(*) JR Guzzo
É
um certificado trágico do colapso da moral na vida pública brasileira a reação
histérica, rancorosa e violenta do regime e de quase toda a mídia contra o
empresário Elon Musk, controlador do Twitter-X – o mais recente “inimigo da
pátria” criado pelo consórcio STF-Lula e por seu sistema de apoio. Musk fez o
que, em qualquer época e circunstância, é uma indiscutível declaração em favor
da liberdade de expressão.
De
maneira mais clara, em favor da liberdade de expressão no Brasil, onde vem
sendo sistematicamente perseguida por uma junta de governo que nos últimos anos
criou um sistema ilegal de censura neste país e tem cometido centenas, ou
milhares, de violações à lei sob o disfarce de “decisões judiciais”.
Foi
como se Musk tivesse ameaçado jogar uma bomba de hidrogênio em cima de
Brasília, usando, talvez, um dos seus foguetes espaciais destinados à rede de
comunicações.
E
qual é a reação do governo, dos seus agentes e da maioria dos jornalistas?
Ficam todos indignados contra Musk – isso mesmo, contra Musk, e não contra a
censura e a agressão aos direitos civis e às liberdades públicas. Chegamos à um
ponto de deformação tão extremo que o seu manifesto em favor da liberdade é
descrito por todos eles como uma “ameaça” ao país. Como a liberdade poderia
“ameaçar” alguém? É um passo a mais rumo à demência.
Elon
Musk anunciou, ao longo do fim de semana, que o Twitter-X tinha tomado a
decisão de levantar as restrições criadas no Brasil contra contas na plataforma
– na prática, a proibição, decretada por Alexandre Moraes em afronta aberta à
lei, de adversários do regime publicarem o que pensam no Twitter, e serem lidos
por outros usuários. Qual o crime de se propor uma medida em favor da
liberdade? Não pode, por definição, haver nada de errado com isso, nunca. Mas
foi como se Musk tivesse ameaçado jogar uma bomba de hidrogênio em cima de
Brasília, usando, talvez, um dos seus foguetes espaciais destinados à rede de
comunicações.
Foi
acusado, com extremos de indignação, de “interferir nos assuntos internos do
Brasil, “desrespeitar” a Justiça brasileira, tratar o país como “uma terra sem
lei” – como se houvesse alguma lei no Brasil que não possa ser violada dia e
noite pelo STF. Num momento especial de delírio, Musk foi incluído pelo
ministro Alexandre Moraes como “investigado” no seu inquérito perpétuo contra
as “milícias digitais, por “obstrução da justiça em organização criminosa” e
“incitação ao crime”. E agora: vai apreender o passaporte do homem? Vai mandar
depor na Polícia Federal?
Vai
fechar o Twitter no Brasil?
Elon
Musk apenas disse, e esperou muito tempo para dizer, o que já diz há anos a
mídia independente do Brasil, incluindo a Gazeta do Povo: o STF e o ministro
Moraes criou e comanda um esquema de censura nas redes sociais. Como Musk é
personalidade mundial, levantou-se esta excitação toda.
A
questão, agora, é averiguar o nível de infâmia em que está localizada hoje a
consciência dos presidentes da Câmara e do Senado brasileiros, os únicos que
podem tentar fazer alguma coisa concreta contra a anarquia legal que o STF
criou no país. É uma vergonha, entre tantas outras, que vejam um empresário
estrangeiro se levantar contra a ditadura hoje em vigor – quando fazer isso é o
dever elementar dos dois. O pior cenário é se juntarem ao linchamento.
Fonte: Gazeta
do Povo
(*) José Roberto Guzzo,
mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos
jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da
qual integra também o conselho editorial.
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