Por:
Autor: Felipe Espinosa Wang
Por que adiamos
declaração de imposto de renda ou fazer faxina? Por que algumas pessoas
"enrolam" mais do que as outras? Estudos da Universidade de Ohio
encontraram caminhos para escapar do "deixa pra depois".
A procrastinação, o ato de deixar tudo para depois, é um fenômeno bem conhecido. Muita gente procrastina ou conhece alguém que adia tarefas importantes, por exemplo, para fazer atividades mais agradáveis. Rimos disso, compartilhamos memes e, ainda assim, ignoramos deliberadamente o conselho de não deixar para amanhã o que podemos fazer hoje. Mas, você já se perguntou por que algumas pessoas são mais suscetíveis a esse padrão de comportamento?
Russell
Fazio, professor de psicologia, e seu colega Javier Granados Samayoa, ambos da
Universidade Estadual de Ohio, encontraram algumas respostas. A pesquisa,
formada por três estudos, foi publicada recentemente na revista
científica Personality and Individual Differences, e investiga nossas
atitudes e como elas influenciam nossa tendência de adiar o inevitável. Os
pesquisadores descobriram que as pessoas que têm uma visão negativa da vida são
os mestres da procrastinação.
Efeitos
da valência emocional
A
pesquisa se concentra na valência emocional, que descreve como nossas emoções
negativas (aversão) ou positivas (aproximação) assumem o controle em decisões
críticas, por exemplo, na hora de ter de fazer algo que a gente não quer ou
gosta, mas precisa. Ou, como Fazio ressalta, a grande questão é saber qual lado
vai vencer no cabo de guerra, entre o impulso positivo e o negativo, quando
temos algo chato para fazer, como por exemplo, o imposto de renda.
Alunos
que enrolam para estudar, entregar trabalhos, terminam o semestre com notas
mais baixas, mais estresse e um aumento no número de consultas médicas.
Mas,
nem tudo é tristeza e a pesquisa lançou um raio de esperança para o time do
"amanhã eu faço”: com um pequeno empurrãozinho, até mesmo o procrastinador
mais inveterado pode encontrar o caminho para uma melhor produtividade.
"Estamos
estudando as considerações do positivo e do negativo para a tomada de decisões
e como essa ponderação determina o caminho que as pessoas tomam", disse
Granados Samayoa.
A
pesquisa sobre a procrastinação
Em
três estudos, Fazio e Granados Samayoa colocaram suas teorias à prova, desde a
análise da tendência à procrastinação até a análise de como o autocontrole e a
motivação influenciam, por exemplo, os alunos. A descoberta foi animadora: os
que mais procrastinam, os pessimistas com pouco autocontrole, se motivados,
podem procrastinar menos.
"O
primeiro estudo estabeleceu o efeito da ponderação negativa como ativador da
procrastinação, o segundo estudo fornece alguns novos detalhes", diz
Granados Samayoa: "Para as pessoas que não pensam muito, a tendência é
agir de forma direta, como, por exemplo, procrastinar. Mas se houver motivação
e for capaz de pensar mais sobre o assunto, isso pode trazer outras
considerações que atenuam a influência do efeito de valência", acrescenta.
Ou seja, se a pessoa que naturalmente deixaria para depois o imposto de renda,
se for estimulada a pensar sobre ou tiver algum incentivo, pode ser que mude o
padrão e entregue logo os papéis.
O
ideal: nem tão otimista, nem tão pessimista
Por
fim, o terceiro estudo, em um grupo de alunos recrutados por sua
procrastinação, houve estímulo para a mudança da tendência de ponderação da
valência para um ponto mais neutro, o que levou a menos atrasos na participação
em um programa de experiência em pesquisa. É uma descoberta promissora, que
sugere que um pouco de equilíbrio em nossa avaliação de aspectos positivos e
negativos possa ser a chave para superar a procrastinação.
De
acordo com os pesquisadores, ter um viés negativo nem sempre é algo ruim, pois
pode incentivar uma avaliação mais realista de nossas habilidades, oferecendo
uma preparação mais adequada para um exame. Portanto, para Fazio, "É
melhor ser mais equilibrado do que estar em um dos extremos" e que
"ser ponderado é melhor do que ser extremamente otimista ou
pessimista", conclui.
Fonte: Artigo publicado pelo DW Brasil
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