O
presidente eleito da Argentina, o ultraliberal Javier Milei, deixou Washington
na terça-feira (28) com uma impressão “muito boa” do governo do democrata Joe
Biden, que lhe estendeu as mãos com base em “prioridades compartilhadas”,
incluindo a “energia limpa” e a “defesa dos direitos humanos”.
Em
seu segundo dia nos Estados Unidos, Milei esteve na Casa Branca para um
primeiro contato com colaboradores de máxima confiança de Biden, que viajou
para Atlanta para o funeral da ex-primeira-dama Rosalynn Carter.
O
presidente eleito e uma equipe reduzida conversaram com Jake Sullivan,
conselheiro de Segurança Nacional; com Juan González, principal conselheiro
presidencial para a América Latina; com o subsecretário de Estado para Assuntos
do Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, e com o embaixador dos Estados Unidos
na Argentina, Marc Stanley.
Milei
partilhou com eles “sua visão sobre a agenda geopolítica internacional alinhada
com o Ocidente e a sua defesa dos valores da liberdade”, informou seu gabinete
em um comunicado publicado na rede social X.
A
reunião lhe causou uma impressão “muito boa”, declararam à AFP fontes de seu
partido, A Liberdade Avança, que pediram anonimato.
Boa ‘predisposição’
Sullivan
felicitou Milei novamente por sua vitória eleitoral e se comprometeu “a
prosseguir com a cooperação” bilateral estreita, segundo um comunicado
divulgado pela Casa Branca durante a noite.
O
influente conselheiro afirmou que se reuniu com Milei “para discutir a
importância de seguir construindo a relação sólida entre os Estados Unidos e a
Argentina em temas econômicos e nas prioridades compartilhadas, como o
investimento em tecnologia e energia limpa, a defesa dos direitos humanos e
defesa das democracias em todo o mundo”.
Uma forma diplomática de mencionar dois temas: o aquecimento global, essencial na agenda de Biden e questionado por Milei, e os direitos humanos, depois que o presidente eleito da Argentina, de 53 anos, questionou o número de desaparecidos durante a ditadura em seu país.
Milei
viajou aos Estados Unidos para abrir portas e o fez pelas mãos do embaixador
Stanley, com a esperança de converter o país norte-americano em seu principal
aliado e marcar distâncias com China e Rússia.
Pelo
que se sabe, não houve encontros com membros do Partido Republicano nem com o
ex-presidente Donald Trump, com quem Milei se dá muito bem e é frequentemente
comparado.
Da
Casa Branca, ele seguiu para o aeroporto para retornar à Argentina, sem se
reunir com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Kristalina
Georgieva, com quem falou na sexta-feira por videoconferência.
Seu
chefe de gabinete Nicolás Posse e Luis Caputo, cotado como futuro ministro da
Economia argentino, permaneceram nos Estados Unidos para uma reunião a nível
técnico no FMI liderada pela número dois da organização, Gita Gopinath. Pela
manhã, mantiveram outro encontro com funcionários do Departamento do Tesouro
americano.
A
Argentina tem que saldar um empréstimo de 44 bilhões de dólares (cerca de R$
215 bilhões na cotação atual), em meio à sua pior crise econômica em duas
décadas, com inflação de 140% e 40% da população na linha de pobreza.
–
‘Desafios complexos’ –
“Debateram
os desafios complexos que o país enfrenta e os planos para fortalecer
urgentemente a estabilidade e assentar as bases de um crescimento mais
sustentável”, informaram fontes oficiais do FMI.
“Ambas
as equipes vão continuar colaborando estreitamente no futuro”, acrescentaram.
A
equipe de Milei espera que a relação com o Fundo seja fluida, dado que o
presidente eleito, que se autodefine como anarcocapitalista, não teme os cortes
de gastos.
O
novo presidente propõe privatizar boa parte das empresas estatais e prometeu
cortar os gastos públicos, inclusive mais do que pede o FMI.
Este
“outsider” da política que tem aversão ao que chama de “casta”, a elite
política tradicional, advertiu que vai tomar decisões “difíceis” quando assumir
o cargo em 10 de dezembro.
De
cara, a Argentina precisa de recursos para fazer frente ao último vencimento do
ano.
Para
isso, teria que passar na análise regular do Fundo para averiguar se o país
cumpre as condições fiscais e de reservas. O problema é que os números não
batem. Milei também pode optar por repensar o programa de crédito com o FMI.
Enquanto
isso, continuam as gestões para definir o governo que moldará a nova Argentina.
O
último nome confirmado é o de Eduardo Rodríguez Chirillo, que estará à frente
da pasta de Energia, segundo confirmou o gabinete de Milei em comunicado.
A
primeira viagem aos Estados Unidos de Milei como presidente eleito começou na
segunda-feira em Nova York, onde ele almoçou com o ex-presidente democrata Bill
Clinton.
Antes, usando um kipá, visitou o túmulo do rabino de Lubavitch na metrópole dos arranha-céus. Um ato simbólico para o político argentino, de religião católica, mas muito interessado no judaísmo e a estreitar laços com Israel.
Fonte: Isto É
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