Foto: Ricardo Stuckert / Divulgação
O
presidente Lula (PT) tentou nesta quinta-feira (2) minimizar mais uma vez o
vínculo da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, com a milícia e disse ter uma
"gratidão" por ela devido ao apoio recebido nas eleições
presidenciais.
Em
entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, da BandNews, o presidente admitiu
que ela poderá ser demitida caso a ligação dela com milicianos seja além de
fotografias. "Por enquanto eu acho que não é maior do que isso. Se
aparecer evidência que seja [maior do que uma foto], sairá do governo."
Lula
busca menosprezar os elos, mas a ministra tem sim uma série de vínculos com a
milícia fluminense.
Reportagens
da Folha de S.Paulo em janeiro mostraram que a ministra manteve elo político
com o ex-PM Juracy Prudêncio, conhecido como Jura, condenado por comandar uma
milícia na Baixada Fluminense, e o ex-vereador Marcio Pagniez, o Marcinho
Bombeiro, preso preventivamente sob acusação semelhante.
A
ministra tem repetido que o apoio político recebido do ex-PM e do ex-vereador
não significa compactuar com eventuais crimes cometidos por eles.
O
ex-cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi preso em 2009 sob acusação de
chefiar uma milícia, chamada Bonde do Jura, que praticava, segundo a Justiça,
ameaças, extorsões e homicídios em bairros de Belford Roxo, Queimados, Nova
Iguaçu e São João de Meriti, cidades da Baixada Fluminense.
Ele
também é acusado de matar um jovem em Nova Iguaçu em razão de uma briga entre a
irmã da vítima e a namorada de um dos integrantes do Bonde do Jura. Ele foi
condenado em 2014 pelos dois crimes a penas que, somadas, chegam a 26 anos de
prisão.
Jura
participou de atos de campanha da ministra em 2018, entregando panfletos,
participando de reuniões e caminhadas ao lado da então candidata a deputada
federal.
Na
eleição do ano passado, a mulher do miliciano, Giane Prudêncio, também
participou da campanha. Ela esteve no palco no evento de lançamento da
candidatura da ministra, bem como organizou caminhadas a favor de Daniela, com
uso de material de campanha como bandeiras, faixas, panfletos e adesivos.
A
ligação entre a campanha da ministra e o miliciano não é apenas uma foto, como
sugeriu Lula.
Há
fotos e vídeos que mostram participação direta do miliciano na campanha de
Daniela. Além das caminhadas em conjunto, Jura foi o anfitrião de um comício no
qual esteve no palanque ao lado da ministra, que o abraçou ao chegar ao local.
O
miliciano também foi chamado de "liderança" por Daniela após uma
caminhada de campanha. Ainda compareceu à festa de aniversário do prefeito de
Belford Roxo, Waguinho (União Brasil), marido da ministra, após a campanha em
2018.
Jura
participou da campanha no período em que cumpria sua pena em regime semiaberto
--desde julho de 2017.
Ele
tinha autorização para sair da prisão de segunda a sexta-feira e trabalhar das
8h às 17h, e aos sábados, das 8h às 14h. A participação em atos de campanha não
fazia parte da autorização dada ao miliciano.
O
nome de Jura apareceu pela primeira vez na CPI das Milícias no fim de 2008, sob
suspeita de controlar cinco bairros de Nova Iguaçu, vizinho a Belford Roxo.
Naquele
ano, ele foi o segundo mais votado para a Câmara Municipal da cidade, não tendo
assumido o cargo porque sua coligação não atingiu coeficiente eleitoral
necessário.
Jura
foi preso em 2009 quando já era conhecido na Ba ixada Fluminense por sua
atuação política e as suspeitas sobre ele. A ação da polícia foi seguida por
manifestações em alguns bairros da região.
Além
disso, a Prefeitura de Belford Roxo, comandada pelo marido da ministra,
informou à Vara de Execuções Penais a possibilidade de nomeação do miliciano, a
fim de que ele conseguisse progredir para o regime semiaberto e saísse da
prisão.
O
ex-PM conseguiu progredir para o regime semiaberto após receber oferta de
emprego como assessor de uma secretaria da Prefeitura de Belford Roxo,
administrado pelo marido da ministra.
A
ministra mantém elo político com outros dois outros acusados de chefiar milícia
em Belford Roxo (RJ).
Antes
de ser nomeada por Lula, Daniela fez campanha no último ano ao lado do vereador
Fábio Brasil, o Fabinho Varandão, e de familiares do ex-vereador conhecido como
Marcinho Bombeiro. Os dois foram presos em razão das suspeitas.
Respondendo
às acusações em liberdade, Varandão compõe desde 2021 o secretariado da
Prefeitura de Belford Roxo, comandada por Wagner dos Santos Carneiro, o
Waguinho (União Brasil), marido da ministra. Atualmente ele está na pasta de
Ciência e Tecnologia.
Marcinho
Bombeiro segue preso, mas sua irmã e seu pai também foram nomeados na
prefeitura. Os dois também tiveram participação ativa na campanha da ministra
no ano passado e foram anfitriões de um comício no bairro em que, segundo o
Ministério Público, atuava a chamada Tropa do Marcinho.
Daniela
foi nomeada ministra como uma forma de contemplar a União Brasil e ampliar a
presença feminina na montagem do governo.
Também
foi uma retribuição pelo empenho dela e do marido na campanha do segundo turno
em favor do presidente Lula. O casal foi uma das poucas lideranças a apoiar
abertamente o petista na Baixada Fluminense -o marido da ministra, Waguinho, é
prefeito de Belford Roxo.
Daniela
foi reeleita deputada federal como a mais votada no Rio de Janeiro. Como a
Folha mostrou em outubro, a campanha dela foi marcada pelo apoio irregular de
oficiais da Polícia Militar e pelo ambiente hostil e armado contra adversários
políticos de sua base eleitoral.
Com informações do Folha Press
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