Choveram críticas
quando Bolsonaro colocou Sergio Moro no Ministério da Justiça. E o que dizem
agora, quando Lula dá o mesmo cargo a Lewandowski?
Por: Thomas Milz *
O Brasil é mesmo um lugar cheio de surpresas e onde o mundo dá muitas voltas. Em 2019, a roda da fortuna levou o então juiz federal Sergio Moro, aclamado herói anticorrupção pela direita, ao posto de ministro da Justiça do governo do então presidente Jair Messias Bolsonaro.
Houve
uma fúria grande na esquerda: pode o juiz da Lava Jato, que colocou o então
candidatíssimo Luiz Inácio Lula da Silva na prisão, assumir um cargo no governo
do candidato que se beneficiou dessa ação do juiz? Obviamente isso cheirava
mal.
E
não só desqualificou o trabalho da Lava Jato como um todo, mas foi um prego no
caixão do combate à corrupção no Brasil.
Tiro
no pé
Depois,
a roda da fortuna levou Sérgio Moro para baixo. Espera-se para breve a cassação
do seu mandato de senador. A transição de juiz para político, que parecia
promissora, agora parece fadada ao fracasso.
Sem
querer entrar aqui no mérito das decisões que Moro tomou contra Lula, sempre
achei as ambições políticas dele um tiro no pé. Não só no dele, mas da
democracia brasileira. A Justiça no Brasil já tem um forte jeito de atuar de
forma política, o que não contribui, a meu ver, para um fortalecimento das
instituições democráticas.
Sei
que Bolsonaro não se importava com isso, mas Moro deveria ter tido mais bom
senso e antenas para isso. Na democracia, não basta jogar de forma limpa:
precisa ter uma aparência limpa.
Déjà
vu
E
o que dizer do fato de Lula colocar o ex-juiz do STF Ricardo Lewandowski no mesmo
ministério que Moro ocupava? Como magistrado, Lewandowski deu várias decisões
favoráveis a Lula. Votou a favor do entendimento de que um condenado poderá ser
preso apenas após o trânsito em julgado do seu processo.
Mais
tarde, Lewandowski não só deu à defesa de Lula acesso às provas dos processos
contra o petista como ainda decretou o trancamento de uma ação penal em
tramitação e de três investigações. Assim, repetiu a atuação que teve durante o
Mensalão, quando emitiu decisões favoráveis aos réus petistas. Como fora
nomeado, em 2006, por Lula, partes da sociedade entenderam sua atuação como
parcial.
Em
fevereiro, Lewandowski vai para o Ministério da Justiça, para substituir Flávio
Dino, que faz o caminho inverso, de ministro para magistrado do STF. Tendo em
mente todas as críticas à nomeação de Moro por Bolsonaro, a escolha de
Lewandowski por Lula parece um déjà vu de sinal trocado.
O
próprio Moro comentou a escolha de Lewandowski na sua conta na plataforma X:
"Fica então entendido que aceitar cargo em ministério não é e nunca
deveria ter sido causa de suspeição."
Thomas
Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o
país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da
América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para
veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É
pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São
Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.
Fonte: DW
(*) Vivendo no Brasil desde 1998, o jornalista e fotógrafo Thomas Milz. Um alemão que conhece bastante de Brasil e escreve para diferentes veículos europeus.
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