A
farmacêutica Pfizer e diferentes autoridades de saúde internacionais advertem desde
2021 que a miocardite e a pericardite são possíveis efeitos colaterais das
vacinas de mRNA contra a covid-19. Mas publicações compartilhadas mais de 6 mil
vezes nas redes sociais desde 17 de outubro de 2023 afirmam que o laboratório
“finalmente admitiu” esse risco em um novo comunicado, após “negá-lo” por dois
anos. Na verdade, documentos da Pfizer com o mesmo aviso existem desde 2021 e
tais condições nem sempre são “graves” e “permanentes”, como afirmam algumas
publicações.
“A
Pfizer emitiu comunicado de imprensa na passada sexta-feira onde admite que as
suas injecções provocam risco aumentado de miocardite e pericardite,
especialmente em rapazes dos 12 aos 17 anos. Só demoraram 2 anos a admitir isto
quando há provas que o sabiam desde o início e no entanto insistiram na
vacinação de crianças e jovens”, diz uma das publicações compartilhadas
no Facebook,
no Instagram,
no Kwai,
no TikTok e
no X (antes
Twitter).
Alegações
similares também circulam em espanhol e francês.
Captura de tela feita em 1º de novembro de 2023 de uma publicação no Facebook© Fornecido por AFP Fact Check
Algumas
publicações compartilham uma captura de tela de um comunicado da Pfizer em
inglês, que afirma: “As vacinas de mRNA contra a covid-19, autorizadas ou
aprovadas, mostram maiores riscos de miocardite (inflamação do músculo
cardíaco) e pericardite (inflamação do revestimento externo do coração),
especialmente durante a primeira semana após a vacinação”.
O
informe continua: “Para Cominarty (vacina da Pfizer adaptada à variante XBB.1.5
do SARS-CoV-2), o risco observado é maior em homens de 12 a 17 anos”.
Efeitos
colaterais listados desde 2021
Uma
busca no Google por palavras contidas no comunicado de imprensa citado nas
postagens virais levou a uma publicação no site da Pfizer de 11 de setembro de
2023.
No
documento, o laboratório anunciou a comercialização no mercado norte-americano
da sua última vacina contra a covid-19, adaptada à variante XXB.1.5.
No
Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu o pedido de atualização do registro da vacina
Comirnaty monovalente em agosto de 2023, o primeiro do tipo recebido pelo
órgão. Em setembro, a Anvisa autorizou a ampliação de seis meses aos prazos de
validade das vacinas Comirnaty monovalente e bivalente, “em todas as suas
apresentações”, sob a justificativa de agilizar e ampliar a “oferta de vacinas
à população brasileira”.
No
final do comunicado da Pfizer, na seção “Informações importantes de segurança”,
há uma advertência sobre as reações alérgicas e os possíveis efeitos colaterais da vacinação,
particularmente a miocardite (inflamação do músculo cardíaco) e a pericardite (inflamação do pericárdio).
Contudo,
essa não é a primeira vez que a Pfizer menciona estas reações adversas.
A
farmacêutica já o havia feito em janeiro de 2022, quando foram divulgados os resultados de
um estudo sobre a coadministração de seu imunizante e uma segunda vacina contra
pneumococo; e em novembro de 2021, quando anunciou a autorização do uso
emergencial da vacina de reforço contra a covid-19 nos Estados Unidos.
No
comunicado compartilhado nas redes sociais, a única mudança é na redação do
texto, e não na mensagem.
Em
2021, o trecho sobre a miocardite sinaliza: “Algumas pessoas que receberam a
vacina sofreram de miocardite (...) e pericardite (...), com
maior incidência em homens com menos de 40 anos”.
A
Pfizer França disse à AFP, em 25 de outubro de 2023, que as advertências em seu
comunicado mais recente “não refletem nova informação nem dados de casos sobre
miocardite ou pericardite”.
Desde
a sua autorização inicial, em dezembro de 2020, a vacina da
Pfizer-BioNTech contra a covid-19, que já foi administrada em mais de 1,5
bilhão de pessoas ao redor do mundo, foi supervisionada de perto pelas
autoridades sanitárias globais.
A
Pfizer França também lembrou que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) recomendou, em
2021, “atualizar o resumo das características do produto (SmPC)” de sua vacina
“para incluir essa informação de segurança”.
Desde
julho de 2021, a EMA pede aos fabricantes que incluam essas doenças
cardíacas na lista de possíveis efeitos adversos das vacinas de mRNA da Pfizer
e da Moderna, após uma análise aprofundada de 145 casos de miocardite
identificados depois de sua aplicação na União Europeia.
Em
uma publicação de 9 de julho de 2021, a Anvisa também
alertou para o risco de miocardite e pericardite após a vacinação com
imunizantes da Pfizer, seguindo relatos dos Estados Unidos.
A
miocardite e a pericardite são causadas com maior frequência por uma infecção
viral (como a covid-19) e tendem a ocorrer em homens jovens. Na maioria dos
casos, a saúde dos pacientes melhora por si só ou com a ajuda de um tratamento,
indica a Autoridade
Francesa de Segurança de Medicamentos e de Produtos para Saúde (ANSM).
O
médico Mahmoud Zureik, que realizou numerosos estudos sobre o tema e participa
da plataforma de farmacoepidemiologia Epi-Phare, disse à AFP em fevereiro de 2023 que, segundo as
evidências disponíveis, “todos os estudos demonstram que quando existe risco de
miocardite, ela ocorre rapidamente depois da vacinação, ou seja, dentro de uma
semana após a aplicação da vacina”.
“Acompanhamos
durante um mês os pacientes que tiveram miocardite e, até agora, não houve
mortes na França”, insistiu, e acrescentou: “Estamos no processo de observar
esses pacientes que têm miocardite após a vacinação até seis meses, um ano”.
Homens
jovens correm mais risco
A
incidência de miocardite em pessoas vacinadas é estimada em 1 a cada 100.000
pessoas e 1 para cada 10.000 homens jovens, e é “mais comum com a vacina
Moderna” do que com a da Pfizer, segundo a Sociedade Francesa de Farmacologia (SFPT). Em seu
último comunicado de imprensa, a Pfizer especificou que rapazes de 12 a 18 anos
estão sob maior risco.
Fora
desse grupo, ao comparar as possibilidades de falecer de miocardite pela vacina
ou pela covid-19, vários estudos já demonstraram que há maior risco após
a infecção por coronavírus do que após a vacinação.
O
AFP Checamos já verificou outras publicações com desinformação sobre a
segurança das vacinas anticovid (1, 2, 3).
Referências
Comunicado da Pfizer publicado em 11 de setembro de 2023
Comunicados
da Pfizer de 2022 e 2021 em que é mencionado o risco de miocardite (1, 2)
Fonte: AFP França / AFP México / AFP Brasil
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