Ao
menos dez apoiadores do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) que foram condenados pelos atos antidemocráticos de 8
de Janeiro quebraram as tornozeleiras eletrônicas, que foram impostas como
medida cautelar pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, e fugiram do País. Os fugitivos foram
para a Argentina e o Uruguai, utilizando as fronteiras de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Sete dos fugitivos já foram condenados a mais de 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por participarem da tentativa de golpe de Estado. As informações são do portal UOL. Ao Estadão, advogados que representam dois dos vândalos afirmaram que desconhecem a localização dos seus clientes.
Seis
dos dez fugitivos são mulheres e a média de idade é de 50 anos. Eles são
moradores dos Estados do Paraná, Goiás,
Santa Catarina, São
Paulo e Minas Gerais.
O Estadão procurou
o STF, a Polícia Federal e as embaixadas da Argentina e
do Uruguai no Brasil, mas não obteve retorno. Não há alertas públicos da Organização Internacional de Polícia Criminal
(Interpol) sobre os foragidos.
Daniel
Luciano Bressan
Um
dos fugitivos é Daniel Luciano Bressan, de 37 anos, que morava em Juçara (PR).
Ele é réu em uma ação penal que ainda será julgada pelo STF. Ele está na
Argentina e alega estar “devidamente documentado”. Nas redes sociais, ele
divulga e disponibiliza a própria conta bancária para a venda de “pulseiras
patriotas”, que é utilizada como forma de financiar outros condenados que estão
no exterior.
Bressan diz ser um preso político e realizou, na última sexta-feira, 10, uma
rifa de um Fiat Uno 2015, avaliado em cerca de R$ 35 mil, como forma de
arrecadar fundos.
O Estadão não
conseguiu contato com a defesa de Daniel Luciano Bressan.
Ângelo
Sotero
O
músico Ângelo Sotero, de 59 anos, é morador de Blumenau (SC)
e foi condenado pelo STF a 15 anos e seis meses de prisão pelos crimes de
tentativa de golpe de Estado e associação criminosa em novembro do ano passado.
Ele
foi preso enquanto invadia o Palácio do Planalto, mas foi solto em agosto do ano
passado, mediante uso de tornozeleira eletrônica. Há cerca de um mês, ele
quebrou o equipamento e fugiu para a Argentina, utilizando a fronteira do
município catarinense de Dionísio Cerqueira.
Ao Estadão,
o advogado de Ângelo, Hemerson Barbosa, disse que não tem conhecimento do
paradeiro do músico.
Gilberto
Ackermann
Outro
catarinense que fugiu do território brasileiro é o corretor de seguros Gilberto
Ackermann, de 50 anos, que reside em Balneário Camboriú. Ele foi condenado a 16 anos e seis
meses de prisão em outubro do ano passado. A Corte considerou que fotos e
mensagens recuperadas no celular dele mostram que ele foi a Brasília para
participar dos atos golpistas e esteve na linha de frente das invasões.
No
dia 25 de abril, a 1º Vara Criminal de Camboriú ordenou que o STF fosse
comunicado “com urgência” de que a sua tornozeleira parou de funcionar. A
informação chegou na Corte apenas no dia 29, em um malote digital.
Ao Estadão,
a advogada que representa Ackermann disse que não sabe do paradeiro do seu
cliente. Segundo ela, o catarinense entrou no Palácio do Planalto após a
invasão golpista e não “quebrou nada” no 8 de Janeiro.
´”É
uma condenação totalmente injusta. Ele é um preso político, ele não fez nada.
Esses processos são uma aberração jurídica. As provas do processo não foram
analisadas, pelo contrário, o que foi analisado foi em desfavor do meu cliente.
Ele é uma pessoa correta, uma pessoa de princípios. Quando ele me falou que não
quebrou nada, eu acredito”, afirmou a defensora.
Raquel
de Souza Lopes
Moradora
de Joinville, em Santa Catarina, Raquel de Souza Lopes também
fugiu para o território argentino em abril. Junto com Ackermann, ela foi
condenada a 16 anos e seis meses de prisão em outubro.
A
Polícia Federal encontrou no celular de Raquel diversas fotos e filmagens
dentro do Palácio do Planalto, durante os atos golpistas. Em um dos vídeos, ela
comemora o que achava que foi a chegada das Forças Armadas para concretizar o
golpe de Estado.
Ao Estadão,
a advogada Shanisys Massuqueto, que representa Raquel, se negou a falar sobre o
paradeiro de Raquel. “O nosso escritório não está falando com os jornais sobre
esse caso”, afirmou a defensora.
