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O
ministro da Casa Civil, Rui Costa, passou a ser alvo de críticas tanto de
colegas da gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como de parlamentares no
Congresso Nacional.
As
reclamações vão desde o estilo do ministro, considerado ríspido, e chegam a
questões práticas, como a demora na autorização de nomeações de indicados para
ocupar cargos na máquina federal.
Ao
longo da última semana, Rui travou um embate com o ministro Fernando Haddad
(Fazenda), abalando o núcleo do governo. Na noite de quinta-feira (23), o chefe
da Casa Civil procurou Haddad em um ato de pacificação.
As
reclamações sobre a postura do ministro, porém, extrapolam o atrito com Haddad.
Colegas da Esplanada se queixam do estilo de Rui adotado nas reuniões
ministeriais.
Espécie
de gerente do governo, Costa fixa tempo para as intervenções de ministros, em
geral, de três minutos, chegando a gesticular para freá-los quando o limite é
excedido. Ele costuma interromper de forma ríspida outros ministros, provocando
as insatisfações.
Na
semana passada, Rui interrompeu Márcio França (Portos e Aeroportos) no momento
em que o titular da pasta tentava detalhar sua proposta de redução de preços de
passagens aéreas.
Ainda
segundo relatos dos participantes, em reunião no dia 16 o chefe da Casa Civil
repreendeu colegas, afirmando não admitir conversas paralelas.
Por
seu temperamento, Rui é comparado à ex-presidente Dilma Rousseff (PT), também
conhecida por seu estilo áspero à frente da Casa Civil. O próprio Lula o
comparou nesta semana à ex-presidente, chamando o atual ministro da Casa Civil
de "Dilma de calças".
Questionado
sobre as críticas de diferentes colegas sobre seu estilo, Rui disse, por meio
de sua assessoria, que procura "evoluir sempre" e que pede desculpas
por "eventuais erros".
"Tenho
meu temperamento, procuro evoluir sempre. Peço desculpas por eventuais erros,
mas sempre procuro acertar: quero muito ajudar o presidente Lula a reconstruir
o Brasil. Estou focado nisso e quero contribuir", declarou.
Rui
tem sido alvo de críticas também da cúpula do Congresso Nacional. Líderes
importantes da Câmara, por exemplo, preferiam que Costa não ocupasse o cargo.
A
reclamação no Parlamento, que inclusive parte de correligionários, diz respeito
à demora em autorizar nomeações em cargos da administração federal.
Embora
o caso também passe pela SRI (Secretaria de Relações Institucionais), uma
parcela importante do processo é de responsabilidade da Casa Civil. É o caso da
checagem de antecedentes jurídicos dos escolhidos.
Aliados
avaliam que Rui, novamente, acaba pagando a conta de uma exigência do próprio
Lula, que pediu rigor na análise das nomeações.
A
Casa Civil funciona como uma espécie de núcleo central do governo e por lá
passam todos os projetos de políticas públicas da gestão Lula.
Um
dos papéis da pasta é exatamente monitorar o andamento dos programas e cobrar
resultados. Mais que isso, como o próprio Lula frisou em uma reunião
ministerial, a Casa Civil tem de dar aval às propostas.
Para
uma ala do governo, Lula colocou o ministro no cargo exatamente pelo perfil de
cobrar desempenho e ser uma espécie de "gerentão" do Planalto.
Rui
seria, segundo esses aliados, um porta-voz da apreensão de Lula quanto a
resultados do governo. Em recente reunião, o próprio presidente cobrou
criatividade de seus ministros ao ouvir de Paulo Pimenta (Secom) proposta de
adoção do nome Novo PAC para reedição do programa petista.
Com
o ministro da Fazenda especificamente, um dos motivos do incômodo, segundo
aliados de ambos e integrantes do Palácio do Planalto, foi a negociação em
torno da regra fiscal, que substituirá o teto de gastos.
Integrantes
do Planalto avaliam haver uma disputa sobre quem dará a palavra final sobre o
desenho da regra fiscal antes do envio para aprovação do próprio Lula.
No
dia 17, Haddad apresentou a Lula e a Rui as linhas gerais da proposta. Até
então, o ministro da Fazenda havia mostrado o desenho do novo marco ao
vice-presidente, Geraldo Alckmin (Indústria), e à ministra Simone Tebet
(Planejamento). Só depois discutiu o tema com Costa e com a ministra Esther Dweck
(Gestão).
De
acordo com pessoas próximas de Haddad, o receio era que a proposta fosse
bombardeada e alterada para contemplar mais espaço para projetos de
investimentos do que desejaria o ministro da Fazenda.
Após
o encontro, o presidente pediu que fossem feitos mais cálculos e que Haddad
conversasse com economistas e líderes de governo. A Casa Civil também ficou de
fazer uma série de simulações. Aliados de Haddad dizem que o desenho final do
marco deve ser feito pela Fazenda e não por Rui.
Houve
ainda o incômodo de técnicos da Casa Civil, que reclamaram que a Fazenda não
compartilhou estudos e atuou para manter o desenho do marco trancado a sete
chaves.
Depois
desse episódio, Haddad manifestou incômodo com o vazamento dos dois nomes que
haviam sido avalizados por Lula para ocupar diretorias no Banco Central.
O
ministro da Fazenda atribuiu o vazamento ao colega da Casa Civil, depois que
Lula já tinha definido os nomes para o BC a partir das sugestões de Haddad o
encaminhamento formal seria feito após a viagem do presidente à China, que
começaria neste sábado (25), mas deve ser adiada para domingo (26) porque o
presidente recebeu diagnóstico de pneumonia. Aliados de Costa atribuem o embate
a ciúmes de Haddad.
Integrantes
do Planalto dizem que Haddad queria anunciar os nomes junto a Lula e não gostou
de eles terem sido publicados pela imprensa antes mesmo da viagem do
presidente.
Nesta
quinta-feira (23), na tentativa de desfazer o mal-estar e o clima de embate
entre a Fazenda e a Casa Civil, Haddad e Rui tiveram uma reunião para tentar
selar a paz.
A
reunião, que inicialmente não constava na agenda oficial, durou cerca de 40
minutos e ocorreu na sede da Fazenda. Ao fim, os dois ministros desceram para
falar com a imprensa e posaram para fotos, juntos e sorridentes.
"Atrito?
Aqui, ó, o sorriso dele, olha o meu", disse Rui Costa em tom amigável,
ladeado por um ministro da Fazenda também sorridente.
Por
meio de sua assessoria, Rui disse ainda na noite de quinta que foi criticado
quando era governador da Bahia por seu estilo "sisudo".
"Prefeitos
mais próximos diziam: 'governador, o senhor precisa aprender a dizer o sim e
ser mais simpático na hora de dizer o não'. Eu respondia: 'suas solicitações
foram atendidas?' 'Sim'. 'Fui sincero quando te disse não?' 'Sim'. 'Te
enrolei?' 'Não'", relatou.
"Ou
seja, concentro meu tempo no trabalho. Sou franco, sou sincero. Às vezes isso
choca na política. Mas acho que a franqueza ajuda a ganhar tempo. A sociedade
espera aflita por respostas rápidas".
Por
último, ele classificou Haddad de "grande nome" e "quadro
histórico qualificado". "Tem equipe técnica competente. Quero estar
ao lado dele, construindo".
Fonte: Folha de São Paulo
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