(*) JR Guzzo
O
Tribunal Regional Eleitoral do Paraná tem diante de si, nos próximos dias, a
oportunidade de mostrar aos brasileiros que ainda é possível encontrar juízes
de direito no Brasil – segundo o entendimento universal do que deve ser um juiz
de direito. Tem diante de si a votação decisiva no julgamento do senador Sergio
Moro, no momento em 1 a 1, e pode escolher aí entre servir à Justiça ou obedecer
ao sistema de depravação que está liquidando o processo legal, os direitos
civis das pessoas e o valor das eleições.
Se
decidir que Moro tem o direito de continuar como senador, o TRE estará
respeitando a decisão democrática do povo do Paraná, que lhe deu quase 2
milhões de votos nas últimas eleições. Mais ainda, estará declarando que o
respeito à lei não foi totalmente eliminado deste país. Se decidir pela sua
cassação, ao contrário, vai se associar às esquadras de linchamento político
que tomaram o lugar, as prerrogativas e os deveres do sistema judicial no
Brasil destes últimos anos.
A
cassação do mandato de Sergio Moro, disfarçada pela hipocrisia da “anulação do
registro”, seria mais um prego no caixão de uma democracia a caminho do
cemitério.
O
julgamento de Moro não tem nada a ver com legislação eleitoral, ou qualquer
coisa parecida com a lei. É pura e simplesmente, desde o começo, uma vingança
pessoal do presidente Lula contra um dos juízes (foram nove ao todo) que o
condenaram à prisão pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. Qual a dúvida que pode haver em relação a isso, quando o próprio Lula
afirmou com todas as palavras, em vídeo que está gravado: “Só vai estar bem
quando eu f* esse Moro”.
É
o que o regime hoje em vigor, do consórcio Lula-STF, encomendou ao TRE do
Paraná – com o apoio, no caso, do partido do ex-presidente Bolsonaro, que quer
a vaga de Moro para si. É uma briga de sarjeta para ninguém botar defeito.
Razão legal para cassar o mandato não existe nenhuma: o máximo que puderam
inventar foi uma teoria amarrada com barbante segundo a qual Moro não poderia
ser candidato a senador porque já tinha sido candidato a presidente e desistido
da disputa. As verbas partidárias que gastou então, segundo os acusadores, provocaram
um “desequilíbrio” na competição pelo Senado – como se Moro, naquela altura,
precisasse de verba do partido para se tornar conhecido dos eleitores.
A
cassação do mandato de Sergio Moro, disfarçada pela hipocrisia da “anulação do
registro”, seria mais um prego no caixão de uma democracia a caminho do
cemitério – e uma declaração pública, por parte do consórcio Lula-STF, que a
vontade do povo do Paraná não vale nada. Mesmo que o TRE se decida a aplicar a
lei e a fazer justiça, porém, o regime pode continuar com o seu projeto de
vingança.
O
caso deverá ir para a decisão final do TSE, a polícia eleitoral a serviço de
Lula, do ministro Alexandre Moraes e da esquerda em geral – e ali a única lei
que vale é aquilo que eles querem. Já cassaram o mandato de outro inimigo
político: o deputado Deltan Dallagnol, também do Paraná, que recebeu 350 mil
votos e foi o mais votado do estado. Inventou-se que ele não tinha “ficha
limpa” para se candidatar, o que não apenas é falso mas um deboche aberto, num
país em que o presidente da República foi condenado em três instâncias da
Justiça como ladrão. É a democracia do TSE. Pode haver eleição. O que não pode
haver é adversário.
Fonte: Gazeta
do Povo
(*)
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro,
colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste,
publicação da qual integra também o conselho editorial.
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