Uma
organização com mais de 40 mil integrantes, criada no Brasil e espalhada pelo
mundo, com faturamento anual em torno de US$ 1 bilhão. A descrição — que
deveria ser atribuída a uma multinacional de sucesso — na verdade, é a que
resume os números e o alcance do Primeiro Comando da Capital, o PCC. Uma
organização criminosa criada há 30 anos dentro de um presídio de São
Paulo, que domina o tráfico internacional de drogas — e já extrapolou as
fronteiras do Brasil.
Objeto
de estudo e pesquisa e alvo de integrantes de combate ao crime, o PCC é citado
por lideranças políticas quando o assunto é segurança pública. Na última
semana, em entrevista ao jornalista Mário Sérgio Conti, no programa Diálogos da
Globo News, o governador de Goiás Ronaldo Caiado (União Brasil) criticou o
domínio do tráfico na capital paulista.
“Agora
você compra franquia em São Paulo. Agora o PCC vende um quarteirão que garante
que só você vai negociar a cocaína e a maconha. Dependendo do ponto é 3
milhões, 500 mil. Nós precisamos ter a coragem de enfrentar isso. O Estado não
pode mais se acovardar”
Para
o advogado especialista em segurança pública e professor da FGV Jean Menezes de
Aguiar, o PCC virou uma empresa, que não quer guerra nem briga — quer ganhar
dinheiro — inclusive no plano internacional.
“Então
todas as imagens empresariais atribuíveis ao PCC são possíveis sim. Porque ele
nadou de braçada e avisou ao governo de São Paulo — por algumas décadas — que
iria se estabilizar, se estabilizou e não fizeram nada. E ele só cresceu e só
se organizou. Ele dominou as cadeias e penitenciárias.”
Goiás
no combate à criminalidade
A
ênfase do governador Caiado, ao criticar a postura do estado de São Paulo, vai
na mesma direção do enfrentamento que o chefe do executivo goiano dá
ao problema da violência em seu estado. Quando assumiu o governo, em 2018,
Caiado se deparou com altos índices de crimes violentos, como roubo de cargas e
latrocínios.
Em
cinco anos de governo — Caiado está no segundo ano do segundo mandato — ,
a política de enfrentamento ao crime organizado é uma das bandeiras levantadas
pelo governador. E vem dando certo, tanto que nos últimos cinco anos o roubo de
veículos caiu 89,8% entre 2023 e 2018. Roubos a pedestres caíram 83% nos
últimos cinco anos. Outro crime que vem caindo no estado é o de homicídios
dolosos, que teve redução de 50,8% em 2023, na comparação com 2018. Latrocínio
— que é o roubo seguido de morte — teve redução de 86,7%.
Durante
a entrevista ao canal Globo News, Caiado ainda criticou o uso de câmeras nas
roupas dos policiais que estão na linha de frente do crime.
A
que ponto chegaram, até onde isso vai
Para
o advogado Jean Menezes de Aguiar, a facção chegou onde chegou por uma escolha
dos governos em valorizar uma polícia de enfrentamento em detrimento de uma
polícia de inteligência.
“Os
governadores primam pela PM porque ela aparece, ela faz enfrentamento e isso dá
voto. E a Polícia Civil, que é quem deveria investigar atividades
efetivamente, ficou completamente atrofiada. Então, para efeito de segurança
estritamente considerada, teríamos que fortalecer a Polícia Civil e seus
setores de inteligência.”
Vale
lembrar que, hoje, a competência do PCC já saiu da esfera da Polícia Civil e
passou para ser de competência da Polícia Federal, “pois como ele já extrapolou
os estados há muito tempo, ele passou a ser monitorado pela Federal”,
acrescenta o advogado.
Para
um futuro — bastante próximo — ou até mesmo presente, Jean Menezes faz uma
previsão.
“E
eles já começam a produzir gestores, fala-se até em advogados e juízes, em
policiais, para preparar uma mão de obra, para efetivamente, se tornar uma
máfia
O
que diz o Estado
A
reportagem do Brasil 61 procurou as forças de segurança sobre o
posicionamento do governador Caiado. Em nota, a Polícia Federal disse que “A PF
não se manifesta sobre declarações de autoridades.”
A
Polícia Militar de São Paulo e a Polícia Civil não responderam aos nossos
questionamentos, assim como o Ministério Público de São Paulo.
Fonte: Brasil 61
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