Os
protagonistas da produção agrícola brasileira — soja e milho — devem ter queda
na produção este ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Em fevereiro, a redução estimada da produção de soja para o
ano é de 1,8% e a do milho de 10,8%. O IBGE estima ainda que a produção de
cereais, leguminosas e oleaginosas em 2024 seja de 300,7 milhões de toneladas —
4,7% a menos do que em 2023, quando o país produziu 315,4 milhões de
toneladas dos produtos.
O
maior vilão dessa redução foi o clima, como explica o economista César Bergo. “
Vários fatores podem influenciar a safra de grãos, mas a principal, sem dúvida,
foram as questões climáticas adversas, como secas em hora errada, inundações.”
O resultado apresentado pelo IBGE vem alinhado com a última pesquisa da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, que também apresentou redução da safra de grãos com relação a 2023, com queda de 7,6%.
Quem vive o dia a dia da lavoura
Para
Leonardo Boaretto, que é produtor de soja, milho e feijão em Niquelândia,
Goiás, é importante que as previsões sejam o mais próximas possíveis da
realidade, pois são essas estimativas de safra que interferem no preço dos
alimentos.
O
produtor explica que nas previsões de dezembro e janeiro já havia uma quebra
concretizada da safra nacional, por conta da irregularidade climática.
“A
falta de chuva e a temperaturas muito altas já tinham causado danos
irreversíveis nas lavouras. E quando eles jogaram essas estimativas lá em cima,
o mercado despencou. O mercado está voltando um pouco agora, mas ainda muito
abaixo do que era de se esperar,” lamenta Boaretto.
Para
Leonardo, já havia a expectativa de quebra de safra, mas não foi anunciada pela
Conab. O que fez com que os preços das commodities despencassem, prejudicando o
produtor brasileiro.
“Quem
precisava vender para fazer caixa foi prejudicado, pois teve que vender no pior
momento, com os preços pressionados para baixo. E quem está com a produção na
mão também vai sofrer, pois se os preços reagirem, vão reagir pouco.”
Quebra de safra e queda da produtividade
Quem
também reforça a importância das previsões serem próximas da realidade do campo
é o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja),
Antônio Galvan. A estimativa de fevereiro do IBGE para a soja foi de 149,3
milhões de toneladas, e vem sofrendo quedas sucessivas nos últimos meses, até
que se chegasse a esse resultado.
“O
ajuste é normal. Nós temos ainda mais de 40% da soja brasileira no campo, para
ser colhida, e temos ainda as regiões com bastante problemas. Menos problemas
climáticos nesse momento, mas com problemas de doenças.”
Com
destaque para os estados da região Sul — que ainda têm muita soja para colher e
estão sofrendo muito com as doenças. Galvan cita a Ferrugem Asiática, que pode
encolher as expectativas de colheita e reduzir a produção do grão nesta
safra.
Ferrugem
asiática
A
ferrugem asiática é um fungo que atinge as lavouras de soja desde 2001,
principalmente no Sul do país. Os produtores se preocupam com a doença pelo seu
alto poder destrutivo — já que, quando não controlada, pode provocar perdas de
até 90% do rendimento de grãos, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa).
A
ferrugem asiática da soja causa lesões nas folhas que costumam ficar amarelas e
causar sua queda, resultando em redução do ciclo.
Fonte: Brasil 61
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