Alexandre de Moraes - Ministro do STF - foto
O
ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes mandou retirar
imediatamente a censura que ele havia determinado nesta terça-feira (18) a
conteúdos jornalísticos com afirmações de Jullyene Lins, ex-mulher do
presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), de que ela teria sido
agredida pelo parlamentar.
Em
decisão divulgada nesta quarta-feira (19), Moraes disse que "entendeu
necessária, adequada e urgente a interrupção dos perfis indicados, por
visualizar suposto abuso no exercício de um direito, com ferimento a honra,
intimidade, privacidade e dignidade".
Porém
afirmou que as informações obtidas após a realização dos bloqueios determinados
"demonstram que algumas das URLs não podem ser consideradas como
pertencentes a um novo movimento em curso, claramente coordenado e orgânico, e
nova replicagem, de forma circular, desse mesmíssimo conteúdo ofensivo e
inverídico".
"São
veiculações de reportagens jornalísticas que já se encontravam veiculadas
anteriormente, sem emissão de juízo de valor", disse.
Moraes
havia mandado retirar do ar dois vídeos e dois textos jornalísticos com
afirmações de Jullyene Lins, atendendo a um pedido feito pela defesa de Lira.
A
decisão abrangia vídeo de uma entrevista feita pela Folha de S.Paulo em 2021
com Jullyene, outro da Mídia Ninja, uma reportagem do portal Terra e outra do
Brasil de Fato sobre o caso.
Na
entrevista à Folha de S.Paulo, feita em Alagoas em 2021, a ex-mulher de Lira
disse que o parlamentar, então candidato à presidência da Câmara, a agrediu
fisicamente e depois a ameaçou para que mudasse o seu depoimento no processo em
que afirmou ter sido agredida pelo deputado, em 2006. Após esse recuo, Lira foi
absolvido em 2015.
Na
terça, Moraes fixou um prazo de duas horas para a remoção, o que incluía
"qualquer postagem com conteúdo veiculando matéria idêntica a dos URLs
acima mencionados, sob pena de multa diária de R$ 100 mil".
O
ministro tem concedido nos últimos dias ordens de remoção de perfis e páginas
na internet a pedido de Lira.
A
reportagem em vídeo da Folha de S.Paulo foi derrubada da página do jornal no
YouTube por volta da meia-noite. O relato de Jullyene também deu origem a um
texto escrito, que não foi incluído no pedido de censura de Lira a Moraes.
Jullyene
foi casada por dez anos com o deputado, com quem tem dois filhos. Na entrevista
à Folha de S.Paulo em 2021, ela chorou quatro vezes e mostrou deformações no
abdômen causadas pelas supostas agressões da época. Em outubro de 2020, havia
solicitado à Justiça de Alagoas medidas protetivas contra o deputado.
"Me
agrediu, me desferiu murro, soco, pontapé, me esganou", disse. "Ele
me disse que onde não há corpo, não há crime, que 'eu posso fazer qualquer
coisa com você'", afirmou. "Aquilo era o machismo puro, o sentimento
de posse."
Ela
afirmou ainda ter sido usada como laranja. "Ele abriu uma empresa com meu
nome e até hoje não tenho vida fiscal."
A
reportagem na época procurou Lira, que, em nota assinada por seu advogado,
afirmou que o conteúdo das declarações de sua ex-mulher era
"requentado" e que ele havia sido absolvido das acusações dela pelo
STF. As declarações de Lira foram colocadas nos conteúdos divulgados pela Folha
de S.Paulo.
"O
resultado deste processo é de conhecimento público, inclusive, por parte deste
veículo de comunicação, de forma que a repetição e veiculação da falsa
acusação, atrai a responsabilidade penal e cível não só de quem a pratica, mas
também de quem a reproduz, ante a inequívoca ciência da sua falsidade",
disse a nota assinada pelo advogado Fábio Ferrario incluída na reportagem.
Fonte: Folha de São Paulo
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