Luiz
Fernandes Venâncio
Na
Argentina, também está o empresário Luiz Fernandes Venâncio, de 50 anos, que
morava na capital paulista. Ele é réu em uma ação penal que ainda será julgada
pelo STF.
Nas
redes sociais, ele publicou um vídeo na frente da Casa Rosada, sede do governo
argentino, onde diz que pediu asilo político ao governo do presidente Javier
Milei, que é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O Estadão entrou
em contato com a defesa de Luiz Fernandes Venâncio, mas não obteve retorno.
Flávia
Cordeiro Magalhães Soares
No
dia 8 de fevereiro deste ano, o ministro Alexandre de Moraes ordenou a prisão
da empresária Flávia Cordeiro Magalhães Soares, de 57 anos. Ela é investigada
por disseminar notícias falsas sobre a lisura das eleições de 2022 nas redes
sociais.
Ela
afirma que tem cidadania norte-americana e que não vai ao Brasil por lá ser uma
“ditadura muito grande”. No mandado de prisão, Moraes afirma que Flávia utiliza
o passaporte internacional para “ingressar e sair do país sem se submeter às
autoridades nacionais, o que já constitui motivo suficiente para a decretação
da prisão preventiva”.
O Estadão não
encontrou a defesa de Flávia Cordeiro Magalhães Soares.
Alethea
Verusca Soares
Moradora
de São José dos Campos (SP), a cabelereira Alethea
Verusca Soares, de 49 anos, foi condenada a 17 anos de prisão por abolição
violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado, golpe de Estado,
deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa.
Em
depoimento ao STF, ela afirmou que foi à Brasília no dia 8 de Janeiro de 2023
para conseguir “mais transparência acerca de como ocorreram as votações e
segurança das urnas eletrônicas”. Ela foi presa durante os ataques, mas foi
solta em agosto do ano passado por ordem de Moraes.
Em
janeiro, ela fugiu para o Uruguai utilizando a fronteira terrestre do município
gaúcho de Santana do Livramento. Segundo o UOL, ela deixou o território
uruguaio e foi para a Argentina no mês passado.
O Estadão entrou
em contato com a defesa de Arethea Verusca Soares, mas não obteve retorno.
Rosana
Maciel Gomes
Rosana
Maciel Gomes, moradora de Goiânia (GO)
de 50 anos, foi condenada a 13 anos e seis meses de prisão em novembro do ano
passado por participar dos atos antidemocráticos. No aparelho celular dela, os
investigadores encontraram mensagens voltadas para “efetivar a ação
antidemocrática, interromper o Estado Democrático de Direito e prevalecer o
golpe de Estado com intervenção militar”.
Ela
está foragida desde 15 de janeiro. Assim como Alethea, ela foi para o Uruguai
utilizando a fronteira de Santana do Livramento e ingressou na Argentina em
abril. Por conta da fuga, o STF confiscou as contas bancárias dela.
O Estadão entrou
em contato com a defesa de Rosana Maciel Gomes, mas não obteve retorno.
Jupira
Silvana da Cruz Rodrigues
Em
setembro, Jupira Silvana da Cruz Rodrigues foi condenada a 14 anos de prisão
pelo STF por golpe de Estado, deterioração de patrimônio tombado e associação
criminosa.
Moradora
de Betim (MG), ela também fugiu para o Uruguai utilizando a fronteira de Santana
do Livramento, em janeiro deste ano. Em depoimento, ela admitiu ter entrado no
Palácio do Planalto, mas negou ter quebrado vidros e mobílias do prédio
O Estadão entrou
em contato com a defesa de Jupira Silva da Cruz Rodrigues, mas não obteve
retorno.
Fátima
Aparecida Pleti
A
empresária de Bauru (SP) Fátima Aparecida Pleti, de 61 anos, foi a
que teve a condenação mais recente. No mês passado, o STF condenou ela a 17
anos de prisão por participar do vandalismo na Praça dos Três Poderes.
Em
2022, ela trabalhou na campanha do candidato a deputado estadual Luiz Carlos
Valle (PL-SP), que não se elegeu. Segundo a prestação de contas de Valle ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Fátima recebeu R$
2 mil pelos serviços.
No
último dia 26 de março, enquanto ainda estava sendo julgada, ela quebrou a
tornozeleira eletrônica. Segundo o UOL, a autoridade penitenciária do
governo de São Paulo só informou o STF duas semanas depois.
O Estadão entrou
em contato com a defesa de Fátima Aparecida Pleti, mas não obteve retorno.
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