Foto divulgação
Um dia após o PDT barrar a reeleição da governadora Izolda
Cela e escolher o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio como o candidato ao
Governo do Ceará, o PT afirmou que a decisão representa um rompimento e deve
lançar candidatura própria, implodindo uma aliança de 16 anos.
Em
nota divulgada nesta terça-feira (19), o PT do Ceará afirmou que a escolha de
Roberto Cláudio representa um "rompimento tácito e unilateral da
aliança" e disse que na decisão do PDT "prevaleceu a arrogância, o
capricho e a expressão de mando".
O
partido informou ainda que continuará o diálogo com os demais partidos aliados.
Roberto
Cláudio foi referendado como pré-candidato a governador nesta segunda-feira
(18) em reunião do diretório estadual do PDT. Ele teve 55 votos contra 29 da
governadora Izolda Cela (PDT), que pleiteava ser candidata à reeleição com o
apoio do governador Camilo Santana (PT).
Izolda
Cela assumiu o governo do estado em abril após renúncia de Camilo Santana, que
se desincompatibilizou para concorrer ao Senado. Além do PT, partidos como MDB,
PP, PV e PC do B defendiam que a governadora fosse candidata à reeleição em
outubro.
Roberto
Cláudio, que foi prefeito de Fortaleza de 2013 a 2020, faz parte do núcleo duro
do PDT no Ceará e era o nome preferido do presidenciável Ciro Gomes (PDT) para
a sucessão. Ele enfrenta resistências em parte do PT, que fez oposição à sua
gestão na capital cearense.
Também
disputavam a indicação no PDT os deputados Mauro Benevides Filho e Evandro
Leitão, mas ambos retiraram a postulação nesta segunda-feira, antes da votação
no diretório.
Presidente
estadual do PDT, o deputado federal André Figueiredo disse que escolha de
Roberto Cláudio, apesar de não ter sido consensual, aconteceu de forma
transparente e democrática.
O
embate entre PT e PDT acontece nas vésperas das convenções partidárias e põe em
xeque a aliança entre os dois partidos no Ceará, que começou a enfrentar
desgastes no estado a partir da escalada de críticas de Ciro Gomes ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Aliados
ou com candidaturas separadas, os dois partidos terão como desafio enfrentar o
deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), que é favorito na disputa
estadual e deve concorrer com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Com
convenção marcada para 24 de julho, o PT definirá nos próximos dias se continua
aliado ao PDT ou lança candidato próprio ao governo.
Em
pesquisas internas, foram testados os nomes dos deputados federais José
Guimarães, José Airton Cirilo e Luizianne Lins. Mas também são opções para
sucessão nomes fora do radar como os deputados estaduais Augusta Brito, Elmano
de Feitas e Fernando Santana.
Ainda
há uma possibilidade de apoio a uma candidatura ao governo do ex-senador
Eunício Oliveira (MDB), inimigo declarado de Ciro Gomes. O emedebista adiantou
que não vai apoiar Roberto Cláudio e não descarta embarcar no palanque de
Capitão Wagner.
A
reportagem apurou que a decisão de manter a aliança ou lançar candidato próprio
será de Camilo Santana, que tem o aval de Lula para fazer o arranjo que for
mais conveniente ao partido no Ceará.
Em
uma rede social, Camilo disse lamentar que Izolda tenha sido preterida:
"Lamento muito que a primeira mulher governadora do Ceará não poderá
concorrer à reeleição, após decisão do PDT".
O
PT, por sua vez, classificou a negativa de reeleição da governadora de
"triste espetáculo de constrangimento público da primeira mulher a chegar
ao governo do estado".
"A
negação do seu direito à reeleição, pelo seu partido, ficará registrada com uma
triste página na história política do Ceará", informou o partido.
Izolda
foi vice-governadora por sete anos e secretária estadual de Educação. Apesar de
filiada ao PDT, tem trajetória próxima ao PT em Sobral, berço político dos
irmãos Ferreira Gomes. O marido de Izolda, Veveu Arruda (PT), foi prefeito da
cidade de 2011 a 2017 com o apoio de Ciro.
Após
a votação desta segunda-feira, Izolda disse que o PDT barrou o seu direito de
concorrer à reeleição, mas que respeita a decisão.
A
deputada federal Luizianne Lins (PT) se solidarizou com a governadora e disse
que ela foi vítima de "violência de gênero" ao ser preterida para a
reeleição. Ex-prefeita de Fortaleza e com relação conflituosa com os Ferreira
Gomes, Luizianne faz parte do grupo que candidatura própria do PT ao governo.
O
deputado José Airton Cirilo (PT) afirmou nesta terça (19) que a decisão do PDT
fortalece a tese da candidatura própria do PT e de "construção de um
palanque leal a Lula no Ceará".
Dentro
do PDT, a escolha do candidato para a sucessão é tratada como um assunto
interno do partido. Roberto Cláudio disse que vai procurar Camilo Santana e
dialogar para manter a aliança com o PT.
André
Figueiredo também disse que o PDT segue aberto ao diálogo: "Não sendo
possível, é um direito dos outros partidos lançarem candidaturas próprias. Nós
vamos à luta".
O
presidenciável Ciro Gomes e seu irmão, o senador Cid Gomes, não falaram
publicamente sobre a decisão o PDT do Ceará.
Há
dez dias, em entrevista ao Avesso Podcast, Ciro Gomes suscitou dúvidas sobre a
fidelidade de Camilo Santana ao seu grupo político e atribuiu a Lula o impasse
no Ceará.
"Lula
é tão irresponsável que está lá se acertando com Eunício e já pegou o governador
de lá [do Ceará] --já prometeu que vai ser ministro-- que era nosso aliado, ou
é nosso aliado. Ainda não sei direito como é que vai desdobrar isso lá. Está lá
a confusão danada produzida pelo Lula", disse.
A
candidatura de Ciro Gomes ao Planalto enfrenta isolamento e tem palanques
estaduais fragmentados e dissidentes que devem apoiar Lula. Em campos opostos
na eleição presidencial, PT e PDT devem se aliar em três estados: Rio Grande do
Norte, Santa Catarina e Piauí.
Com informações da folha de São Paulo
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