As
coisas no Brasil funcionam assim. A corrupção levou até as moedinhas?
Convoquem-se os ladrões. A política ficou suja e eleitores vendem votos a
políticos que, depois, vendem os próprios votos nos parlamentos? “Estanque-se a
sangria”, acabe-se com a Lava Jato, reelejam-se os patifes, expurguem-se os
mais sérios. A democracia corre perigo, instale-se a censura. A insegurança é
uma vergonha nacional? Chame-se o partido que não gosta da polícia, que defende
penas curtas, desencarceramento, saidinhas e bandido na rua. As redes sociais
fecharam a porteira do paraíso onde a oligarquia era feliz e não sabia?
Instale-se a censura, prendam-se os recalcitrantes. O povo quer protestar? Que
o faça em silêncio e, se falar, não desagrade as cortes.
Estou
mergulhando na essência da “racionalidade” à moda da casa! Vamos em frente. O
governo quer gastar mais? Criem-se novos tributos para esfolar quem produz.
Faltam recursos financeiros para o futebol, para os esportes, para os
hospitais? Crie o governo vários joguinhos e tome dinheiro dos trouxas.
Transforma-se o país, então, numa sinecura em que se institucionalizaram as
mais criativas maneiras de lucrar com a esperança dos miseráveis. Cometem-se
centenas de milhares de abortos por ano? Encarregue-se o governo de executar a
chacina com as luvas esterilizadas da irresponsabilidade pessoal. Aborto
público, gratuito e de qualidade, ora bolas!
É
também por essa linha que andam os defensores da legalização das drogas e de
seu comércio. Converteram-se elas em flagelo social? Encarregue-se o Estado de
produzi-las e servir pó em bandeja para a farra dos usuários. Ou então, crie-se
um sistema de quotas para traficantes e consumidores, fracionando-se o mercado.
Afinal, alega-se, a repressão é inútil e só tem servido para enriquecer o
submundo do crime. Poderíamos fazer algo semelhante com o contrabando, com os
sequestros, com o estelionato e com os crimes cibernéticos. Viveríamos em paz
num mundo onde só fake news seriam, enfim, duramente penalizadas.
Tributadas
essas operações pelo leão da receita, as taxas e impostos estabelecidos
permitirão que, em vez de perdermos cem por cento, recuperemos uma boa parte do
que os bandidos nos levam. E os mercados dormirão em paz.
São
tolices, sim, que fazem lembrar mais uma vez Tito Lívio sobre a Roma de seu
tempo: “Chegamos a um ponto em que já não podemos suportar nossos vícios nem os
remédios que os poderiam curar”.
N.A.: Texto inspirado em artigo que publiquei em setembro de 2018 na Gazeta do Povo. Como se vê, antecipei muito do que aconteceria quatro anos mais tarde.
(*) Arquiteto, empresário, escritor, titular
do site Liberais e Conservadores, colunista de dezenas de jornais e sites no
país. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente,
artigos para vários jornais do Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de
escrever o seu próprio blog e em outros websites de expressão nacional, a
exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna
é reproduzida por mais de uma centena de jornais.
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