Amputação eleitoreira. Diz editorial do Estadão

 


Pinçar o trecho que determinava o fim da desoneração dos municípios com até 156 mil habitantes da Medida Provisória (MP) 1.202/23, antes de prorrogá-la, foi um recado claro do presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de que todo expediente político é oportuno em ano eleitoral. Amputar a MP da parte potencialmente prejudicial a acordos regionais é apenas um deles, e o fato de ter retirado em torno de R$ 10 bilhões do cálculo fiscal do Ministério da Fazenda para este ano, um mero efeito colateral.


As prefeituras – que teriam, no dia seguinte à prorrogação da MP, suas alíquotas de contribuição previdenciária elevadas de 8% para 20% – foram “salvas” da reoneração pela providencial borracha de Pacheco, que apagou da medida a parte que o incomodava. Alegou, na sucinta justificativa, estar garantindo “a segurança jurídica de todos os envolvidos”. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que negociava com Pacheco as medidas fiscais e disse não ter sido consultado pelo senador, pediu em seguida, quixotescamente, um “pacto” entre Executivo, Legislativo e Judiciário para reorganizar as finanças públicas. A história brasileira mostra que só pede “pacto” quem já não tem muito poder político.


Há tempos a planilha de prioridades político-econômicas do País muda a cada dois anos, de acordo com a temporada eleitoral da vez. E isso não apenas no Congresso, mas no próprio Palácio do Planalto. Difícil imaginar que o bom senso fiscal encontre guarida em um ambiente em que os interesses eleitoreiros tendem a favorecer a farta distribuição de benesses. É cada vez mais evidente que os obstáculos à austeridade fiscal pretendida por Haddad virão não apenas dos parlamentares, mas também de seu chefe, Lula da Silva, que já participa ativamente da formação de alianças municipais para as eleições de outubro.


O ministro da Fazenda aguarda parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre sua intenção de ingressar com recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a desoneração tributária dos municípios. Com um argumento simples, reforça o que diz a lei, que exige compensação financeira para acompanhar todo novo gasto tributário. Trata-se do óbvio, mas neste país o óbvio nem sempre prevalece, sobretudo em meio a campanha eleitoral.


A MP prorrogada (com cortes) por Pacheco prevê também como medidas para aumentar a arrecadação federal a reoneração de 17 setores econômicos, revogada pelo governo em fevereiro, e o fim gradual do Programa Emergencial de Retomada de Eventos (Perse), medida criada durante a pandemia para socorrer setores diretamente afetados pelo isolamento social. O Perse foi mantido apenas formalmente, já que, atendendo aos lobbies do setor, os parlamentares conseguiram que o assunto passasse a ser discutido em projeto de lei. Outro item é a limitação de compensação de créditos tributários por meio judicial acima de R$ 10 milhões.


Se a sustentação prioritária da meta fiscal em medidas arrecadatórias – e não no corte de despesas, como deveria – já compromete sobremaneira o objetivo da equipe econômica, o evidente descompromisso demonstrado pelas lideranças políticas com o equilíbrio fiscal torna a meta inatingível por definição.




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