse dinheiro
falso, que está derrubando o valor da nossa moeda, lhe permite lembrar-se de
que tem algum poder e ainda pode arrancar aplausos dos auditórios quando, a
portas fechadas, brinca de Papai Noel temporão entre os pobres depois de
atender aos ricos.
Duvido
que saiba o nome de seus ministros. Nem mesmo a mídia fiel, que vive a soldo
consegue sublinhar, dentre os 40, um nome sequer que mereça destaque. Quando
consegue arrebanhar uma parte desse grupo, Lula cobra resultados que, para ele,
se traduzem em distribuir recursos públicos e não em gerar benefício concreto à
nação.
Zero
surpresa. Não quero aqui tripudiar sobre as escolhas de quem quer que seja. Mas
o fato é que governo e economia afundam juntos e desse barco só os dólares têm
o poder de sumir. Desculpem a franqueza, se os 40 ministros de Lula fossem
escolhidos mediante sorteio nacional, com cupons grátis, ao sabor do acaso, sairia
dessa coleta aleatória uma equipe melhor do que a selecionada por ele e pelos
partidos que o apoiam. Ela parece buscada no mercado por um recrutador de
recursos humanos brincalhão que, depois, abriu uma cervejinha e se acomodou no
sofá para apreciar a confusão.
(*) Arquiteto,
empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Membro da Academia Rio-Grandense de
Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do Rio Grande do
Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e em outros
websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do
Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma centena de
jornais.
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