CANOAS
(Reuters) -O número de mortes confirmadas em decorrência das chuvas intensas no
Rio Grande do Sul subiu para 116, ante 113 relatadas na manhã desta
sexta-feira, com 143 pessoas desaparecidas, informou a Defesa Civil do Estado
em balanço divulgado na tarde desta sexta-feira.
Em
seu comunicado, o órgão também relatou que o número de desalojados pela crise
está em mais de 337 mil, sendo que 437 municípios gaúchos, de 497 no total,
foram afetados pelos eventos climáticos. Mais de 1,9 milhão de pessoas foram
atingidas.
As
chuvas intensas provocaram o aumento do nível de uma série de rios no Estado,
causando enchentes de grandes proporções em diversas cidades gaúchas e afetando
os esforços das equipes de resgate para alcançar sobreviventes.
Ainda
assim, segundo dados da Defesa Civil gaúcha, mais de 70 mil pessoas e quase 10
mil animais já foram resgatados por um efetivo de mais de 27 mil pessoas que
atuam nos esforços de resgate com mais de 3 mil viaturas, 41 aeronaves e 340
embarcações.
Em
meio à tragédia, o maior desastre climático da história do Estado, os gaúchos
passaram a enfrentar uma crise de abastecimento, com a escassez de alimentos e
outros suprimentos básicos. Entidades e instituições de todo o país têm
promovido doações de itens para a região, mas as enchentes têm dificultado a
chegada dos suprimentos.
O
aeroporto da capital Porto Alegre, com a pista submersa, está fechado desde a
semana passada e a Força Aérea Brasileira iniciou o lançamento aéreo, com
para-quedas, de donativos para pessoas que estão em áreas isoladas.
O
governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), voltou a alertar em
entrevista coletiva nesta sexta que mais chuvas estão previstas para o Estado
nos próximos dias, principalmente no domingo e na segunda-feira, indicando que
os níveis dos rios podem atingir patamares superiores aos atuais.
Já
na manhã desta sexta voltou a chover forte em Porto Alegre, onde o nível do Rio
Guaíba pode voltar a subir e atingir novamente a marca de 5 metros. Segundo
dados oficiais, o rio -- que tem volume de inundação de 3 metros e chegou a 5,3
metros nesta semana -- estava em 4,7 metros nesta manhã, mantendo tendência de
queda até então.
As
chuvas também devem contribuir para novas cheias em outros rios em todo o
Estado, alertaram autoridades.
"Insistir
com a população para que mantenhamos os alertas, mantenhamos todos sob atenção
em função do que temos de expectativas de chuvas que vão impactar essas
localidades", disse Leite em entrevista coletiva.
O
governador também voltou a insistir para que pessoas resgatadas durante a
tragédia ainda não retornem para áreas de risco, já que as chuvas devem
provocar novos deslizamentos e cheias de terra em regiões ainda encharcadas
pelos temporais recentes.
O
governo estadual ainda relatou nesta sexta-feira que existem mais de 163 mil
pontos sem energia elétrica no Estado, enquanto 26 municípios estão sem
serviços de telefonia e internet e mais de 385 mil moradores não possuem
abastecimento de água no momento.
De
acordo com comunicado do Estado, há 75 trechos em 47 rodovias estaduais com
bloqueios totais ou parciais por conta das chuvas e suas consequências.
LUTO
E MEDO EM ABRIGO
Em
Canoas, próximo à capital Porto Alegre e uma das cidades mais afetadas pelos
eventos climáticos até o momento, cerca de 6 mil sobreviventes se reuniam em
uma quadra da Universidade Luterana, que se transformou em um abrigo
emergencial para pessoas desalojadas pelas enchentes.
"A
gente está aqui só pela solidariedade de outras pessoas. É difícil", disse
a sobrevivente Aparecida de Fátima Fagundes à Reuters, acrescentando que está
tendo dificuldades para dormir tranquilamente em meio às incertezas geradas
pela crise.
Enquanto
aguarda no abrigo em busca de descobrir as perspectivas para seu futuro,
Aparecida tenta passar o tempo brincando com seu neto, mas as lembranças do que
considera "o dia mais difícil" de sua vida sempre retornam.
"Vem
aquele filme na cabeça da gente das pessoas pedindo 'socorro, socorro'. O
helicóptero salvando as pessoas. Era um cenário horrível", relatou.
Ela
ainda contou que um sobrevivente teve seus itens roubados no abrigo, gerando um
temor que complementa os já existentes sentimentos de perda e luto.
(Reportagem
adicional de Lisandra Paraguassu, em Porto Alegre, e Eduardo Simões e Fernando
Cardoso, em São PauloEdição de Pedro Fonseca)
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