Foto: Reprodução/X/Emmanuel Macron
(*) JR Guzzo
Relações
diplomáticas não são uma atividade recomendada para o exercício da sinceridade,
mas chama a atenção o exagero de hipocrisia que se pratica hoje nas
chancelarias da Europa em relação à agricultura e à pecuária do Brasil. Ainda
há pouco, o presidente da França esteve por aqui fazendo sermões sobre a
necessidade urgentíssima de salvar o planeta da destruição que lhe está sendo
imposta pelos produtores rurais brasileiros.
É
a religião oficial da diplomacia, da política e da elite europeias. O Brasil
“não acompanha as exigências ambientais” que os agricultores da Europa, do
Canadá e de outros paraísos ecológicos são obrigados a obedecer. Ou seja: o
agro brasileiro faz “concorrência desleal”, destrói o meio ambiente e envenena
as pessoas.
O
pensamento único dos governos, grandes empresas e universidades da Europa
aumenta, ano após ano, a bateria de restrições aos produtos da atividade rural
no Brasil. Para serem exportados, precisam de certidões de inocência a respeito
de tudo: não podem vir de áreas que foram “desflorestadas”, ou perturbar a
“cultura indígena”, ou envolver “trabalho infantil”, afetar o cerrado ou
estressar os bagres do Rio Xingu.
O
Brasil é sistematicamente acusado de delinquência ecológica pelos países ricos.
Não tem nada a ver com o meio ambiente. Tem tudo a ver com a guerra contra o
agro brasileiro.
Nada
disso tem impedido a produção do campo no Brasil, cada vez mais, de aumentar,
melhorar e tornar-se mais competitiva nos mercados mundiais. Também não tem
impedido, de outro lado, que a agricultura e a pecuária da Europa continuem no
seu longo processo de decadência. O fato, no mundo das realidades, é que a
crise do campo nos países europeus tem a ver com a legislação cada vez mais
destrutiva que os governos adotam contra os seus produtores rurais – e não com
o Brasil.
A
verdade é que o Brasil tem uma ficha cada vez mais limpa em relação ao seu
comportamento ambiental – enquanto as nações europeias, que destruíram o seu
meio ambiente há séculos e praticamente eliminaram ali a vida natural, exigem
que o agro brasileiro faça hoje mais do que elas jamais fizeram. Quem sabe, se
a agropecuária brasileira se tornar tão cara quanto é na Europa, o setor rural
europeu consiga equilibrar a competição?
Uma
das demonstrações mais flagrantes da hipocrisia ambiental da Comissão Europeia
é a sua decisão de eliminar a exigência de que os agricultores deixem 4% de sua
terra reservadas à preservação. Nem 4%? Nem isso. No Brasil, a área que os
produtores rurais não podem tocar em suas propriedades é cinco vezes maior, ou
20% da terra. Isso no mínimo: as porcentagens vão subindo de acordo com as
caraterísticas da área cultivada, e chegam a 80% na Amazônia, essa mesma que
eles dizem que estamos devastando.
É
tudo um jogo sujo. O Código Florestal brasileiro, um exemplo mundial de
legislação eficaz e inteligente para a preservação da natureza, faz que o
Brasil continue, em pleno século XXI, a ter as maiores florestas nativas do
mundo. Mas o Código não é reconhecido pela Europa, e o Brasil é sistematicamente
acusado de delinquência ecológica pelos países ricos. Não tem nada a ver com o
meio ambiente. Tem tudo a ver com a guerra contra o agro brasileiro.
Fonte: Gazeta
do Povo
(*) José Roberto Guzzo,
mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos
jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da
qual integra também o conselho editorial.
Não deixe de curtir nossa página Facebook e
também Instagram para
mais notícias do Blog do professor TM
AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Blog do professor Taciano Medrado. Qualquer reclamação ou reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios serão excluídos sem prévio aviso.
Postar um comentário