Foto captura de tela
Ao
menos 24 integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos
Deputados, entre eles 14 titulares, fizeram publicações nas redes sociais
defendendo a anistia aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de Janeiro ou a
políticos declarados inelegíveis por crimes eleitorais. Além do PL, partido do
ex-presidente Jair Bolsonaro, a pauta tem a simpatia pública de deputados do
Republicanos, do Podemos e do União Brasil no colegiado onde tramitam esses
projetos hoje na Câmara.
O
levantamento, realizado pela empresa de análise digital de cenários e reputação
de marcas Codecs a pedido do Estadão, abrange todos os parlamentares
indicados como titulares ou suplentes para as 132 cadeiras da CCJ no total este
ano. Seis deles não eram conhecidos até esta sexta-feira, 8, e ficaram de fora.
Dados mostram ainda que outros 24 parlamentares criticaram publicamente as
propostas, todos da base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O
restante dos deputados, configurando a maioria, silenciou sobre o assunto em
suas contas de Facebook, Instagram, TikTok e X, antigo Twitter.
Apesar
de o grupo contrário ter feito quase dez vezes mais publicações, 1.337 contra
135 conteúdos nas redes, o engajamento é consideravelmente maior pelo lado de
quem defende anistiar manifestantes e políticos. Das 20 publicações com mais
interações (curtidas, comentários e compartilhamentos), 16 foram do grupo
favorável aos projetos.
Ao
todo, seis projetos de lei que tratam da anistia aos envolvidos no 8 de janeiro
estão tramitando conjuntamente na CCJ da Câmara. Até esta semana, eles estavam
sob relatoria da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que apresentou
parecer contrário à constitucionalidade da matéria. O presidente da CCJ no ano
passado, deputado Rui Falcão (PT-SP), no entanto, preferiu não arriscar uma
derrota e adiou a entrada na pauta.
Em
conversa com o Estadão na semana passada, a deputada havia
manifestado preocupação em perder a relatoria dos projetos caso o comando da
CCJ passasse para as mãos de um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro. O
próprio PSOL, no entanto, retirou dela a possibilidade de continuar na função
ao deixar a deputada ausente da nova composição este ano. Cabe agora à nova
presidente da CCJ, a deputada federal Caroline de Toni (PL-SC), delegar a
responsabilidade a outro colega e decidir quando o assunto deve ser analisado.
Caroline
de Toni, aliada de Bolsonaro, afirmou ao site UOL, nesta sexta-feira, 8, que
poderia pautar o projeto de anistia do 8 de Janeiro quando for conveniente.
“Não teria problema nenhum de pautar, porque entendo que houve excessos e que
eles só podem ser corrigidos pelo Congresso Nacional, que pode exercer um papel
de contrapeso”. Ela indicou não saber se há votos suficientes para aprovar a
matéria neste momento e destacou que a decisão da CCJ não é conclusiva, pois o
projeto precisa ir a plenário.
Também
está na CCJ, aguardando relator, um projeto de lei apresentado pelo deputado
Sanderson (PL-RS), com coautoria da própria deputada, que tenta anistiar todos
os condenados por ilícitos cíveis eleitorais ou declarados inelegíveis entre
outubro de 2016 e a data em que a lei vier a entrar em vigor. A medida
beneficiaria diretamente Bolsonaro, que está impedido de disputar eleições por
oito anos por conta de uma reunião com embaixadores antes do pleito de 2022 em
que atacou o sistema eleitoral brasileiro.
O
apelo na pauta de anistia é, naturalmente, maior no PL, que no momento ocupa 13
cadeiras na CCJ. Destes, 10 titulares manifestaram apoio aos projetos, além de
nove suplentes. A campeã de publicações é a deputada Júlia Zanatta (PL-SC).
“Quantas crianças mais crescerão órfãs de mães vivas, presas por motivação
política? Assim como nosso presidente Bolsonaro, defendo anistia já. Tenha
certeza de que haverá muita luta na Câmara para amenizar tamanho sofrimento
causado a essas famílias”, declara em um de seus posts.
