Acredite,
se puder. O portal Metrópoles informa que o coronel Jorge Eduardo Naime elogiou
o ministro Alexandre de Moraes enquanto prestava depoimento ao STF, de forma
virtual, no último dia 21. Disse o coronel: “Os atos [de 8 de janeiro] foram
muito graves, não podemos admitir que tornem a acontecer dentro de um Estado
democrático de direito. As medidas do STF deveriam ter sido tomadas, agradeço
algumas inclusive. […] Precisava de uma reação do Alexandre de Moraes”.
O
coronel não estava no Brasil no dia 8 de janeiro. Ficou preso durante 461 dias
ao longo dos quais precisou de diversos atendimentos médicos. Em dez ocasiões,
o STF rejeitou pedidos de soltura formulados por seu advogado. Ele foi
finalmente posto em liberdade no dia 13 deste mês de maio.
Claro
que você pode encontrar explicações para isso nos meandros da alma humana.
Inclusive, um desses fenômenos, estudados pela psicologia como síndrome, ganhou
nome nos acontecimentos de Estocolmo. Contudo, não se trata de um fenômeno comum,
bem ao contrário. O mais frequente é que o sujeito do cativeiro desenvolva
sentimentos de animosidade a quem o mantém preso.
O
próprio Supremo tem emitido decisões que atribuem à Lava Jato o uso da prisão
do réu como instrumento de pressão para obter colaborações premiadas úteis à
investigação de fatos em torno dos quais faltassem elementos de prova à
acusação. O STF dá a isso, de modo muito abrangente, o nome de tortura.
Como
desconheço o fato transcorrido entre 10º e o 11º pedido de soltura (segundo
deduzo da matéria do jornal Metrópoles), fico a indagar-me o que terá
modificado a situação do coronel Eduardo Naime. Se não houver um fato
processual, cabe a pergunta: se podia soltar no 461º dia, por que não soltou
antes? Se não podia soltar antes, por que soltou agora?
Fatos
como esse – e fatos como esse são tão comuns! – ofendem o senso de justiça
porque parecem revelar a face escura do arbítrio, no lado reverso do estado de
direito e da liberdade.
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