O que se pode esperar do cenário político brasileiro a partir da grande manifestação registrada no último domingo (25), em São Paulo, provocada pela oposição ao atual governo, capitaneada pelo ex-presidente da República, Jair Bolsonaro? Para responder esta e outras perguntas, o portal de notícias Brasil 61 ouviu os analistas Eduardo Galvão e Valdir Pucci, especialistas em política e estratégia eleitoral. Na avaliação de ambos, o evento de domingo mostra que Bolsonaro continua sendo "um grande eleitor" — e terá forte influência nas eleições municipais deste ano.
Ao
contrário do que apontavam muitos analistas, o evento atraiu centenas de
milhares de pessoas à Avenida Paulista. Assim, demonstrou que Bolsonaro
não está politicamente isolado. Além de reunir um número substancial de
eleitores, a convocação feita pelo ex-presidente trouxe ao centro de São Paulo
várias lideranças, de diversos partidos e regiões do país, com destaque para os
governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); de Goiás,
Ronaldo Caiado (União Brasil); de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e de Santa
Catarina, Jorginho Mello (PL) – além da vice-governadora do Distrito Federal,
Celina Leão (PP), e de vários senadores, deputados federais, estaduais,
prefeitos e vereadores.
De
acordo com o professor de Relações Públicas do Ibmec Brasília, Eduardo
Galvão, “é inegável que Bolsonaro continua sendo figura central na
oposição ao governo atual — e isso pode intensificar a disputa política”.
Mas, além disso, o ato “pode servir também como um catalisador para que
movimentos e partidos opositores se organizem de maneira mais coesa, contra
percepções de ameaça à democracia”.
“Foi
uma manifestação muito grande, é inegável que Bolsonaro continua a possuir um
apoio popular considerável. A quantidade de pessoas que se fez presente nesse
evento desafia qualquer narrativa de que ele estaria politicamente
marginalizado”, observa Eduardo Galvão. Para o professor do Ibmec, o ato não
apenas atraiu simpatizantes de um único espectro político, mas também reuniu
lideranças de diversos partidos e de regiões do país.
“Isso
sinaliza um esforço de consolidação dessas forças conservadoras, em torno da
liderança de Bolsonaro”, afirma o professor, acrescentando que, por outro lado,
eventos com essa magnitude trazem implicações que merecem atenção:
“Primeiramente, a manifestação tem o potencial de aumentar a polarização
política e social, principalmente se os dias seguintes vierem carregados de
discursos que antagonizem”, avalia.
Estratégias
e riscos
Para
Eduardo Galvão, há o risco político de que tais eventos “incentivem
comportamentos radicalizados entre alguns dos segmentos dos apoiadores, e isso
pode elevar os confrontos” — e a possibilidade de instabilidade política. “Esse
ato também pode ser interpretado como uma tentativa de demonstrar força política
e social, em um momento que é crítico para Bolsonaro”, analisa ele,
acrescentando que “a mobilização busca consolidar seu apoio, mas pode
igualmente ser vista como uma estratégia para influenciar a percepção pública e
a narrativa em torno das acusações que ele enfrenta”.
“Isso
pode complicar o trabalho das investigações, porque adiciona uma camada de
pressão política e social a esse processo. Mas o evento também pode alienar
Bolsonaro de outros atores políticos, especialmente se for percebido como uma
ameaça à democracia”, raciocina.
Figura
central
Ao
mesmo tempo, o professor do Ibmec entende que o evento de domingo na Paulista
“reafirmou Bolsonaro como uma figura central na oposição ao governo atual, e
isso pode intensificar a disputa política”. Na visão de Eduardo Galvão, o
sucesso alcançado pela manifestação “pode servir também como um catalisador,
para que movimentos e partidos opositores se organizem de maneira mais coesa
contra percepções de ameaça à democracia”.
Já
o cientista político Valdir Pucci, professor da Faculdade Republicana de
Brasília, avalia que o ponto mais positivo para a oposição – e, principalmente,
para o ex-presidente Jair Bolsonaro, “foi justamente que ele conseguiu aquilo
que mais desejava, que era a sua foto política mostrando uma multidão” de
apoiadores.
“A
gente tem que reconhecer que Bolsonaro tem uma grande força política de
mobilização, independente de denúncias e de processos que esteja respondendo ou
venha a responder, ou de sua situação política”, opina Pucci. O especialista
relembra que o ex-presidente sempre teve grande capacidade de mobilização,
desde a época da campanha eleitoral de 2018 “e durante todo o seu governo”.
Pontos
negativos
“Agora,
o que eu vejo de negativo são as leituras erradas que podem aparecer desse
movimento. Ou seja, achar que a multidão representa a quase totalidade da
vontade dos brasileiros. Acho que a leitura tem que ser feita com um pouco mais
de calma”, observa o cientista político.
“Mesmo
tendo uma grande massa que o apoia, ele tem também um grande número de pessoas
que não o vê com bons olhos, conforme tivemos no resultado eleitoral, [quando]
pelo menos metade da população não agregou esse mesmo pensamento”,
afirma.
“Um grande
eleitor”
Valdir
Pucci entende que, para a Direita brasileira, Bolsonaro mostra que ele ainda é
um grande eleitor. “Quem estiver ao lado dele terá grandes chances de se
capitanear como possível candidato, um possível vitorioso nas eleições de 2024,
principalmente naqueles estados onde os eleitores são mais propensos a votar na
Direita”, ressalta.
Fonte:
Brasil 61
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