José Seripieri Filho, em depoimento a PF em SP - Foto divulgação Fiesp/Júlia Moraes 22/07/2020
O empresário José Seripieri Filho, que deu carona em seu avião ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em viagem para o Egito, firmou acordo de delação com o Ministério Público em 2020 e confessou o crime eleitoral de caixa dois em um caso envolvendo o senador tucano José Serra (SP). As informações são do jornalista Felipe Bächtold do Folha de São Paulo
Seripieri
Filho, conhecido como Júnior, ficou preso por três dias em julho de 2020 em
decorrência da Operação Paralelo 23, que investigou pagamentos para a campanha
de Serra ao Senado em 2014.
Ele
se tornou réu acusado de corrupção, lavagem e caixa dois na Justiça Eleitoral
de São Paulo. O senador também responde ao processo. A investigação ocorreu no
âmbito de um conjunto de inquéritos apelidado de "Lava Jato
Eleitoral", por envolver desdobramentos de delações enviados a esse braço
do Judiciário.
No
fim de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso
homologou acordo de colaboração de Seripieri firmado com a Procuradoria-Geral
da República. O compromisso previa o pagamento de R$ 200 milhões pelo
empresário como ressarcimento aos cofres públicos.
Os
termos do acordo, assim como detalhes dos depoimentos, permanecem sigilosos até
hoje.
Seripieri
foi fundador da Qualicorp e é dono da operadora QSaúde. Ele não ocupa cargo na
administração da Qualicorp desde 2019.
No
caso que envolve José Serra, a defesa de Seripieri informou ao juiz responsável
em 2020 a respeito da formalização do acordo de colaboração. Disse que iria
colaborar, nos termos da lei, "confirmando o delito eleitoral
perpetrado".
Segundo
contou a defesa, o empresário recebeu pedido de Serra de contribuição eleitoral
em 2014, mas o conselho de administração da Qualicorp só aprovou na ocasião
doações para candidatos à Presidência.
Seripieri
então procurou Elon Gomes de Almeida, seu sócio em negócios imobiliários, para
que fizesse os repasses, "que não envolviam qualquer contrapartida"
do tucano. O combinado, disse ele, era que o valor fosse devolvido pelo sócio
por meio de transação imobiliária. O total foi de R$ 5 milhões em valores não
corrigidos.
Só
após feitos os repasses à campanha, disse Seripieri, soube que os pagamentos
ocorreram por meio de contratos fictícios firmados por outras empresas ligadas
ao sócio.
A
defesa, porém, afirmou em petição que ele não pode "confessar crimes que
não praticou" e reclamou da tipificação de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro, incluídas na denúncia.
Disse
que não há como falar em corrupção se Serra, na época, nem ocupava cargo
público.
Gomes
de Almeida já havia se tornado colaborador da Justiça antes de Seripieri.
A
ação penal teve pouco movimento nos últimos tempos. No início do ano, o juiz
responsável afirmou que aguardaria a chegada de documentos solicitados ao
Supremo para reabrir o prazo de resposta à acusação dos réus.
A
reportagem procurou o empresário, por meio de sua assessoria, para comentar o
assunto, mas não teve resposta.
Serra
sempre negou as acusações. Seus advogados afirmaram ao juiz que a denúncia,
"além de infundada, foi ofertada em procedimento com tantos vícios
processuais que nem sequer permite a apresentação de defesa".
Em
2020, a defesa do tucano foi ao Supremo e questionou a inclusão na investigação
de fatos relacionados ao exercício do mandato parlamentar. Como senador, Serra
tem direito ao foro especial.
Na
eleição deste ano, Seripieri aparece nos registros do Tribunal Superior
Eleitoral como um dos 20 maiores doadores privados da campanha no país. Ele fez
doações eleitorais que somaram R$ 1,86 milhão. A maior parte foi para o
diretório nacional do PT, seguido da própria candidatura de Lula.
Ele
é amigo de Lula há mais de dez anos e já havia sido anfitrião de jantar do
petista com empresários na pré-campanha, em junho.
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