Outros
três deputados favoráveis são do Republicanos, partido que ocupa ministérios e
outros cargos no governo Lula, mas se declara independente. Marcelo Crivella
(Republicanos-RJ), inclusive, é autor de um dos projetos na CCJ. Ele quer
anistiar todos os participantes, organizadores e incentivadores de
manifestações políticas após o segundo turno das eleições presidenciais, exceto
no caso de crimes contra a vida e depredação de patrimônio, por exemplo. Em um
dos posts, diz que “muitos patriotas se viram confundidos com criminosos
enquanto lutavam por seus ideais de esperança e justiça”.
Além
deles, o deputado Maurício Marcon (Podemos-RS) fez um post conjunto com outros
parlamentares defendendo a aprovação de um Projeto de Lei da anistia como
“instrumento político” para corrigir uma suposta “falha histórica do
Judiciário”. O União Brasil, outro que indicou ministros na Esplanada, tem no
deputado Nicoletti (União-RR) um defensor da anistia a Bolsonaro. “Foi injusta
a decisão”, opinou o parlamentar em vídeo no Instagram, sobre o julgamento do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ambos são titulares na nova configuração da
CCJ da Câmara.
Pelo
lado de quem critica as propostas de anistia, a maior mobilização parte de
membros do PT. A federação, composta ainda por PV e PCdoB, ocupa 10 cadeiras na
CCJ. O grupo ganha o reforço de membros do PSOL, Rede, Solidariedade e PSB. A
mobilização, grande parte com o mote “Sem anistia”, se deu principalmente em
momentos-chave do noticiário, como a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) do 8 de Janeiro, o “aniversário” do atentado de Brasília e fatos
relacionados a Bolsonaro.
A
CCJ é considerada a comissão mais importante da Câmara, porque tem a
responsabilidade de analisar a validade jurídica de todas as propostas. Ela
também decide a admissibilidade das propostas de emenda à Constituição. A
distribuição de cadeiras leva em conta o tamanho das bancadas no Legislativo e
o cargo de presidente, que controla o ritmo das votações e determina os
relatores na comissão, prevê votação entre os membros, mas costuma ser decidido
por acordo.
A
oposição, que envolve PL, PSDB, Cidadania, Podemos, PRD e Novo, tem 19
titulares hoje na CCJ. Já o núcleo duro do governo, com PT, PSOL, Rede, PSB,
PDT, PCdoB, PV, Avante e Solidariedade, tem 18 vagas. O restante está
distribuído entre partidos que ocupam cargos em ministérios e, em tese, fazem
parte da base aliada do governo (MDB, PSD, União Brasil, Progressistas e Republicanos).
Há neles, no entanto, parlamentares que criticam abertamente o Planalto, o que
coloca em dúvida o nível de fidelidade.
Segundo
parlamentares consultados, a aprovação de um projeto de anistia aos envolvidos
no 8 de Janeiro é considerada improvável. O assunto ganhou fôlego com a
manifestação na Avenida Paulista, realizada no dia 25, onde o ex-presidente
Jair Bolsonaro fez um apelo ao Congresso. Oposicionistas apontam que não há
interesse neste momento no comando da Câmara e do Senado em dar prosseguimento.
A
proposta precisa passar, além da CCJ, por outras comissões na Câmara e ser
levada a plenário tanto na Câmara quanto no Senado. Mesmo se houver aprovação,
também não se imagina que Lula sancione uma legislação do tipo, o que exigiria
ainda a derrubada do veto. O andamento da pauta deve entrar em negociação nas
disputas pela sucessão de Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no
comando das duas Casas, em 2025, mas há também quem acredite que o tema só
prosperaria sob outro governo.
Do
lado governista, parlamentares rebatem dizendo que nunca foi tão custoso
colocar a digital nesse tipo de projeto em um momento em que a Polícia Federal
fecha o cerco a Bolsonaro em uma investigação sobre uma suposta trama golpista
antes e depois da eleição presidencial passada. Seu ajudante de ordens, Mauro
Cid, fechou acordo de delação premiada e declarou que o ex-presidente editou
uma “minuta de golpe” que previa a prisão do ministro do STF Alexandre de
Moraes e a convocação de um novo pleito.
Fonte: O
post Propostas de anistia ao 8 de janeiro e a Bolsonaro recebem
apoio público de 24 membros da CCJ apareceu primeiro em ISTOÉ DINHEIRO.
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