(*)
Percival Puginna
Deveríamos pensar mais na política como um campeonato de muitos jogos pois essa perspectiva enriquece a percepção de erros e acertos. O direito de participar do jogo é conquistado mediante decisões bem tomadas.
O
objetivo deste artigo, porém, não é ensinar a vencer eleições, pois sequer
tenho credenciais para isso. O que pretendo é chamar a atenção para um fato bem
simples: no jogo político, como em qualquer outro, um conjunto de regras
determina a conduta dos jogadores e o modo de jogar. A maior parte dos
disparates que observamos na política brasileira ao longo de sucessivas
legislaturas, governos e administrações é consequência das regras
inconvenientes determinadas para nosso modelo institucional (financiamento
público dos partidos e das campanhas, emendas parlamentares, foro privilegiado,
eleição proporcional, excesso de siglas encarecendo a formação de maiorias,
etc.). Eleições presidenciais são o tônico do populismo!
Há,
contudo, uma diferença essencial entre o jogo da política e todos os demais:
nela, a regra determina, também, quem joga. A eleição proporcional para os
parlamentos, por exemplo, atrai políticos com o perfil que hoje se tornou
majoritário no país; a eleição distrital recrutaria candidatos com outro
perfil, interessados em ouvir a opinião de todos cidadãos, bem como a pôr os
pés na calçada e os pneus na estrada.
Boas
regras nascem do propósito de proporcionar bons resultados. Na política, isso
significa parlamentos que efetivamente representem as opiniões ou consensos
existentes na sociedade e governos qualificados para as tarefas que
correspondem a seus titulares. Quando isso acontece apenas ocasionalmente e em
número reduzido de casos, muito provavelmente o problema está na regra. Nosso
modelo eleitoral para eleições de deputados e vereadores, dito proporcional, é
péssimo. Tão sofisticado nos cálculos e na “proporcionalidade” e tão propício a
que representantes vendam votos e apoio a quem comanda o caixa, omitindo-se na
representação de seus eleitores. Com as regras do voto distrital, isso muda
radicalmente.
O
leitor já sabe que nossos problemas têm causas institucionais. Instituições mal
concebidas que privilegiam a representação e não os representados, protegem o
Estado e não a sociedade. Junto a isso, regras erradas e urnas herméticas,
opacas, que os sacerdotes da Sagrada Ordem das Urnas Sem Impressora consagram
como cristalinas e diáfanas.
“E
a regra nº 1, qual é?”, perguntará o leitor, vendo que concluo o texto.
Pois
então. A regra nº 1 diz assim: “O juiz não joga.”
(*)
Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do
Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e
em outros websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara,
Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma
centena de jornais.
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