(*) Valter Bernat
Putin
foi eleito mais uma vez, para outro mandato, com 87% dos votos. Das poucas
certezas que tínhamos nesta eleição é ele que sairia dela reeleito para o seu
quinto mandato. Está respaldado pelas mudanças que empreendeu em 2020 na
Constituição russa. Já está no poder há 25 anos e ficará mais dois mandatos
certamente, ficando garantido até 2036.
Putin
sempre cercou-se de cuidados “estratégicos”, eliminando opositores, sem se
importar com a opinião nacional ou internacional e, para dar crédito a seu
teatro de “credibilidade suprema”, permitiu que candidatos fracos concorressem
para perder.
Diz-se
que a Rússia é uma ditadura, mas ali vemos alguns sinais de uma “democracia
russa”, digamos assim, com eleições “livres”, assim como na Venezuela, onde na
teoria o discurso é de normalidade democrática, mas não é isso que acontece na
prática.
Nunca
devemos esquecer que a Rússia é um país continental. Tem 11 fusos horários!!!
Só isso já mostra seu tamanho físico, mas, além disso há o tamanho político.
Assim,
duas perguntas logo me saltam aos olhos:
Algum
dia a Rússia foi uma democracia?
Não!
Ela sempre teve governos autocratas, desde os czares, e não houve mudança
nisso. Se pensarmos bem, ela nunca se acostumou com a construção de uma
democracia. Há 300 anos vem assim. Seu povo já está acostumado.
Uma
outra pergunta é:
O
que é a Rússia hoje para seu cidadão?
A
resposta passa por outra análise, no meu ponto de vista. O homem russo consegue
saber quantos soldados russos morreram na Guerra com a Ucrânia? 2mil, 5mil,
50mil, 200mil? Não! Não há imprensa livre, logo, jamais saberá. Quando se olha
para um país com este retrato pergunta-se: como reelege seu presidente há
tantos anos?
O
Levada Center, que é uma organização independente de pesquisas sociológicas e
não governamental da Rússia, mostra que a popularidade de Putin, antes das
eleições, no ano passado, já era de 80%, maior ainda do que era antes da guerra
com a Ucrânia. Como ele consegue?
Primeiro
com o passado autoritário e, depois, temos que reconhecer que: uma coisa é o
que a gente gostaria que fosse, outra é como ela é. Eles foram altamente
eficientes para lidar com a “economia de guerra”. Eles sabem como e o que
fazer.
Eles
fizeram isso durante a guerra com a Ucrânia. Fizeram uma economia de guerra que
impulsionou sua economia interna. No primeiro semestre de 2023, o orçamento
militar russo cresceu 2,7 sobre o valor anterior – para os ruins de matemática
como eu, cresceu mais de 270%.
A
guerra impulsionou a economia interna, gerou trabalho, gerou emprego e gerou
eficiência, ou seja, uma situação de renda crescente. Esta situação garantiu o
controle da inflação, juros mais baixos e uma vida mais ou menos igual à que
existia antes da guerra.
Apenas
um detalhe que pode ajudar a entendermos sobre o que estou falando:
A
China, no ano passado, vendeu para a Rússia 14bi de dólares (isso mesmo, 14bi)
em automóveis, ou seja, havia renda na Rússia para comprar carro novo chinês.
Isto tem que significar alguma coisa. Além disso, é prova de que as sanções do
Ocidente não surtiram o efeito desejado. A China e a Índia sempre compraram, e
continuam comprando, petróleo e gás russo. A China está fazendo uma
triangulação econômica, para colocar os produtos russos no mercado. Em troca, a
China recebe combustível, comida e o silêncio de Putin.
Estamos
falando de um país que extrai do chão, em um dia, 10 milhões de barris de
petróleo e isso gera dinheiro, e muito!
A
guerra foi e está sendo sustentada por um “Fundo Soberano”, criado por Putin,
com o que ela tinha reservado de seu petróleo e gás, antes da guerra.
As
promessas de Putin aos russos:
Apenas
um exemplo das promessas cumpridas: financiamento imobiliário, com metade dos
juros anteriores, para casais jovens e com filhos pequenos. Dá pra imaginar o
impacto disso nas famílias? A possibilidade de um casal jovem adquirir sua casa
própria com os juros reduzidos à metade?
Então,
isso, e mais as promessas relativas à saúde e educação, também cumpridas até
agora, dão a entender o porquê dos 87% de aprovação na “eleição”.
É
muito diferente das ditaduras latino-americanas tradicionais, onde o povo vive
numa miséria terrível, mas isso não quer dizer que a ditadura russa seja boa,
simplesmente, mostra que é diferente daquilo que a gente, normalmente, tem como
conceito de ditadura de um governo autocrata.
Mas
em que isso tudo afeta o Brasil?
Em
primeiro lugar, compramos muito fertilizante russo, logo, uma economia estável
na Rússia significa um preço estável do fertilizante usado por quem impulsiona
nossa economia, o agronegócio. Há também negócios de ocasião, como por exemplo,
o diesel. A China não precisou comprar tanto diesel, daí eles tiveram que
baixar o preço, o que foi vantagem para nós, que importamos o diesel deles.
Então
concluímos que Putin foi, e está sendo, “bom para o Brasil”…
Talvez
tenhamos que olhar para o futuro da Rússia, não dentro da Rússia, mas sim pra
fora, visando o resultado das eleições norte-americanas. Se ganhar Biden, o
futuro da Rússia e as relações com o Brasil, será um; caso ganhe Trump, será
outro bem diferente!
(*)
Advogado, analista de TI e editor do site.
AVISO: Os
comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do
Blog do professor Taciano Medrado. Qualquer reclamação ou
reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem
de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados
que não respeitem os critérios serão excluídos sem prévio aviso.
Postar um comentário