Numa
casa onde se tomam 10 banhos por dia, é difícil economizar na conta de energia.
E essa fatura é uma das que pesam no fim do mês na casa da cabeleireira Vanessa
Gonçalves, de Brasília. Ela mora com o marido e três filhos e gasta, em média,
R$ 600 por mês de luz. Apesar de tanto chuveiro ligado, ela encontrou mais uma
“vilã” a culpar.
“A
culpa é da máquina de lavar – lava e seca –, que fica 24 horas ligada. Somos
cinco pessoas e temos muita roupa para lavar todos os dias”.
O
custo da energia, de fato, impacta na vida do consumidor brasileiro. Um dos
fatores, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), é a
temperatura acima da média — que impulsionou o crescimento do consumo de
energia no país no mês de janeiro de 2024. Com mais aparelhos de
ar-condicionado e ventiladores ligados, o consumo de energia no país cresceu
6,6% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Diante
desse cenário, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) recomenda
aos brasileiros ficar atentos à eficiência energética dos eletrodomésticos,
como ventiladores, lavadoras de roupa, geladeiras, freezers e televisores. Os
aparelhos eficientes são aqueles, segundo o Instituto, que usam “menos energia
para realizar a mesma tarefa ou produzir o mesmo resultado”.
A
coordenadora do Programa de Energia do Idec, Renata Albuquerque, ressalta que a
escolha dos equipamentos é fundamental para reduzir o consumo e minimizar o
impacto do alto custo da conta de energia no orçamento.
“A
economia começa por aí. Sempre que possível, é importante que a pessoa opte
pelos modelos com melhores índices de eficiência energética. Esses modelos são
indicados com a nota A do programa de etiquetagem do Inmetro. É uma etiqueta
bem familiar aos olhos dos brasileiros. Justamente por usar menos energia, o
preço desses produtos acaba sendo compensado em pouco tempo”.
A
Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) ajuda o consumidor a
comparar os aparelhos que consomem menos eletricidade para funcionar. Essa
etiqueta apresenta informações importantes como a escala de eficiência
energética e o consumo de energia mensal.
Geladeira,
a campeã de consumo
Eletrodomésticos
que produzem frio ou calor costumam ser os que mais consomem energia elétrica
dentro de casa. Aparelhos de ar-condicionado, geladeira, ferro de passar roupa,
chuveiro elétrico e sanduicheiras. Segundo o Idec, dependendo do perfil de
consumo de cada residência, as geladeiras podem ser responsáveis por cerca de
30% do consumo doméstico.
“O
consumo da geladeira varia de acordo com o tamanho e a eficiência do
equipamento, mas a forma como o eletrodoméstico é usado no dia a dia também
influencia no gasto no fim do mês. Pequenas mudanças e hábitos fazem a
diferença no fim das contas”, explica a coordenadora do Idec, Renata Albuquerque.
O
Idec lista medidas que podem ajudar a economizar energia dentro de casa.
Com as geladeiras, a orientação é ficar atento na hora da instalação e
consultar o manual do aparelho, respeitando as distâncias indicadas das paredes
ou móveis. Não é recomendável colocar o eletrodoméstico ao lado do fogão ou de
outras fontes de calor, como fornos elétricos. O termostato (sistema que regula
a temperatura da geladeira) deve ser ajustado para não deixar a temperatura
interna a mais baixa possível, garantindo a refrigeração adequada dos alimentos
com segurança e menor gasto de energia. Caso o aparelho não tenha a tecnologia frost
free, é preciso limpar com frequência para evitar a formação de gelo.
“No
caso da cozinha, prestar atenção na sua geladeira: evite abrir as portas
desnecessariamente. Nunca guarde alimentos quentes. Ajuste a temperatura para
garantir que os alimentos vão ter a refrigeração adequada”, ressalta Renata
Albuquerque.
Para
os aparelhos de ar-condicionado, é preciso avaliar a potência adequada ao
tamanho do ambiente onde será instalado. O instituto aconselha ainda os
aparelhos com a tecnologia inverter – que consome menos energia e mantém a
temperatura estável – e com a nota A do Inmetro. No dia a dia, o Idec recomenda
manter portas e janelas fechadas durante o uso, com temperaturas entre 23 e 24
ºC, e a limpeza do filtro do aparelho com regularidade.
Já
no uso de lâmpadas, o recomendável é optar pelas LED – elas têm a tecnologia
mais econômica para iluminação disponível. Sempre apagar as luzes ao sair de um
cômodo. Outra medida é pintar os ambientes com cores claras, para que possam
ser iluminados com lâmpadas de baixa potência.
Para
quem não tem nos planos trocar os eletrodomésticos que já possui, é preciso
estar atento à manutenção.
Como
mensurar o gasto
É
possível fazer o cálculo de quanto cada aparelho consome na sua conta de luz. A
coordenadora do Idec Renata Albuquerque explica como.
“Para
isso, é preciso multiplicar a potência do seu aparelho pelo tempo que ficou
ligado consumindo energia e, depois, multiplicar pelo preço cobrado por
kilowatts/hora e você terá o valor que foi gasto para cada equipamento”.
Se
fizer essa conta cada vez que usar o equipamento, será possível compreender o
quanto esse eletrodoméstico está pesando na sua conta de luz.
Consumo
de energia
Em
2023, o Brasil consumiu 69.363 megawatts médios de energia elétrica. A
quantidade representa um aumento de 3,7% em relação a 2022. Os dados constam em
estudo da CCEE. O resultado foi influenciado, entre outros fatores, pelas ondas
de calor registradas no país no segundo semestre do ano passado, e pelo “bom
desempenho de alguns setores da economia.”
E
o aumento no consumo de energia repercute na economia brasileira. O presidente
da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, Luiz Eduardo Barata, explica
que o impacto não vem apenas quando o consumidor paga a conta de luz. O custo
da energia acaba sendo repassado no preço dos produtos e serviços
contratados.
“No
pão, na carne, a participação do custo da energia é superior a 30%. Quando
aumenta a conta de luz, aumenta o custo da energia, todos os bens que compramos
e todos os serviços que contratamos, impactando nos índices de inflação no
país”, afirma Luiz Eduardo Barata.
O presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia alerta ainda para o fato de que, ainda que o consumidor economize, a conta de luz dos brasileiros é uma das mais caras do mundo.
“Isso
se deve, principalmente, aos encargos adicionados ao custo da energia, da
transmissão e da distribuição, fazendo com que a vida do consumidor tenha uma
participação para energia elétrica superior a 20%. Isso faz com que muitas
famílias tenham que deixar de consumir para poder pagar a conta de luz. Faz com
que uma parcela grande da sociedade atrase o pagamento”, destaca.
De
acordo com a Frente, 40% do custo da energia elétrica no país são tributos,
encargos e perdas. A entidade apresentou um pacote com 10 prioridades ao
Ministério de Minas e Energia com objetivo de reduzir a conta do consumidor.
Iniciar uma reforma do setor elétrico e reavaliar os subsídios existentes na
tarifa cobrados do consumidor estão entre as medidas.
Fonte: Brasil 61
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